Educação 360: Debate por igualdade de gênero nas ciências tem exemplos de brasileiras

26 de novembro, 2018

Encontro contou com presença de cinco mulheres que lutam por melhores condições no campo da pesquisa

( O Globo, 26/11/2018 – acesse no site de origem)

A desigualdade na participação de homens e mulheres na ciência é antiga e notória, mas quais suas raízes e como combatê-la? Foi para discutir essa questão que o Educação 360 STEAM reuniu cinco mulheres com exemplos concretos de luta pela equidade de gêneros na área das exatas.

A mesa “Mulheres em STEAM”, realizada na tarde de hoje, no Museu do Amanhã, no Rio, mostrou com dados as dificuldades por que passam as profissionais e acadêmicas do sexo feminino: elas são apenas 30% dos cientistas no mundo e meros 3% dos vencedores do Prêmio Nobel; apenas 20% das bolsas de pesquisa no Brasil são de mulheres; 60% das que trabalham no mercado de tecnologia já sofreram assédio.

A partir de suas experiências, as convidadas mostraram como superar os obstáculos impostos desde cedo às mulheres que pretendem seguir carreira científica.

Joana D’Arc Félix de Sousa, química pesquisadora, especialista do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) e Personalidade 2017 do Prêmio Faz Diferença, concedido pelo Jornal O GLOBO, falou de sua experiência com redução das desigualdades através da educação científica.

Professora de uma escola técnica na periferia de Franca (SP), ela decidiu dar bolsas de iniciação científica aos alunos envolvidos com o tráfico e a prostituição. Eles trabalharam com curtimento de couros variados num esquema caseiro e não poluente.

– Vencermos na vida independe da nossa origem. Passei fome, passei necessidade, mas, com muito esforço, é possível vencer. Investir na educação científica é peça-chave para uma sociedade mais humana e democrática.

Ela também se manifestou contra o que considera “vitimismo” e disse que ser alvo de preconceito, como ela foi, pode ser uma ferramenta poderosa para a formação de cérebros pensantes.
A diretora da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Márcia Barbosa, mostrou que a participação das mulheres na áreas exatas é relativamente equilibrada até a graduação, mas despenca nos níveis educacionais posteriores.

– As mulheres vão sendo tesouradas quando vão para o doutorado e para a carreira profissional – disse Márcia, também professora de Física da UFRGS.
Citando estudo de Princeton com 400 crianças, ela afirmou que essa cultura da iniquidade de gêneros começa na infância, na escola.

– À medida que a criança socializa, ela aprende que meninos são inteligentes, meninas são esforçadas. Quanto mais inteligente é a menina, mais ela foge da área de ciências.

Entre as medidas para combater a desigualdade, ela citou a conquista da licença-maternidade para bolsistas do CNPq e a criação de um Código de Ética e de Conduta para inibir assédios nas universidades.

– Diversidade é bom não só porque é mais justo, democrático. É bom porque faz uma ciência melhor – disse Márcia.

Amalia Fischer, CEO do Elas Fundo de Investimento Social, falou sobre o programa de gestão escolar para equidade nas exatas e apontou outro problema que leva à escassez de mulheres nas ciências: a violência e o assédio contra as mulheres.

– Equidade de gênero não é mimimi. É um problema sério, que tem impacto econômico e social, que resulta em violência contra a mulher e precisa ser combatido.

Outro exemplo de combate à desigualdade foi dado por Danielle Nunes, gerente de comunicação corporativa da L’Oréal. Ela falou sobre o programa Para Mulheres na Ciência, criado pela empresa há 29 anos e que foi o primeiro dedicado a mulheres cientistas no mundo — e o único no Brasil.

Com sete vencedoras por ano, que fazem jus a uma bolsa de R$ 50 mil, o prêmio já contemplou 89 cientistas com mais de R$ 4 milhões em bolsas.

– A situação atual indica que há um desequilíbrio muito grande. Mais mulheres na ciência é do interesse de todos – disse Danielle.

Já a gerente de design educacional do MundoMaker, Juliana Ragusa, citou sua experiência na criação de um espaço maker em uma escola pública de São Paulo.

– Estamos na transição de uma sociedade industrial para uma criativa. Precisamos oferecer oportunidades para que as meninas se descubram. Que cada uma se veja como uma célula local, capaz de contaminar outras.

O Educação 360 STEAM é uma realização dos jornais O GLOBO e Extra, com patrocínio de Sesi, Instituto Unibanco, Colégio pH e Fundação Telefônica Vivo, apoio de L’Oréal Brasil e apoio institucional de Revista Galileu, site TechTudo, TV Globo, Canal Futura, Unicef e Unesco.

Por Marco Aurélio Canônico

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