16/02/2012 – Uma brasileira à frente da GM argentina

16 de fevereiro, 2012

(O Estado de S. Paulo) Única menina numa família de quatro filhos, ela ouvia do pai, quando adolescente, que teria de estudar mais que os irmãos. Não porque o pai, um médico cardiologista argentino que, entre idas e vindas, está no Brasil há 34 anos, desconfiasse de sua capacidade, mas porque sabia das dificuldades enfrentadas no mercado de trabalho por profissionais do sexo feminino.

Hoje aos 40 anos, Isela Constantini, nascida na cidade de São Paulo, assume em 1.º de março a presidência da General Motors da Argentina, Uruguai e Paraguai. Será a primeira mulher a comandar essa unidade do grupo americano e a segunda no mundo. A GM do Brasil também é presidida por uma mulher, a americana Grace Lieblein.
Quando foi chamada para uma reunião com Jaime Ardila, presidente da GM América do Sul e responsável por sua indicação e a de Grace, Isela não desconfiava do tema da conversa. “Minha filha de sete anos chegou a dizer que eu provavelmente tinha feito algo errado e levaria um puxão de orelha”, diz.
Ao receber o convite, ficou pálida, engasgou e perguntou várias vezes se o chefe falava sério. “Ele me deu meio dia para pensar.” À noite, em casa, decidiu que, se conseguisse dormir tranquilamente, sem pesadelos, aceitaria o desafio.

“Acordei normalmente no dia seguinte”, diz. “A ansiedade só veio depois.”

A GM responde por 16% das vendas internas no mercado argentino, atrás da Volkswagen, com 20%. No ano passado, registrou venda recorde de 136 mil unidades. Melhorar essa participação, com resultados saudáveis, é uma das tarefas que Ardila pediu à nova presidente, que assume o lugar do também brasileiro Ricardo Rocha, designado para a GM da Coreia do Sul.
Também precisará de jogo de cintura para acompanhar o vai e vem do acordo bilateral entre Brasil e Argentina. As fábricas dos dois países são complementares, mas com frequência o comércio é interrompido por medidas protecionistas, quase sempre do lado argentino.
A executiva não se preocupa com a fama de machista dos argentinos. Diz estar habituada ao universo masculino, primeiro por causa da convivência com os irmãos, depois pelo esporte praticado quando jovem – era jogadora de futebol – e, por último, na própria carreira profissional.
Viveu cinco anos na terra dos pais, na juventude, e acha que não terá problemas em se adaptar. 

Está na GM há quase 14 anos e passou por vários cargos, incluindo o de diretora da unidade de chassi de uma fábrica no Texas. Atualmente, chefia a área de pós-vendas da filial brasileira.

Sem maquiagem, fala mansa, simpatia e disposição, ela conversou ontem com jornalistas que participavam do lançamento da nova picape S10 em Indaiatuba (SP). Bacharel em Comunicação pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná e com MBA em Marketing e Negócios Internacionais pela Loyola University Chicago, seu primeiro emprego foi em uma agência publicitária e depois na empresa de cosmético O Boticário.
Cursava o MBA nos EUA quando uma equipe da GM do Brasil foi à universidade entrevistar jovens para trabalhar no País, em novembro de 1997. Um mês depois, veio ao Brasil para outra entrevista e em fevereiro foi convidada para entrar no grupo. Isela conclui o curso e começou a trabalhar em julho, no marketing estratégico. Passou também pelos setores de planejamento, desenvolvimento de produto, manufatura, pesquisa e há um ano e meio cuida do pós-vendas.

Renascimento
Isela foi uma das responsáveis pelo renascimento do modelo Classic. Lançado em 1995, o sedã estava prestes a ser retirado do mercado. “Minha tarefa era matá-lo, mas, no processo, percebi que ele ainda tinha um papel no mercado, só precisava de algumas mudanças.” Hoje, o Classic, produzido na Argentina, é o modelo da marca mais vendido naquele país (46 mil unidades) e o segundo no Brasil (112,6 mil).
Também participou dos projetos de modelos lançados mais recentemente, como Cruze, Cobalt e a S10. Casada com Samuel Russel, também executivo da GM do Brasil, tem dois filhos – a menina de sete anos e um menino de cinco -, que vão morar com ela na Argentina. O marido irá aos finais de semana. “Na próxima semana, durante o carnaval, vou buscar escola para as crianças e, depois, uma casa.”
Grace, de 51 anos, assumiu a GM do Brasil em junho de 2011, em substituição a Denise Johnson. Antes, presidiu a filial do México por dois anos e meio. “Vou ajudar a Isela no quer for preciso”, avisa.

Leia em PDF: Uma brasileira à frente da GM argentina (O Estado de S. Paulo – 16/02/2012)

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