Aids 2016: Discursos contra machismo, racismo e LGBTfobia dão tom político à abertura da Conferência Internacional de Aids, em Durban

18 de julho, 2016

(Agência Aids, 18/07/2016) Começou nesta segunda-feira (18), a Conferência Internacional de Aids, pela segunda vez sendo realizada em Durban, na África do Sul – a primeira foi em 2000. O maior evento de saúde do mundo reunirá esta semana 18 mil pessoas entre pesquisadores, políticos e ativistas.

O neto de Nelson Mandela, Kweku Mandela, abriu a cerimônia dizendo que hoje seu avô faria 98 anos. “Há 16 anos, nessa mesma conferência, meu avô subiu nesse palco para defender nossos direitos.”

Leia mais: Autoridades e especialistas alertam para recuos na luta contra Aids (O Globo, 18/07/2016)

Michel Sidibé, coordenador do Unaids (Programa Conjunto das Nações Unidas em HIV/Aids), foi cauteloso. “Estamos vivendo tempos difíceis. O financiamento mundial está diminuindo. E se isso continuar, temo que não conseguiremos vencer a epidemia.”

Conferencia Aids_2016

Na foto, Nkhensani Mavasa, Michel Sidibé, Charlize Teron, Steve Letsike, Olive Shisana e Chris Beyrer

O representante do Unaids anunciou novas metas, se comprometendo a um reforço nos sistemas de saúde, com treinamento de 1 milhão de agentes comunitários da área, na África. E enfatizou: “não será aceita discriminação de profissionais de saúde com HIV”, ao que a plateia respondeu com entusiasmo.

Sidibé defendeu o direito das meninas e mulheres sul-africanas ao remédio de uso contínuo que previne o HIV – a profilaxia pré-exposição (PrEP) – que ainda não está disponível na África do Sul e sequer foi aprovado no Brasil. “A ciência será disponibilizada para elas, que não podem mais depender dos homens para se prevenir”, completou Sidibé.

Atriz Charlize Theron é reconhecida como líder e ovacionada

A atriz sul-africana vencedora do Oscar Charlize Theron, embaixadora da paz das Nações Unidas, fez um discurso emocionado: “Não é uma honra hospedar essa conferência pela segunda vez, e espero que nunca mais a hospedemos. Temos todos os meios para prevenir o HIV e a razão pela qual não o fazemos é que alguns valem mais do que outros”.

Theron subiu o tom ao dizer: “O HIV não é só transmitido por sexo, mas por sexismo, racismo, pobreza e homofobia. Não é o vírus que escolhe suas vítimas preferenciais. Somos nós”. Ela foi ovacionada.

O arcebispo Desmond Tutu, prêmio Nobel da Paz, que não veio à conferência mas gravou seu discurso em vídeo, disse que os pobres estão arcando com as consequências da crise gerada pelos ricos do Norte. O vídeo foi interrompido no meio por problemas técnicos.

Chris Beyrer, presidente da International Aids Society, elogiou a qualidade científica da conferência e o fato de que houve a primeira pré-conferência de pessoas transgênero.

Beyrer chamou ao palco a sul-africana Olive Shisana, co-presidente do evento, e fez um apelo para a união das lutas LGBT e feminista: “Como um homem gay, faço um apelo para que nós, gays, unamos nossa luta à da igualdade de gênero das mulheres e meninas”. Ao que Shishana respondeu: “Nossa luta é uma só e nossa vulnerabilidade é a mesma. Espero que esse evento ajude a nos aproximar”.

Nkhensani Mavasa, coordenadora do movimento Treatment Action Campaign (TAC) cujos ativistas se identificam com camisetas escrito “HIV positivo”, criticou as autoridades. “Os remédios estão faltando nos postos de saúde. Vinte milhões de pessoas ainda não recebem tratamento. Não queremos somente palavras, mas um plano objetivo, com orçamento e vontade política”.

Os ativistas da TAC aproveitaram um momento de falha do microfone para se manifestar com cartazes e com a típica dança e canto de protesto sul-africano, o toyi-toying. Eles tinham feito uma manifestação durante a manhã no centro de Durban, com cerca de quatro mil pessoas.

Profissionais do sexo também fizeram contínuo protesto contra o seu silenciamento, exibindo um grande relógio que contava o tempo que se passava desde a última menção a categoria.

Prêmio para ativista LGBT e HIV do Zimbábue

A atriz Charlize Theron entregou o prêmio Elizabeth Taylor de Direitos Humanos em HIV para a ativista Martha Tholanah, defensora dos direitos LGBT e das pessoas com HIV no Zimbábue. Martha tem em sua história a violência nas mãos dos soldados do Exército de Liberação do Zimbábue. Martha foi responsável por garantir que o plano nacional contra aids do Zimbábue incluísse as populações LGBT. O nome do prêmio homenageia a atriz americana, reconhecida por sua luta pelo acesso a pesquisa e tratamento no começo da epidemia.

Primeira conferência de Durban como marco histórico

A primeira conferência sobre aids em Durban, no ano 2000, inédita até então em um país em desenvolvimento, é considerada um dos mais importantes marcos da história da saúde global. Na época, o coquetel que tornou a aids uma doença tratável era recente – tinha sido apresentado na conferência de Vancouver quatro anos antes.

Como efeito do coquetel, a mortalidade caiu rapidamente nos Estados Unidos, enquanto que, na África, a epidemia se tornava devastadora. Autoridades e cientistas eram céticos quanto a oferecer ao continente os remédios, que custavam mais de 10 mil dólares ao ano, e defendiam que os investimentos deveriam se limitar a prevenção.

A injustiça social ligada à doença se tornou patente, e foi em Durban que a mobilização por fundos internacionais e a discussão de barateamento de remédios e saúde global como direito ganhou força.

No entanto, a África do Sul não aderiu ao movimento. Como foi lembrado ao longo da abertura, o país inicialmente adotou uma postura de veemente negação da epidemia. A distribuição de medicamentos começou mais de dez anos depois do Brasil, o que contribuiu muito para a transmissão. A política negacionista, segundo estudos, custou mais de 300 mil vidas.

Atualmente, a África do Sul trata mais de três milhões de pessoas e a expectativa de vida da população como um todo subiu mais de 10 anos em relação à era pré-tratamento.

A África do Sul é o país com maior número de pessoas com HIV no mundo. A infecção atinge 6,3 milhões de pessoas. Um total de 19% da população adulta vive com o vírus.

Prêmio para ativista LGBT e HIV do Zimbábue

A atriz Charlize Theron entregou o prêmio Elizabeth Taylor de Direitos Humanos em HIV para a ativista Martha Tholanah, defensora dos direitos LGBT e das pessoas com HIV no Zimbábue. Martha tem em sua história a violência nas mãos dos soldados do Exército de Liberação do Zimbábue. Martha foi responsável por garantir que o plano nacional contra aids do Zimbábue incluísse as populações LGBT. O nome do prêmio homenageia a atriz americana, reconhecida por sua luta pelo acesso a pesquisa e tratamento no começo da epidemia.

Primeira conferência de Durban como marco histórico

A primeira conferência sobre aids em Durban, no ano 2000, inédita até então em um país em desenvolvimento, é considerada um dos mais importantes marcos da história da saúde global. Na época, o coquetel que tornou a aids uma doença tratável era recente – tinha sido apresentado na conferência de Vancouver quatro anos antes.

Como efeito do coquetel, a mortalidade caiu rapidamente nos Estados Unidos, enquanto que, na África, a epidemia se tornava devastadora. Autoridades e cientistas eram céticos quanto a oferecer ao continente os remédios, que custavam mais de 10 mil dólares ao ano, e defendiam que os investimentos deveriam se limitar a prevenção.

A injustiça social ligada à doença se tornou patente, e foi em Durban que a mobilização por fundos internacionais e a discussão de barateamento de remédios e saúde global como direito ganhou força.

No entanto, a África do Sul não aderiu ao movimento. Como foi lembrado ao longo da abertura, o país inicialmente adotou uma postura de veemente negação da epidemia. A distribuição de medicamentos começou mais de dez anos depois do Brasil, o que contribuiu muito para a transmissão. A política negacionista, segundo estudos, custou mais de 300 mil vidas.

Atualmente, a África do Sul trata mais de três milhões de pessoas e a expectativa de vida da população como um todo subiu mais de 10 anos em relação à era pré-tratamento.

A África do Sul é o país com maior número de pessoas com HIV no mundo. A infecção atinge 6,3 milhões de pessoas. Um total de 19% da população adulta vive com o vírus.

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