Casos confirmados de microcefalia crescem 16,2% no país em uma semana

09 de março, 2016

(O Globo, 09/03/2016)  Segundo Ministério da Saúde, Pernambuco tem o maior número de notificações; Rio de Janeiro está em quarto lugar.

Em uma semana, subiu 16,2% o número de casos confirmados de microcefalia ou alterações do sistema nervoso relacionados à infecção congênita, passando de 641 para 745. Desse total, 88 (11,8%) tiveram resultado positivo para zika, segundo boletim do Ministério da Saúde divulgado nesta quarta-feira. A pasta voltou a ressaltar, no entanto, que o dado não representa a totalidade de registros associados ao vírus, mas apenas a parcela com diagnóstico fechado por exame laboratorial. O ministério vem sustentando que a maioria das confirmações está relacionada ao zika.

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Brasil tem 745 casos confirmados de microcefalia e alterações neurológicas (Uol, 09/03/2016)

Há ainda 4.231 casos em investigação e 1.182 descartados. Foram 6.158 notificações suspeitas desde o ano passado até 5 de março, registradas em todas as regiões do país. Pernambuco tem o maior número de pacientes sob investigação: 1.214. Em seguida, vêm Bahia (609) e Paraíba (447). O Rio de Janeiro está em quarto lugar, com 289 casos sendo pesquisados, à frente do Rio Grande do Norte (278) e do Ceará (252).

O boletim do governo, feito com as informações repassadas pelos estados, já considera o novo critério de diagnóstico de microcefalia. Por recomendação da OMS, a malformação será notificada como suspeita quando a criança não prematura nascer com perímetro cefálico igual ou menor que 31,9 cm, no caso de homens, e 31,5 cm, para mulheres. Antes, o limite era de 32 cm, independentemente do sexo. Para bebês que nascem antes do tempo regular, o tamanho varia de acordo com a idade gestacional.

É a segunda vez que o Ministério da Saúde muda o parâmetro, que era de 33 cm quando a epidemia foi declarada, no fim do ano passado. Depois, passou para 32 cm, e agora veio o novo critério. A alteração já havia sido adiantada pelo ministro da pasta, Marcelo Castro, na semana passada, e foi oficializada hoje. O ministério não sabe, entretanto, quantos e quais estados enviaram os dados do boletim recém-divulgado dentro do parâmetro novo.

A mudança não vai retirar do boletim crianças que, eventualmente, tenham sido incluídas devido a medidas superiores ao novo critério adotado. Segundo os técnicos do ministério, elas continuarão sendo investigadas para receber todos os cuidados, se necessário. A pasta ressaltou que as mudanças são naturais e decididas em conjunto com a comunidade científica.
– Agora, com as novas definições, ficando mais precisas, claras e fáceis de interpretar, vamos conseguir investigar e concluir mais rapidamente os casos — afirmou Wanderson Oliveira, coordenador geral de Vigilância e Respostas às Emergências em Saúde Pública da Secretaria de Vigilância em Saúde. — Estamos orientando (os estados) que não arredondem o decimal. É fundamental que o dado seja detalhado.

Cláudio Maierovitch, diretor do Departamento de Vigilância de Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, classificou a mudança como “sutil”, mas importante para padronizar dados mundiais:

– Ele (o critério) é mais preciso do ponto de vista científico, mas a importância de adotá-lo era justamente estabelecer uma possibilidade de comparação mundial. Outros países certamente começarão a trabalhar com isso, na medida em que (o vírus) se espalhar pelas Américas.

O diretor comentou que há casos de bebês com perímetro cefálico até acima da medida que estava estipulada, ou seja, fora da classificação de microcefalia, mas que o ultrassom revelou danos cerebrais. Maierovitch não soube precisar quantas crianças foram classificadas nessa situação, destacando ser um número irrelevante.

– Isso importa muito pouco, é um dado que não muda nada, porque o que importa é que o caso seja identificado e que seja acompanhado. O que sabemos é que é um percentual muito pequeno – afirmou Maierovitch.

O boletim mostrou aumento no número de mortes suspeitas, após o parto ou durante a gestação, de 139 para 157. Do total, 37 foram confirmadas para microcefalia ou alterações do sistema nervoso central. Outras 102 continuam em investigação e 18 foram descartadas. A dificuldade de relacionar os casos de malformação cerebral ao zika, por exame laboratorial, foi ressaltada por Maierovitch, embora ele tenha frisado que as evidências relacionam o problema ao vírus.

– Ainda não dispomos, no mundo, de método para identificar a infecção pregressa recente pelo vírus. Como há meses que separam a infecção da gestante e a infecção do próprio bebê durante a gestação e o nascimento da criança, a probabilidade ter um exame positivo com as técnicas atuais é relativamente baixa — explicou o diretor;

GRÁVIDAS E OLIMPÍADAS

O ministro Marcelo Castro considerou prudente a recomendação da OMS, para que grávidas não viajem a locais com surto de zika, mas disse que, internamente, embora algumas regiões do país representem maior risco do que outras, tal orientação seria inócua.
– Como o Brasil é endêmico, não vamos dizer para nossas gestantes que não vão para tal região, porque já somos endêmicos mesmo, mas que tomem precauções e cuidados – disse. – Se a pessoa deve ficar gestante ou não, se deve viajar ou não, a nossa posição é clara: compete à gente dar a informação mais precisa, mais clara, mais realista, da maneira mais transparente possível para a pessoa tomar a sua decisão.

Castro voltou a dizer que o surto de zika não ameaçará a realização dos Jogos Olímpicos porque o período crítico, que é o verão, já terá passado. Além disso, ele ressaltou que o país está engajado nas medidas de combate ao Aedes aegypti e que haverá reforço nas ações contra o mosquito no Rio de Janeiro, especialmente nos locais em que o evento vai se realizar.

– Estamos certos, dentro da relatividade que devemos ter, que as pessoas estarão protegidas. Essa opinião é compartilhada pela OMS, pela OPAS e pelo comitê olímpico internacional.

Castro demonstrou apoio a uma outra recomendação da OMS sobre o uso de preservativo por parte de grávidas cujos parceiros venham de áreas endêmicas. Ele considerou a medida positiva, levando em conta os casos cada vez mais crescentes que sugerem a transmissão do zika pelo sexo. O Ministério da Saúde orienta a utilização da camisinha em todas as relações como forma de evitar doenças sexualmente transmissíveis.

RECURSOS RECLAMADOS

Marcelo Castro rebateu as críticas, feitas pelo diretor do Instituto Butantã, Jorge Kalil, de que a verba prometida para o desenvolvimento da fase 3 da vacina da dengue não foi liberada pelo governo federal. O ministro disse que só ontem a instituição, que é ligada ao governo de São Paulo, entregou a documentação necessária para receber parte da verba prometida de R$ 300 milhões, dos quais R$ 50 milhões devem ser repassados neste ano.
— O Butantan é um excelente parceiro, instituição que é orgulho nacional, nós nos relacionamos superbem, mas a verdade precisa ser restabelecida. E a verdade é que nós não podíamos ter pago, uma vez que eles não tinham apresentado a documentação necessária — disse Castro.

O ministro contou ainda que os documentos relacionadas a um repasse de R$ 8,5 milhões acertado para o Butantã, para o desenvolvimento de vacinas e remédios contra zika, ainda não chegaram. Castro evitou politizar a questão, mas lembrou que o instituto é do governo de São Paulo e quem está custeando as pesquisas é o governo federal. Em seguida, afirmou não estar “reclamando”, porque entende que o combate ao vírus deve unir esforços.

Quanto à distribuição de kits para detecção de dengue em quantidades menores que as necessárias, segundo reportagem da Folha de S. Paulo de hoje, o ministro disse que a área técnica da pasta avalia o volume de materiais a serem repassados aos estados. E que, muitas vezes, o gestor local superdimensiona o pedido, por isso a reclamação de um número teoricamente inferior à demanda:
– É compreensível que alguns secretários peçam um número maior. Goiás pediu 45 kits, liberamos 40, bastante razoável. Não dá para o estado ficar queixoso quando pede 45 e recebe 40.

Ele voltou a admitir que houve atraso na entrega dos kits, por causa de problemas na compra, que é feita pela OMS, e no desembaraço dos produtos ao chegarem ao Brasil. Sobre questões pontuais, como São Paulo, que segundo a reportagem não tem kits para fazer diagnóstico nem das amostras já colhidas, Castro contemporizou:

– São Paulo pediu 400, liberamos 200. Mas se São Paulo precisa de mais, como saiu na reportagem, vamos mandar mais. Queremos colaborar, estar em paz com todos. Podemos até ter avaliado equivocadamente (o volume a ser liberado).

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