Rotina de violência na rua e dentro de casa

25 de setembro, 2017

Levantamento do Núcleo de Dados do GLOBO revela regiões do Rio com maiores taxas de crimes contra mulheres

(O Globo, 25/09/2017 – acesse a íntegra no site de origem)

O calvário da carioca Maria de Fátima Lima começou quando a massoterapeuta de 56 anos decidiu defender uma criança agredida no apartamento ao lado do seu, na Zona Sul do Rio. Ao confrontar o agressor, o próprio vizinho, Maria de Fátima levou vários socos no rosto.

— Entrei em depressão, perdi meu apartamento e morei nas ruas. A sorte é que tive amigos que me ajudaram, encontrei atendimento, e sinto que hoje, anos depois, estou me reerguendo.

Usando um maiô estampado com “feminista”, a estudante Elizabeth Heschel, de 24 anos, pulava o carnaval no Centro do Rio, a 13 km do apartamento de Maria de Fátima, quando foi assediada na rua em fevereiro. Indignada, Elizabeth reagiu e, em resposta, levou também socos. O agressor chegou a ser detido em um primeiro momento, mas foi liberado em seguida, enquanto a estudante passou a conviver por meses com um nariz fraturado e a respiração comprometida.

— Passei duas semanas sem sair de casa e nunca mais voltei ao mesmo lugar. Tive que dedicar um bom tempo correndo atrás de processo, provas, laudos e exames. Imagino que o agressor nunca tenha feito absolutamente nada em relação a isso.

Dentro de casa ou nas ruas, em todos os dias de 2016 ao menos 51 mulheres passaram por situações semelhantes, somente na cidade do Rio de Janeiro. Em apenas um ano, a capital fluminense registrou, em média, o equivalente a uma denúncia de violência física e sexual a cada meia hora. São casos de estupro, lesão corporal, homicídio doloso e tentativas desses crimes, além de assédio e importunação ofensiva ao pudor.

Com base no Dossiê Mulher divulgado pelo Instituto de Segurança Pública (ISP) em agosto, que detalha violências contra mulheres no estado, o Núcleo de Dados do GLOBO revela quais são as regiões da cidade do Rio com as maiores taxas de registros de crimes por habitantes ocorridos contra as mulheres, tanto no espaço público quanto na própria residência da vítima.

Violência na rua

O levantamento agrupou registros de cada delegacia, somou ocorrências, nos casos dos bairros que contam com mais de uma unidade de atendimento, e calculou taxas de violência para cada 10 mil habitantes.

Na cidade, foram registrados 6.599 crimes contra mulheres em ruas, locais públicos abertos e fechados, veículos e no transporte público no ano passado. Os dados mostram que as áreas centrais do Rio, região de grande circulação de pessoas e atendida por quatro delegacias — que compreende, além do Centro, Cidade Nova, Lapa, Estácio, Saúde, Paquetá, Rio Comprido, Santo Cristo e Gamboa —, concentram as maiores taxas de violência nesses espaços. No ano passado, foram 31 ocorrências para cada 10 mil habitantes, enquanto a média da cidade é de 10 casos. Em seguida, no topo do ranking, estão as regiões atendidas pelas delegacias de São Cristóvão (15 denúncias) e de Madureira e Marechal Hermes (13), ambas na Zona Norte.

Entre os bairros com menores taxas de violência na rua, estão o Complexo do Alemão (2,6 casos), Vila Isabel (5,2) e Pavuna (5,9).

Marlen Couto e Gisele Barros

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