09/10/2011 – Não houve aumento da homofobia, mas da confiança na Justiça, analisa antropólogo

09 de outubro, 2011

(O Estado de S. Paulo) “Há uma certa sugestão no ar de que essas agressões são novidade e estão aumentando em frequência e gravidade”, escreve o antropólogo Peter Fry sobre o aumento do noticiário sobre agressões a homossexuais. Em artigo publicado no suplemento dominical Aliás, o pesquisador analisa em que medida o “processo de normalização da homossexualidade (sobretudo quando se trata de relações ditas estáveis)” tem feito com que homossexuais que são vítimas de violência tenham mais confiança para se queixar à Justiça, assim tornando mais visível a violência homofóbica. Leia trechos selecionados desse artigo:    

“Há uma certa sugestão no ar de que essas agressões são novidade e estão aumentando em frequência e gravidade; os jornais noticiam que esse ataque foi o décimo caso de agressão contra homens gays na região da Paulista desde novembro de 2010. E o Relatório Anual de Assassinato de Homossexuais de 2010 do Grupo Gay de Bahia registrou 260 assassinatos de gays, travestis e lésbicas no Brasil em 2010, 62 a mais que em 2009 (198 mortes), um aumento de 113% nos últimos cinco anos (122 em 2007).”

“A estratégia dos movimentos LGBTT de incrementar as paradas gay – sempre abertas para cada vez mais “simpatizantes” – tem sensibilizado muita gente, inclusive a administração pública e a Justiça. O governo federal promoveu o projeto Brasil sem Homofobia. Vários juízes têm dado ganho de causa a casais do mesmo sexo em situações diversas (herança, adoção, pensão) ao longo dos últimos anos, e em maio deste ano o STF aprovou por unanimidade o reconhecimento da união estável para casais do mesmo sexo. Até o voraz Leão se sensibilizou. Quando preenchi o formulário do imposto de renda neste ano vi que poderia declarar um companheiro do mesmo sexo como dependente, se ele tivesse morado comigo por cinco anos ou mais.”

“Esse processo de normalização da homossexualidade (sobretudo quando se trata de relações ditas estáveis) tem feito com que Marcos Paulo Villa, entre outros, tenham tido mais confiança para se queixar à Justiça, assim tornando mais visível a violência homofóbica. Mas a batalha está longe de ser vencida.”

“Creio que esse alto grau de incerteza apenas contribui para a homofobia e a insegurança das pessoas LGBTT. Os ativistas apostam muito na Lei de Homofobia, que assemelharia a homofobia ao racismo, impondo punições draconianas para quem manifestasse sua homofobia, seguindo o princípio cada vez mais popular, parece, de que a solução para eliminar preconceitos seja incrementar cada vez mais as punições.”

“Eles também apostam em estender todos os direitos existentes em relação aos heterossexuais para os (as) que amam pessoas do mesmo sexo. Essa é uma demanda republicana apoiada por um movimento que, ao contrário de tantos outros, se tornou inclusivo, mobilizando milhões de cidadãos de todas as persuasões eróticas e afetivas, de todas as cores, idades e classes sociais.”

Leia o artigo completo: Não foi uma briga de bar, por Peter Fry (O Estado de S. Paulo – 09/10/2011)

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