31/07/2013 – Padre excomungado por defender união civil homoafetiva processa diocese

31 de julho, 2013

(Valor) Excomungado em abril pela Igreja Católica por defender a união civil de homossexuais, o sexo fora do casamento, o aborto em casos previstos pela legislação e a não obrigatoriedade do celibato para padres, Roberto Francisco Daniel, o padre Beto, de Bauru (SP), tenta reverter sua expulsão na Justiça. Animado com as declarações do papa Francisco contra a discriminação dos homossexuais, o religioso tenta voltar à Igreja e a celebrar cerimônias católicas sem ter de se retratar dos temas polêmicos que defende.

Padre Beto ingressou ontem na Justiça, com uma ação cautelar contra a diocese de Bauru para tentar suspender a excomunhão. O próximo passo, disse o religioso, será entrar com uma outra ação, para revertê-la. “Não questiono o mérito. São dogmas da Igreja. Questiono a forma como [a excomunhão] foi feita”, afirmou. “A Igreja precisa respeitar o ordenamento jurídico brasileiro, que garante o direito de defesa. Isso não me foi garantido. Não estou movendo uma ação contra a Igreja, mas sim contra a diocese.”

O padre afirmou que estudava ingressar com as ações desde que foi excomungado. No entanto, considerou que as recentes declarações do papa, em defesa não só dos homossexuais mas também de uma abertura a participação das mulheres na Igreja e da revisão da questão dos divorciados, podem sinalizar uma abertura da Igreja a mudanças. “Vejo que há uma tentativa de resgate da Igreja comprometida pelo ser humano, que não excluía as pessoas”, disse.

O religioso pregava durante as missas, vídeos e entrevistas uma posição diferente em relação a dogmas da Igreja Católica como o casamento gay, o celibato e o aborto. A postura foi condenada pela diocese de Bauru, que viu nas ações do padre violação às obrigações do sacerdócio e negação da promessa de obediência à Igreja. Para continuar a exercer o sacerdócio, teria que afirmar que errou em relação à sua interpretação e exposição da doutrina, da moral e dos bons costumes.

O padre negou-se a voltar atrás. “Não distorci a doutrina, mas coloquei pontos que precisam ser discutidos”, afirmou. “Não fiz um cisma, um rompimento. Nunca disse que o que eu defendo é uma postura da Igreja, mas sim questões que precisam ser revisadas”, reforçou.

Excomungado, o padre não pode exercer funções do sacerdócio. Também não pode se confessar nem receber a comunhão. No entanto, pode ser chamado de padre até que a Santa Sé decida sobre seu caso.

A diocese de Bauru, por meio de sua assessoria de imprensa, afirmou que o caso está sendo analisado pela Santa Sé e que, por isso, não poderia comentar. Durante o processo de excomunhão, a diocese disse que garantiu o direito de defesa do religioso, mas afirmou que padre Beto não quis se defender, nem recuar de suas posições.

Padre Beto continua na defesa de suas ideias – e manteve a castidade. Formado em direito e em história, o religioso é professor universitário, tem um programa no rádio, escreve para jornais e dá palestras. Ontem, participou do evento de divulgação do livro que lançou recentemente, o “Verdades Proibidas – Ideias do padre que a Igreja não conseguiu calar”. “Pretendo permanecer padre”, disse.

Acesse o PDF: Padre excomungado por defender gays processa diocese (Valor, 31/07/2013)

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