A cor do trabalho

07 de janeiro, 2019

Empresas se beneficiam com mais negros em cargos-chave, mas isso diminui o racismo estrutural?

(UOL, 07/01/2018 – acesse a íntegra no site de origem)

É possível que nada seja mais revelador sobre a desigualdade no Brasil que a maneira como o mercado lida com cor e gênero: um cargo qualquer pode exigir ou não diploma universitário, mas é estatisticamente certo que o trabalho de uma mulher negra irá valer menos da metade que o de um homem branco.

Esses preconceitos e privilégios implícitos no nosso racismo estrutural foram constatados em estudos como “Mulheres e trabalho: breve análise do período 2005-2015”, feito pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). A pesquisa mostrou que, enquanto as negras tiveram salário médio de R$ 1.027,50, os brancos ganharam mensalmente R$ 2.509,70. Outro levantamento, este publicado em 2018 pelo Instituto Locomotiva, aponta que a renda média de mulheres negras com ensino superior é de R$ 2.918, enquanto homens brancos com o mesmo nível de graduação recebem R$ 6.702.

O desequilíbrio desse mercado brasileiríssimo da Silva chega a seu extremo quando se fala de cargos de liderança. É o que mostra a pesquisa “Perfil Social, Racial e de Gêneros das 500 Maiores Empresas do Brasil e suas Ações Afirmativas”, feita pelo Instituto Ethos em parceria com o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e divulgada em 2016. “Apenas 4% dos chefes são negros nas maiores empresas do Brasil, e esse número cai ainda mais quando diz respeito às mulheres negras”, afirma Amailton Azevedo, professor do Departamento de História da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) – segundo o estudo, só 0,4% dos quadros executivos são ocupados por negras.

“A mulher negra está na base da pirâmide social. Por isso, a gente diz que quando ela se move, ela move toda a pirâmide e, ao fazer isso, desequilibra tudo”, afirma Cida Bento, psicóloga social, coordenadora-executiva do CEERT (Centro de Estudos das Relações do Trabalho e Desigualdades) e integrante do Fórum Permanente pela Igualdade Racial e da Articulação de Mulheres Negras Brasileiras. “E há uma reação muito forte aos movimentos que a mulher negra vem fazendo”, completa a psicóloga, sobre a resistência para mudar esse quadro.

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