Dúvidas sobre a zika levarão anos para serem solucionadas, segundo OMS

14 de dezembro, 2016

O mundo levará vários anos para obter respostas para as múltiplas incógnitas científicas sobre a epidemia da zika e os devastadores efeitos neurológicos que a doença provoca, segundo a OMS, que apesar disso retirou o status de emergência de saúde de alcance internacional.

(Terra, 14/12/2016 – acesse no site de origem)

“Há muitas coisas que não sabemos e que não saberemos a curto prazo. Passarão vários anos até que possamos ter respostas para todas as dúvidas. É uma agenda de longo prazo”, sentenciou publicamente Pete Salama, diretor de Emergências da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Há um ano, o mundo médico e científico disparou os alarmes por causa do surgimento de um surto de zika no Nordeste do Brasil e, paralelamente, devido a um aumento extraordinário de casos de microcefalia e outras más-formações congênitas em recém-nascidos.

Os especialistas do Comitê de Emergências da OMS decidiram no dia 1º de fevereiro de 2016 declarar emergência justamente para tentar explicar esse aumento repentino de desordens neurológicas e a relação aparente, mas não confirmada, com a infecção por zika.

Uma vez determinada e comprovada tal causa-efeito, foi retirada a classificação de “urgente”, apesar de não se saber por que alguns recém-nascidos e alguns adultos sofrem desordens e outros não.

Desde que foi descoberto em Uganda em 1947 e até poucos anos atrás, o vírus da zika parecia inofensivo, visto que só tinha efeitos leves e em 75% dos casos era inclusive assintomático.

Por outro lado, desde 2015 69 países declararam ter transmissão ativa do vírus e 58 registraram focos importantes.

Deles, 28 nações compatibilizaram casos de microcefalia e outras más-formações congênitas – nenhum com a proporção do Brasil – e 19 países registraram uma incidência maior de casos de Síndrome de Guillain-Barré (SGB), uma resposta imunológica que provoca paralisias de órgãos, incluindo os pulmões.

O vírus é transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, também transmissor de dengue, febre amarela e chicungunha, todos da família flavivirus.

Uma das incógnitas é se uma infecção prévia com alguma destas doenças tem alguma relação com o desenvolvimento de efeitos perniciosos ou não.

Outro possível cofator seria um elemento ambiental desconhecido; ou também uma possível mutação da cepa do vírus que modificou seus efeitos.

A primeira epidemia que se tem notícia aconteceu em 2007 na Micronésia, mas não foram detectadas consequências perniciosas.

No entanto, em 2013 houve um surto na Polinésia Francesa e, em retrospectiva, se pôde comprovar que as infecções por zika provocaram microcefalia e SGB.

Outra grande incógnita que gera grande preocupação é o fato de que se detectou que alguns recém-nascidos não sofrem microcefalia ao nascer, mas a desenvolvem posteriormente.

Além disso, teme-se que alguns fetos tenham podido sofrer má-formação cerebral, mas que esta se desenvolva depois de alguns anos.

Outro aspecto inquietante é que parece que o vírus pode se manter nos fluidos corporais durante meses, com a possibilidade de infecção a longo prazo em casais sexuais.

De fato, no último ano foram registradas infecções por transmissão sexual em 12 países.

Faltando tratamento específico, o foco está no desenvolvimento de uma vacina, e apesar de haver várias em desenvolvimento nenhuma poderá ser comercializada dentro de vários anos.

Enquanto isso, a OMS estabelece um grupo de analistas para continuar monitorando a epidemia e seus efeitos, e insistir especialmente na pesquisa, de forma sustentada e a longo prazo.

No entanto, os países mais afetados, e especialmente o Brasil – que segue definindo a epidemia como uma emergência -, temem que os poucos fundos disponíveis para pesquisa acabem desaparecendo.

De fato, apesar de que durante nove meses a epidemia foi considerada uma emergência internacional, só se obteve menos da metade dos US$ 112 milhões solicitados pela OMS para a resposta ao surto.

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