Leia íntegra do discurso de Angela Davis na marcha das mulheres contra Donald Trump

24 de janeiro, 2017

Ato reuniu cerca de 750 mil pessoas na capital dos EUA, além de 4 milhões em várias cidades do mundo

(Brasil de Fato, 24/11/2016 – acesse no site de origem)

No último sábado (21), cerca de 4 milhões de pessoas, em diversos países, participaram das marchas de mulheres por justiça social, igualdade de gênero e contra o avanço conservador no mundo, sintetizado na figura de Donald Trump, agora presidente dos Estados Unidos. A principal manifestação foi realizada em Washington, capital dos EUA, onde cerca de 750 mil pessoas se reuniram no mesmo local onde, no dia anterior, havia sido realizada a cerimônia de posse de Trump.

Entre as personalidades que participaram e discursaram no ato em Washington está a filósofa e ativista feminista Angela Davis, conhecida por ter sido uma das lideranças do Partido Comunista norte-americano e por sua militância no movimento por direitos civis no anos 1960, assim como por sua luta pública contra o racismo, o machismo e a desigualdade econômica e social nos EUA desde então.

Leia abaixo a íntegra do discurso de Davis, traduzido para o português por Juliana Borges:

“Em um momento histórico desafiador, vamos nos lembrar de que nós somos centenas de milhares, milhões de mulheres, pessoas transgênero, homens e jovens que estão aqui na Marcha das Mulheres. Nós representamos forças poderosas de mudança que estão determinadas a impedir as culturas moribundas do racismo e do hetero-patriarcado de levantar-se novamente.

Nós reconhecemos que somos agentes coletivos da história e que a história não pode ser apagada como páginas da internet. Sabemos que esta tarde nos reunimos em terras indígenas e seguimos a liderança dos povos originários que, apesar da massiva violência genocida, nunca renunciaram à luta pela terra, pela água, pela cultura e pelo seu povo. Nós saudamos hoje, especialmente, o Standing Rock Sioux.

A luta por liberdade das pessoas negras, que moldaram a natureza deste país, não pode ser apagada com a varredela de uma mão. Nós não podemos esquecer que vidas negras importam. Este é um país ancorado na escravidão e no colonialismo, o que significa, para o bem ou para o mal, a real história de imigração e escravização. Espalhar a xenofobia, lançar acusações de assassinato e estupro e construir um muro não apagarão a história.

Nenhum ser humano é ilegal!

A luta para salvar o planeta, interromper as mudanças climáticas, para garantir acesso à água das terras do Standing Rock Sioux, a Flint, Michigan, a Cisjordânia e Gaza; a luta para salvar nossa flora e fauna, para salvar o ar – este é o ponto zero da luta por justiça social.

Esta é uma Marcha das Mulheres e ela representa a promessa de um feminismo contra o pernicioso poder da violência do Estado. E um feminismo inclusivo e interseccional que convoca todos nós à resistência contra o racismo, a islamofobia, o anti-semitismo, a misoginia e a exploração capitalista.

Sim, nós saudamos o ‘Fight for 15’ [luta por salário mínimo de 15 dólares por hora nos EUA]. Dedicamos nós mesmas para a resistência coletiva. Resistência aos bilionários exploradores hipotecários e gentrificadores. Resistência à privatização do sistema de saúde. Resistência aos ataques contra muçulmanos e imigrantes. Resistência aos ataques contra as pessoas com deficiência. Resistência à violência do Estado perpetrada pela polícia e por meio da indústria do complexo prisional. Resistência à violência de gênero institucional e doméstica, especialmente contra mulheres trans negras.

Direitos das mulheres são direitos humanos em todo o planeta. E é por isso que nós dizemos ‘Liberdade e Justiça para a Palestina!’. Nós celebramos a iminente libertação de Chelsea Manning e Oscar Lopez Rivera. Mas também dizemos ‘Liberdade para Leonard Peltier! Liberdade para Mumia Abu-Jamal! Liberdade para Assata Shakur!’

Nos próximos meses e anos nós estamos convocadas a intensificar nossas demandas por justiça social e nos tornarmos mais militantes em nossa defesa das populações vulneráveis. Aqueles que ainda defendem a supremacia masculina branca e hetero-patriarcal devem ter cuidado!

Os próximos 1.459 dias da gestão Trump serão 1.459 dias de resistência: resistência nas ruas, nas escolas, no trabalho, resistência em nossa arte e em nossa música.

Este é só o começo. E termino nas palavras da inimitável Ella Baker: ‘Nós que acreditamos na Liberdade não podemos descansar até que ela seja alcançada!’ Obrigada.”

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