Expectativa de vida de uma mulher trans não ultrapassa os 35 anos na América Latina, alerta ativista

30 de maio, 2017

Karla Avelar, ativista salvadorenha indicada ao Prêmio Martin Ennals. Foto: COMCAVIS TRANS

Karla Avelar, ativista salvadorenha indicada ao Prêmio Martin Ennals. Foto: COMCAVIS TRANS

Entre os finalistas do Prêmio Martin Ennals para Defensores dos Direitos Humanos, a salvadorenha Karla Avelar se destaca pelo ativismo em prol do acesso à saúde para pessoas vivendo com HIV. Mulher, trans e portadora do vírus, a militante defende há mais de 20 anos os direitos de indivíduos LGBTI. Iniciativas lideradas pela ativista incluem promoção da saúde e do acesso à justiça para vítimas de discriminação.

(Nações Unidas, 30/05/2017 – Acesse o site de origem)

Em 1996, Karla foi uma das fundadoras da primeira associação de transexuais de El Salvador. Doze anos depois, ela fundou a primeira organização de mulheres trans vivendo com HIV, a COMCAVIS TRANS — sigla para Comunicando e Capacitando as Mulheres Trans, em tradução livre para o português. A instituição trabalha para expandir a prevenção do HIV e o fornecimento de cuidados de saúde associados ao vírus. Outra frente de atuação é a promoção do atendimento para pessoas privadas de liberdade.

“Diariamente, as pessoas lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros e inters estão expostas a ameaças de morte, extorsão, assédio, violência física e verbal e discriminação por causa de nossa identidade de gênero ou orientação sexual”, afirma Karla. “Esta situação nos torna vulneráveis ao HIV.”

Entre as ações promovidas pela COMCAVIS TRANS, estão campanhas de educação, bem como iniciativas para incentivar a realização do teste de HIV. Segundo Karla, a organização promove treinamentos em saúde sexual e reprodutiva para indivíduos LGBTIs e programas de conscientização sobre direitos humanos e zero discriminação para funcionários dos sistemas carcerários.

Em El Salvador, a população LGBTI continua sendo vítima do preconceito e da violência, um cenário agravado pelos altos níveis de impunidade e pelo acesso limitado à justiça. “El Salvador é um país com uma das maiores taxas de violência na América Latina e, como é o caso em toda a região, a expectativa de vida de uma mulher trans não ultrapassa os 35 anos”, conta a ativista.

Karle defende os direitos de pessoas LGBTI há mais de 20 anos. Foto: COMCAVIS TRANS

Karle defende os direitos de pessoas LGBTI há mais de 20 anos. Foto: COMCAVIS TRANS

Karla ajuda indivíduos que sofreram violações de direitos humanos. Com sua equipe e um grupo de voluntários, a milita oferece aconselhamento e os acompanha para prestar queixa. Com a colaboração de outras organizações, ela garante que as pessoas mais pobres tenham um canal aberto para assistência jurídica e econômica.

“Ainda há muitas barreiras”, diz. “No entanto, estamos promovendo um diálogo com representantes da Polícia Civil Nacional e do Escritório do Conselho Nacional dos Direitos Humanos e outras autoridades para melhorar os mecanismos de denúncia e investigação de violações de direitos humanos e assegurar um monitoramento e avaliação adequados e continuados.”

Karla também desempenhou um papel significativo na defesa de reformas legislativas para proteger os direitos das pessoas LGBTI. Por exemplo, em parceria com o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS) e outras organizações nacionais, ela participou da revisão de uma lei de HIV aprovada em janeiro passado.

A nova legislação permitirá melhorar o acesso de transexuais à saúde, garantindo que as redes de atendimento sejam livres de estigma e discriminação.

UNAIDS elogia engajamento e reconhecimento da sociedade civil

Por ocasião da indicação de Karla Avelar para o Prêmio Martin Ennals para Defensores dos Direitos Humanos, o UNAIDS reitera que trabalha com seus parceiros para reafirmar o usufruto de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais como motor da resposta global à epidemia de HIV.

A agência lembra ainda que as pessoas trans estão entre os segmentos demográficos considerados chave no combate ao vírus. Apesar de representarem de 0,1 a 1,1% da população mundial, estimativas indicam que 19% das mulheres trans vivem com HIV. Globalmente, 61% dos programas nacionais de resposta à AIDS não incluem pessoas trans, e 57 países ainda criminalizam ou perseguem transgêneros. O público trans tem 49 vezes mais probabilidades de contrair HIV do que todos os adultos em idade reprodutiva.

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