27/08/2013 – O Brasil segue desigual na questão racial

27 de agosto, 2013

(Correio Braziliense) No cinquentenário do discurso histórico de Martin Luther King, brasileiros negros comemoram avanços, mas destacam a persistência do racismo e da injustiça social.

Quando Martin Luther King Jr. liderou a Marcha sobre Washington, em 1963, a segregação racial e a ausência de direitos civis para a população afro-americana eram motivo de crescentes manifestações e protestos em diversas partes dos Estados Unidos. Negros e brancos não frequentavam os mesmos locais, não se sentavam lado a lado em transportes públicos, não eram vistos da mesma forma pela Justiça. No Brasil, na mesma época, o racismo já era considerado crime pela legislação, mas não havia nenhum tipo de pena previsto para quem desrespeitasse outro cidadão com base na cor da pele. A segregação nunca foi institucionalizada no Brasil, mas nem por isso foi menos cruel. Cinquenta anos depois de Luther King ter proclamado o sonho de um mundo mais tolerante e justo, o discurso de 28 de agosto de 1963 continua a impulsionar movimentos pela equidade social em todo o planeta.

No Brasil, uma série de ações afirmativas foram implementadas nos últimos anos, na tentativa de reduzir a ainda grande disparidade social, reflexo das dificuldades enfrentadas por negros e mestiços. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), diminuiu a diferença de escolaridade entre negros e brancos de 2000 a 2010. Nas universidades, a presença de alunos autodeclarados afrodescentendes quase quadruplicou. Estimativas do Censo da Educação Superior de 2011 mostram que, em 1997, 1,8% dos jovens com idade até 24 anos que se declaravam negros cursavam ou haviam concluído um curso superior naquele ano. Em 2011, o total chegou a 8,8%.

Na Universidade de Brasília (UnB), primeira do país a implantar o processo de admissão por regime de cotas, o ingresso de negros e pardos mudou o perfil dos alunos da instituição, em 10 anos. “Temos mais diversidade na universidade e isso retrata melhor a sociedade que vivemos. A análise acadêmica dessa iniciativa nos mostra resultados superpositivos e animadores”, afirma o reitor, Ivan Marques de Toledo Camargo.

A melhora é significativa, mas ainda insuficiente. O fundador e ex-presidente da Fundação Cultural Palmares, Carlos Moura, lembra, que mesmo com o aumento de afrodescendentes na academia, o mercado de trabalho ainda é um desafio. “Quantos parlamentares existem no Brasil e, entre eles, quantos são negros ou negras? Quantos militares superiores, quantos bispos da Igreja Católica?”, pondera. “Na época de Luther King, assim como agora, nós, do movimento negro, ainda trabalhamos pela igualdade racial”, compara.

Afrodescendentes têm mais dificuldade para conseguir emprego no Brasil e recebem entre 1,7% e 2,1% a menos que colegas brancos, dependendo da região do país. “O Estado brasileiro é estruturalmente racista. A nação foi construída com base na exploração da mão de obra escravizada”, critica Douglas Belchior, ativista e coordenador da União de Núcleos de Educação Popular para Negros e Classe Trabalhadora (Uneafro). “É preciso pensar um outro modelo de organização social, em que a riqueza nacional esteja voltada para as necessidades reais da população”, afirma.

A historiadora Maria Luisa Tucci, coordenadora do Laboratório de Estudos sobre Etnicidade, Racismo e discriminação (Leer) da Universidade de São Paulo (USP), explica que no Brasil existe um “sistema de segregação sutil”, e que a educação é um ponto essencial no combate ao preconceito. “Precisamos de mais ações afirmativas, mais políticas públicas, e precisamos muito de uma revisão nos livros didáticos, para que a questão do racismo vivido no país, por exemplo, seja retratada”, observa.

Em novembro deste ano, a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial realiza uma conferência para debater os desafios de inserção e de combate ao preconceito. O alto número de jovens negros assassinados – mais que o dobro de brancos – e a saúde de afrodescendentes estão entre os temas que a serem debatidos.

Acesse o PDF: O Brasil segue desigual (Correio Braziliense, 27/08/2013)

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