Baixa representação feminina na política é efeito de machismo instuticionalizado, diz Fátima Pacheco Jordão

02 de dezembro, 2016

Especialista em estudos de gênero e em pesquisas de opinião vê momento difícil para as mulheres, mas acredita haver espaço para o Brasil dar um salto na participação feminina na política

(Instituto Teotônio Vilela, 02/12/2016 – acesse no site de origem)

Um dos temas de maior debate público no Brasil de 2016 é a diferença de gênero. Seja nas redes sociais, seja na academia, seja no Parlamento, a desigualdade entre homens e mulheres foi assunto que mobilizou argumentos e paixões, em pontos que vão desde questões salariais e direitos econômicos à legalização do aborto e o combate à cultura do estupro. E como não podia deixar de ser, também ficou sob holofote a participação e a representação das mulheres na política nacional.

“É um momento muito difícil para as mulheres na política e no poder”, avalia Fátima Pacheco Jordão, socióloga e especialista em estudos de gênero e em pesquisas de opinião pública. No Brasil, a representação das mulheres na política não tem acompanhado os avanços conquistados em outros setores da sociedade, como no mercado de trabalho e, sobretudo, na educação. Hoje, o número de mulheres no ensino superior supera o de homens. Já o resultado da última eleição municipal é revelador da sub-representação política das mulheres, que somam 50,5% da população brasileira: dos 5.568 municípios brasileiros, elas vão administrar a partir de 2017 apenas 638, o equivalente a 11,5% do total de prefeituras.

Em entrevista ao Portal do ITV, Fátima Pacheco Jordão explica as razões desse abismo e apresenta os obstáculos enfrentados pelas mulheres para atuar na política brasileira. “São Paulo, com 645 municípios, tem 150 Delegacias de Defesa da Mulher. Então, de fato há uma resistência institucional dos poderes políticos estabelecidos do Brasil, que, mais do que masculinos, são machistas.”

A socióloga analisa também a derrota de Hilary Clinton na eleição presidencial dos Estados Unidos como um retrocesso da liderança política feminina e considera à crise econômica, que tem levado a um sentimento geral de insegurança, um dos principais responsáveis pelo retardamento da questão da mulher no mundo.

Apesar do cenário instável e pouco animador para as mulheres, Fátima Pacheco Jordão é otimista em relação ao Brasil. Para ela, o contexto é favorável para que o país dê um salto no que diz respeito à representação da mulher na política. As novas legislações, o acesso à informação e as redes sociais são as plataformas dessa mudança.

Mas ainda há muito o que fazer. A socióloga apresenta o resultado de um estudo recente, realizado em todo o país, sobre a imagem que a população faz do político brasileiro: “Ele é branco, ele é homem, ele é mais velho, tem cabelos grisalhos, ele tem família, tem filhos e ele tem uma amante”, revela Fátima Pacheco Jordão. “Isso é pesquisa, isso não é piada.”

Confira aqui a íntegra da entrevista

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