12/05/2013 – 125 anos de Abolição: Escravidão moderna mira hoje a pobreza

12 de maio, 2013

Oito em dez libertos, no entanto, ainda são pretos ou pardos

(O Globo) Eles são levados para trabalhar longe da sua terra, chegam lá com dívidas que o salário precário não consegue pagar, endividam-se ainda mais para comer. Alguns apanham. São os escravos contemporâneos. E 81% deles são “não brancos”, aponta pesquisa encomendada pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e realizada por um grupo de pesquisa da UFRJ. Segundo o estudo, que entrevistou trabalhadores em condições análogas à escravidão resgatados por operações de fiscalização do Ministério do Trabalho e do Ministério Público do Trabalho (MPT), um quinto dos resgatados é da cor preta, e 62%, pardos. Em 2012, 2.560 trabalhadores foram encontrados nessa situação no Brasil.

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— O percentual de não brancos entre os escravizados de hoje é bem maior do que aquele na população brasileira (51%), e maior até do que os de Norte e Nordeste, que têm os percentuais de não brancos mais altos no país — diz o padre e antropólogo Ricardo Rezende, do Grupo de Pesquisa Trabalho Escravo Contemporâneo (Gptec), professor da UFRJ e um dos supervisores da pesquisa, publicada em 2011.
Também o percentual de pretos é “2,5 vezes superior ao da população brasileira (6,9%)”, diz o estudo, sendo também maior do que o da Bahia (15,7%), com o maior percentual de negros no país.

— Até o século XIX, o recorte para a escravidão era a cor. Agora é a pobreza. Mas dentro dela há o recorte de cor, porque, como os negros são mais presentes na população pobre, estão mais vulneráveis a esse aliciamento — diz Rezende.
Segundo o coordenador nacional de Erradicação do Trabalho Escravo do MPT, Jonas Moreno, mais da metade dos trabalhadores resgatados nas fiscalizações é analfabeta, e sai, principalmente, do Piauí e do Maranhão.

Francisco de Assis Félix, negro e analfabeto — “além do nome, não sei nada” —, é de Barras de Maratauã, “maior exportadora de escravos do Piauí e uma das maiores do país”, diz o auditor do Trabalho Paulo César Lima, do Piauí. Félix foi escravizado no Pará:
— A gente trabalhava das 4h às 19h. Ninguém podia sair da fazenda; um que quis sair, bateram. E, para comer carne, a gente tinha que caçar tatu.
— Já encontramos comida em latas de soda cáustica e de tinta, e pessoas vivendo em barracas na floresta — lembra Roberto Ruy Rutowitcz, procurador do MPT no Pará, que defende a aprovação da PEC do Trabalho Escravo.

Professora de História da UFF, Ângela de Castro Gomes destaca o termo “trabalho escravo”, usado aqui desde os anos 70:
— Não é fortuito. Podia ser “trabalho forçado”, como usa a OIT. Mas falar “trabalho escravo” é uma metáfora que tem força, porque mobiliza a memória nacional. E uma memória ligada ao primeiro grande movimento social do país, o abolicionismo.

Acesse em pdf: 125 anos de Abolição: Escravidão moderna mira hoje a pobreza (O Globo – 12/05/2013)

Leia mais em: Lei contra trabalho degradante ganha regra (Folha de S.Paulo 12/05/2013)

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