O que sabemos sobre a violência virtual contra as mulheres

05 de junho, 2016

(Nexo, 05/06/2016) Mulheres sofrem um tipo muito específico de violência em ambientes virtuais: perseguição, assédio sexual e ameaças de violência sexual. E em maior escala do que os homens

“Criola! Eu espero que você seja estuprada e cortem sua garganta. Daí, talvez você entenda por que mulheres brancas precisam se armar. Morre, vagabunda!”

Essa foi uma das mensagens que a ativista Zerlina Maxwell recebeu depois de uma entrevista no canal norte-americano Fox News em que ela defende a restrição ao porte de armas no país.

Maxwell foi atacada por centenas de usuários com ameaças de morte e estupro, xingamentos racistas e agressões nas redes sociais. O que ela sofreu, no entanto, é comum entre mulheres que usam a internet, especialmente quando elas manifestam alguma opinião.

73%
das mulheres já sofreram algum tipo de violência no espaço virtual, segundo a ONU

De acordo com a ONU, a violência digital contra a mulher está presente em todas as instâncias do espaço digital, em todos os idiomas.

Ela se manifesta de várias maneiras: na forma de assédio moral e sexual, ofensas, ameaças, bullying sistemático, chantagem e revenge porn, linchamento virtual e o chamado doxxing, quando um grupo de usuários se reúne para encontrar e divulgar dados pessoas da vítima.

27
é o número de chances a mais que as mulheres têm de sofrer assédio virtual na comparação com homens, segundo a ONU

Embora homens também sofram violência virtual, existe uma diferença primordial: as ofensas contra mulheres têm mais chances de serem alvo pelo simples fato de as vítimas serem mulheres, de acordo com estudos. A ONU reportou que usernames femininos recebem mais ameaças virtuais do que usernames masculinos.

“Em teoria, isso pode acontecer com qualquer um – mas não acontece. Acontece quase sempre com mulheres e os abusadores são quase sempre homens.”
Soraya Chemaly – Revista “Time”

Isso significa que homens são ofendidos por outros aspectos de sua personalidade e recebem ofensas “menos severas”, de acordo com um estudo do centro de pesquisas Pew Research Center de 2015.

Enquanto isso, mulheres são mais frequentemente perseguidas, ofendidas com xingamentos de teor sexual (“vagabunda”, “vadia”, “puta”), com relação à aparência (“feia”, “gorda”) e com ameaças envolvendo crimes como estupro e morte com descrições gráficas, formatos que raramente aparecem no caso dos homens.

“Essencialmente, mulheres jovens têm muito mais chances de serem perseguidas e serem assediadas sexualmente, enquanto também não escapam das altas taxas de assédio que são comuns na internet entre jovens em geral.”
Relatório do centro de pesquisas Pew Research Center

Uma pesquisa da empresa de segurança Norton identificou que mulheres recebem, em média o dobro de ameaças de violência física online que os homens.

61%
dos assediadores virtuais são homens, segundo a ONU

Na web, um grupo de mulheres é especialmente vulnerável. O estudo do Pew Research Center sobre assédio online identificou que mulheres jovens, de 18 a 24 anos, são o segmento que desproporcionalmente mais enfrenta certos tipos de agressão, como perseguição virtual e assédio sexual virtual.

26%
das mulheres já sofreram perseguição virtual (stalking), de acordo com o Pew Research Center

As ofensas baseadas em ameaças de violência física e sexual tem como consequência um efeito psicológico maior na vítima, de acordo com o estudo do Pew.

“Pessoas que sofreram casos de assédio mais severos têm mais chances de indicar que sua experiência mais recente de assédio gerou um impacto negativo”, diz o relatório. O Pew identificou que 38% das mulheres foram muito ou extremamente afetadas pela sua última experiência de violência online, contra 17% dos homens”.

Ataques podem ameaçar o direito à liberdade de expressão#

As consequências psicológicas de ataques virtuais sistemáticos são reconhecidas por especialistas. De acordo com a ONU, perseguição e ameaças de morte e estupro sobrecarregam a saúde emocional e também podem afetar as vítimas financeiramente, na medida em que elas sintam necessidade de buscar ajuda legal ou serviços de proteção.

A epidemia deste tipo de violência também pode ter impacto na saúde pública, no sistema judicial e em outros serviços de assistência social. Outro efeito imediato é no cerceamento da liberdade de expressão e de outros direitos humanos das vítimas: abusos verbais recorrentes acabam tendo como consequência o silêncio da vítima que, com medo de sofrer outros ataques, se priva de opinar ou se posicionar em espaços virtuais.

Ana Freitas

Acesse no site de origem: O que sabemos sobre a violência virtual contra as mulheres (Nexo, 05/06/2016)

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