Medo e vergonha fazem com que só 10% dos estupros sejam notificados

05 de setembro, 2018

Pesquisador ainda aponta que descrença nas autoridades e possíveis maus tratos de policiais em delegacias desestimulam as mulheres a denunciar

(R7, 05/09/2018 – acesse no site de origem)

Com base em estudos internacionais, adaptados à realidade brasileira, pesquisadores do Atlas da Violência do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) acreditam que entre 10% e 15% dos casos de estupros são reportados às autoridades e entram para as estatísticas do crime no país.

Mesmo com o baixo número de notificações, os dados do 12º Anuário Brasileiro de Segurança Pública apontam que no ano passado as polícias registraram 49.497 casos de estupro e o SUS (Sistema Único de Saúde) contabilizou 22.918 casos. A estimativa dos pesquisadores do Atlas é que o número, caso fossem todos notificados, seriam em torno de 300 mil e 500 mil.

Segundo o pesquisador do Ipea Helder Rogério Sant’ana Ferreira, um dos autores do Atlas da Violência, o medo de represálias em casos que o agressor é conhecido, a vergonha, descrença nas investigações e resolução dos crimes e possíveis maus atendimentos policiais são alguns dos motivos do alto número de casos não notificados.

Ele afirma que a divulgação de dados, conversas com especialistas e outras medidas podem estimular as mulheres a denunciar caso sofram violência sexual. “Tem também o papel das famílias e das escolas, já que abordando mais a questão da vida sexual, vitimização, e trazer essa questão para discussão pode ser um fator que ajude nas notificações”.

O pesquisador ainda destaca que “quanto menos a gente considerar o sexo um tabu, quando mais se falar, mais é importante para as crianças também saberem o que é a violência sexual”.

Conforme os dados do FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública), em 2017 houve um aumento de 8,4% em relação ao ano anterior, passando de 54.968 para 60.018. O número corresponde a um caso de estupro registrado no país a cada nove minutos.

Os números também foram compilados pelo Instituto Patrícia Galvão, que junta e divulga informações na plataforma digital “Violência contra as Mulheres em Dados”. O dossiê reúne pesquisas e dados relacionados às violências contra as mulheres no Brasil, com foco na violência doméstica, sexual e online, além de feminicídios.

Kaique Dalapola

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