Jornal Nacional destaca dependência financeira como obstáculo para mulheres denunciarem agressor

23 de janeiro, 2019

De cada quatro mulheres agredidas, uma não denuncia o agressor porque depende financeiramente dele. Transpor essa barreira é uma das maiores dificuldades.

(Jornal Nacional, 23/01/2019 – acesse no site de origem)

Não dá para revelar muito sobre esta mulher. Depois de duas décadas sofrendo violência doméstica, ela conseguiu uma decisão que impede o marido de se aproximar. E ele não pode saber onde ela vive e trabalha.

“Ele tinha uma possessão, ele não permitia eu ter contato com a minha família. A tortura psicológica, a violência sexual, tudo que eu passava ficava ali dentro e se eu precisasse de ajuda o agressor era o meu socorrista”, conta a vítima de violência doméstica.

Dá para dizer somente que ela conseguiu emprego em uma loja, e isso mudou a vida dela. “Hoje a minha vida está transformada. Eu posso dizer que é como se fosse um renascimento, né? Eu nasci de novo”, afirma.

A dependência financeira é um dos fatores que fazem mulheres se submeterem anos a fio a um marido violento. O programa do Ministério Público de São Paulo, em parceria com o Tribunal de Justiça, a Prefeitura e outros órgãos – criado no fim de 2018 – já conseguiu emprego para 20 mulheres e outras estão passando por processos seletivos em seis empresas.

Cada emprego livra uma mulher da violência doméstica. Se fosse só ela, já seria uma vitória. Mas os coordenadores do programa pereceram que existe um efeito multiplicador: a coragem de uma mulher desperta a coragem de outras.

“Mulheres que não entraram na empresa pelo programa conseguiram também tomar coragem para pedir ajuda para lidar com a situação que elas já vinham vivendo”, diz Aline Cardoso, secretária municipal de Desenvolvimento Econômico de São Paulo.

O diretor de recursos humanos de uma empresa que contratou sete vítimas de violência doméstica percebeu um outro fenômeno: o crescimento da solidariedade. “Elas chegam muitas vezes querendo aprender, com muita força de vontade, Mas ainda não tiveram uma oportunidade profissional. Então elas não sabem trabalhar, e as pessoas estão ajudando, tão treinando, tão ensinando e os resultados têm sido bastante positivos”, diz.

Para participar do programa, a mulher tem que procurar, primeiro, um órgão da Justiça ou o Ministério Público. Isso requer coragem, algo que esta mulher quer despertar nas outras.

“Esse emprego significa para mim cura. Esse emprego significa para mim esperança, oportunidade, vida. Alguém que acreditou em mim, alguém que ouviu a minha voz, porque não tive oportunidade de estudar, não tive oportunidade de ter experiência de trabalho, de ter uma carreira profissional, e esse emprego ele disse para mim ‘sim’, né?”, diz uma vítima de violência doméstica.

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