18/08/2012 – Garotas de banda punk da Rússia são condenadas por ato contra governo

18 de agosto, 2012

(Folha de S. Paulo) Em uma decisão vista como simbólica da falta de liberdade política na Rússia, a Justiça condenou ontem três integrantes do grupo punk Pussy Riot (“Revolta da Vagina”, em inglês) a dois anos de prisão por “vandalismo motivado por ódio religioso”.
Nadezhda Tolokonnikova, 22, Maria Alekhina, 24, e Yekaterina Samutsevich, 30, estavam presas desde março, após uma performance do grupo contra o então candidato à Presidência Vladimir Putin na Catedral do Cristo Salvador, em Moscou.
No altar da igreja que é um dos símbolos da Rússia pós-soviética, as jovens com os rostos cobertos por balaclavas cantaram, em fevereiro, a música de protesto “Virgem Maria, Livrai-nos do Putin”.
A igreja ortodoxa russa é fiel aliada do governo, e a ação foi aberta pela Promotoria, ligada a Putin. “As ações das garotas foram um sacrilégio, uma blasfêmia e quebraram as regras da igreja”, disse a juíza Marina Sirov.
Presas num cubo de vidro, as jovens riram constantemente durante as três horas em que a juíza proferia o veredito. A acusação havia pedido três anos de sentença.
Nas últimas semanas, o julgamento se tornou uma causa célebre. Artistas como Madonna e Paul McCartney deram apoio às garotas.
Tão logo saiu a decisão, manifestantes em diversos locais do mundo se manifestaram, com máscaras, em apoio às integrantes do grupo. Governos de diversos países também protestaram.
Os EUA pediram que a Rússia revisasse a sentença, e a União Europeia a qualificou como “desproporcional”. A chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, se disse “decepcionada”.
Já a organização de defesa dos direitos humanos Anistia Internacional pediu que as autoridades russas anulem a sentença e liberem as jovens.
Centenas de pessoas se reuniram do lado de fora do tribunal para protestar a favor das jovens.
“Essa ação é contra a lei, é uma perseguição à juventude inteligente, progressiva e intelectual. Achar que elas precisam ser castigadas é fruto da propaganda da TV de Putin”, disse à Folha a editora de livros Maria Arkhípova, 46.
Pessoas carregando placas foram detidas e levadas em ônibus da polícia, entre elas o ex-campeão de xadrez Garry Kasparov.
Para o crítico de arte Andrei Erofeev, 56, o processo mostra uma mentalidade autoritária. “Na liderança do nosso país está um homem totalmente soviético, com uma mentalidade soviética e costumes soviéticos, que não conseguiu mudar”, afirmou.

Grupo se inspira na vertente do punk proletário
Até março deste ano, quando três de suas integrantes foram presas, a banda Pussy Riot não era muito conhecida nem na própria Rússia.
Hoje, é famosa em todo mundo e conseguiu unir, em protestos, artistas como Paul McCartney, Madonna, Bjork e Red Hot Chili Peppers.
O Pussy Riot não é só uma banda, mas um coletivo feminista, formado por cerca de 15 mulheres. Todas usam pseudônimos e escondem os rostos com máscaras coloridas.
Além das integrantes da banda, há artistas plásticas e cenógrafas, responsáveis pelo visual do grupo e de seus eventos, e equipes que filmam as performances e colocam as imagens na internet.
O Pussy Riot foi fundado em setembro de 2011, logo depois de Vladimir Putin anunciar que tentaria novamente chegar à Presidência da Rússia.
Na ocasião, uma integrante do coletivo disse à revista “Vice”: “Foi aí que percebemos que o país precisava de uma banda militante, punk-feminista, que canalizasse a energia do povo contra a junta putinista e fortalecesse a oposição cultural e política da Rússia com temas que são importantes para nós, como os direitos de mulheres e da comunidade LGBT, o conformismo masculino, a fragilidade política das cenas musical e artística e a dominação masculina em muitas áreas”.
Musicalmente, o Pussy Riot se inspira no movimento “Oi!”, vertente mais alternativa e proletária do punk inglês, surgida no fim dos anos 70.
O som é, basicamente, punk rock, com guitarras distorcidas e letras cantadas como gritos de torcidas de futebol.
Outra inspiração é o movimento feminista-musical conhecido por “Riot Grrrl”, originado nos Estados Unidos nos anos 1990 e que revelou bandas como L7 e Bikini Kill

Acesse em pdf: Garotas de banda punk são condenadas na Rússia (Folha de S.Paulo – 18/08/2012)
Grupo se inspira na vertente do punk proletário (Folha de S.Paulo – 18/08/2012)

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