22/08/2013 – Articulação de Organizações de Mulheres Negras Brasileiras exige retratação da Rede Pão de Açúcar

22 de agosto, 2013

imagempaodeacucarEm carta, organizações  filiadas da  Articulação de Organizações de  Mulheres Negras Brasileiras (AMNB) manifestam  indignação em razão de uma estátua de um menino negro, com grilhões nos pés, exposta no supermercado Pão de Açucar, no Bairro Vila Romana em São Paulo.

A AMNB exige que o Grupo Pão de Açúcar faça uma retratação pública sobre o fato.

Abaixo o documento na íntegra*

 

 

Ao Sr. Enéas César Pestana Neto
Diretor Presidente
Grupo Pão de Açúcar

Senhor Diretor,

A Articulação de Organizações de Mulheres Negras (AMNB) é uma rede de organizações de mulheres negras, constituída atualmente por 28 organizações distribuídas por todas as Regiões do Brasil. Nossa missão está calcada no enfrentamento ao racismo e das desigualdades econômicas e sociais deste País. Segundo dados levantados pela Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio (PNAD, 2011)), o Brasil tem cerca de 192 milhões de brasileiros, destes, 51% se auto-declararam negros e negras, o que faz do Brasil, o pais com a segunda maior população de negros de todo mundo – 97 milhões, atrás apenas da Nigéria, com aproximadamente 160 milhões.

A identidade de um povo é construída a partir de suas relações sociais. O estado brasileiro, escravista durante mais de trezentos anos, deixou marcas extremamente fortes nesta população, marcas estas que são reforçadas pela manutenção de atitudes como essa. Nos deixa extremamente atônitas o fato de tomarmos conhecimento da estátua exposta decorativamente no Supermercado Pão de Açúcar, no bairro Vila Romana, na cidade de São Paulo, que retrata uma criança negra com grilhões nos pés portando uma cesta de pães (em anexo).

Queremos chamar atenção para dois aspectos: (1) Esta imagem contribui para a manutenção do racismo, pois é a materialização do inconsciente coletivo que coloca o negro sempre num lugar social e simbólico, de subalternidade; não é por acaso que esse menino continua com os grilhões nos pés, símbolo de escravização. (2) Ela, também, compactua e autoriza, de forma subliminar, o trabalho infantil, que no Brasil é realizado por uma maioria de crianças negras.

Outro grande prejuízo é o impacto negativo da imagem para a autoestima das crianças negras e a construção de uma referencia positiva de si, que as leve a sentirem-se em iguais condições na companhia das crianças brancas. Como vocês acham que se sentem as crianças negras que frequentam esta loja?

Nós mulheres negras e indígenas somos tratadas, sob a escravização e o racismo, como objetos, vulneráveis a todos os tipos de violência pessoal, estrutural. Conhecemos, portanto, a profunda dor das violências que nos atingem, e temos lutado, ao longo de todos os séculos da história do Brasil, por justiça e reparação, pelo o direito de viver a cidadania plena. Neste sentido que nos dirigimos ao Senhor, Diretor Presidente do Grupo Pão de Açúcar, Sr. Enéas Neto, para dizer que estamos esperando deste Grupo uma retratação pública, mesmo tendo retirado a estátua colocada na loja e reconhecido o ato como fortalecedor do racismo no Brasil.

Afirmamos a nossa disponibilidade para contribuir com essa instituição, na construção de uma ação reparadora que sensibilize clientes e trabalhadores, em toda sua rede, na direção de um país onde a diferença seja compreendida como um valor positivo.

Sem mais,

Simone Cruz

Secretária Executiva AMNB

Organizações Integrantes da AMNB:

ACMUN – Associação Cultural de Mulheres Negras – RS
BAMIDELÊ – Organização de Mulheres Negras na Paraíba – PB
CACES – Centro de Atividades Culturais, Econômicas e Sociais – RJ
Casa Laudelina de Campos Mello – SP
Casa da Mulher Catarina – SC
CEDENPA – Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará – PA
CRIOLA – Organização de Mulheres Negras – RJ
CONAQ – Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Quilombolas – MG
GELEDÉS – Instituto da Mulher Negra – SP
Grupo de Mulheres Negras Felipa de Sousa – RJ
Grupo de Mulheres Negras Mãe Andressa – MA
Grupo de Mulheres Negras Malunga – GO
IMENA – Instituto de Mulheres Negras do AP
INEGRA – Instituto Negra do Ceará – CE
Instituto AMMA Psique e Negritude – SP
IROHIN – DF
KILOMBO – Organização Negra do Rio Grande do Norte – RN
Maria Mulher – Organização de Mulheres Negras – RS
Mulheres em União – Centro de Apoio e Defesa dos Direitos da Mulher – MG
NZINGA – Coletivo de Mulheres Negras de Belo Horizonte
Observatório Negro – PE
ODARA – Instituto da Mulher Negra – BA
OMIN – Organização de Mulheres Negras Maria do Egito – SE
Rede Mulheres Negras do Paraná – PR
Uiala Mukaji – Sociedade das Mulheres Negras de Pernambuco – PE

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