No seu lugar, mocinha

12 de julho, 2017

Aos 27 anos, Sâmia Bomfim, a mais jovem vereadora de São Paulo na história, diz cumprir um mandato feminista e fala de temas importantes para a sociedade, mas luta para ser ouvida

(Revista Trip, 12/07/2017 – acesse no site de origem)

Uma hora antes do horário combinado, a assessora de Sâmia Bomfim avisa que o encontro com a Tpm terá de ser remarcado. A vereadora estava doente em casa, sem voz e com febre. Ela havia trabalhado até às 3h30 da manhã na noite anterior, em uma sessão extraordinária realizada para a votação do Projeto de Lei de concessão do Estádio do Pacaembu. O PL é parte do projeto de desestatização de bens públicos do prefeito de São Paulo, João Doria, e foi aprovado com 37 votos a favor, dez contra e uma abstenção. Os vereadores, 55 no total, não são obrigados a ficar até o final dessas sessões – eles podem assinar presença e ir embora, ou faltar e ter um desconto no salário. Para Sâmia, esse é um tema importante e ela queria declarar sua posição contrária. Era 29 de junho e, na mesma noite, ocorreu uma audiência pública para o Dia Internacional do Orgulho LGBT, a primeira na história da Câmara para discutir esse tema, organizada por ela junto à Comissão de Direitos Humanos. Foram 19 horas de trabalho e a vereadora acredita que a energia pesada do plenário contribuiu mais com a sua queda de resistência do que o cansaço físico.

Sâmia nasceu em Presidente Prudente, a 560 quilômetros da capital paulista, e é formada em letras pela USP, onde começou a militar nos movimentos estudantis e se descobriu feminista depois de ser ofendida e levar um soco na cara de um militante de esquerda. Hoje, ouve cantadas no elevador ou pelos corredores da Câmara. Porém, quando sobe no plenário e levanta a voz no microfone para falar de temas como melhorias no atendimento às mulheres vítimas de violência, veto ao aumento do salário dos vereadores, oportunidades de trabalho para pessoas trans, vê que os mesmos homens não têm interesse em escutar o que ela está propondo – e, muitas vezes, nem mesmo as outras dez vereadoras eleitas.

Sâmia Bonfim em sessão na Câmara (Foto: Divulgação)

No 15M, 15 de março de 2017, dia da paralisação nacional contra as reformas e contra o Governo Temer

No 15M, 15 de março de 2017, dia da paralisação nacional contra as reformas e contra o Governo Temer (Foto: Pedro Maia / Equipe Sâmia)

Em visita à Casa de Passagem Rosângela. Todas as vereadoras da CPI da Vulnerabilidade da Mulher estiveram presentes visitando o equipamento público da rede de enfrentamento à violência contra a mulher

Em visita à Casa de Passagem Rosângela. Todas as vereadoras da CPI da Vulnerabilidade da Mulher estiveram presentes visitando o equipamento público da rede de enfrentamento à violência contra a mulher (Foto: Pedro Maia / Equipe Sâmia)

Em junho, ao lado de Fernando Holiday, na Audiência Pública sobre a Cracolândia

Em junho, ao lado de Fernando Holiday, na Audiência Pública sobre a Cracolândia (Foto: Pedro Maia / Equipe Sâmia)

Seus votos estavam concentrados na “bolha da zona oeste” de São Paulo, mas suas propostas não ficam só nela. Por que isso aconteceu? Acho que tive mais votos ali porque são lugares de debates e reflexão da classe média universitária, como eu. E tem a ver com o perfil do PSOL e o espaço que sobra para a esquerda nesse momento de construção de uma alternativa. Hoje, quem chega às periferias são as igrejas evangélicas, quem têm pautas mais conservadoras. O PSOL precisa ir para esses lugares se quiser ser um partido grande. É mais fácil ir para a classe média, mas esse voto de opinião é muito incerto. Precisamos estar mais na periferia e fazer com que o povo se sinta representado.

Em campanha pela Greve Geral do dia 28 de Abril de 2017

Em campanha pela Greve Geral do dia 28 de Abril de 2017 (Foto: Pedro Maia / Equipe Sâmia)

Em entrevista durante a Greve Geral de 28 de Abril de 2017

Em entrevista durante a Greve Geral de 28 de Abril de 2017 (Foto: Pedro Maia / Equipe Sâmia)

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