Agências da ONU reúnem-se para abordar risco de aumento do zika com chegada das chuvas

20 de outubro, 2016

O mais provável é que tenhamos um novo surto epidêmico com a chegada da época de chuvas e as deficiências dos serviços de saneamento e água tratada 

(Nações Unidas, 18/10/2016 – Acesse no site de origem)

O representante do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) no Brasil, Jaime Nadal, disse que o vírus tem hoje um impacto social e na saúde muito significativo, e que “vamos entrar numa fase em que o mais provável é que tenhamos um novo surto epidêmico”, com a chegada da época de chuvas e as deficiências dos serviços de saneamento e água tratada para as populações mais pobres do país.

Brasília (DF) - Bebês acolhidos pelo Lar da Criança Padre Cícero, instituição que cuida mais de 20 crianças e adolescentes. Poucos estão habilitados para adoção

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Representantes de agências da ONU e da sociedade civil reuniram-se pela quarta vez desde o início do surto do vírus zika para debater “Direitos das Mulheres, Direitos Sexuais e Reprodutivos” no centro da resposta emergencial.

A necessidade de tomar medidas conjuntas para prevenir uma nova onda do vírus no período de chuvas que se aproxima esteve presente nas falas da sessão de abertura do encontro que reuniu virtualmente representantes de Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS), ONU Mulheres e Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA).

O representante do UNFPA no Brasil, Jaime Nadal, considerou que o vírus tem hoje um impacto social e na saúde muito significativo e que “vamos entrar numa fase em que o mais provável é que tenhamos um novo surto epidêmico”, devido à falta de saneamento e acesso a água tratada.

Segundo ele, trata-se, no entanto, de uma nova fase qualitativamente diferente, já que temos mais informação sobre a epidemia e mais evidências sobre a necessidade de complementar as ações para o controle vetorial, os investimentos em infraestrutura, com a atenção à saúde das mulheres e o cuidado das crianças afetadas.

A reunião teve também a presença de organizações da sociedade civil com atuação em todo o país, assim como de representantes do Ministério da Saúde.

A coordenadora da ONG Uiala Mukaji, Sociedade das Mulheres Negras de Pernambuco, Vera Baroni, propôs que a campanha de direitos fosse também uma campanha contra o racismo, considerando que a maioria das mulheres afetadas é afrodescendente e 53% da população do Brasil é negra.

Em parceria com o UNFPA, a Sociedade das Mulheres Negras de Pernambuco identificou falhas no atendimento do pré-natal e recomendou investimentos na formação dos agentes públicos, em especial da saúde.

Vania Muniz Néquer, da Rede Feminista de Saúde, de Curitiba, defendeu ser necessário apresentar dados desagregados por raça/cor tendo em conta outros indicadores sociais e de acesso a serviços tais como idade e nível de escolaridade.

Durante o encontro virtual, o Ministério da Saúde destacou o que tem sido feito para aprimorar a resposta. A diretora do Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas do ministério, Thereza de Lamare, explicou que a pasta identificou 78 municípios com pelo menos quatro crianças com síndrome congênita de zika, a microcefalia.

O próximo passo será atuar nas comunidades para a promoção da saúde integral das mulheres, prevenção dos agravos, fortalecimento das redes e cuidado das crianças. A ampliação do acesso a métodos contraceptivos reversíveis e de longa duração também foi também destacada como uma ação que vai ser aprimorada no futuro mais imediato.

Entre as recomendações, foi citado o engajamento participantes da reunião na campanha liderada pelo UNFPA “Mais Direitos, Menos Zika” e na campanha liderada por ONU Mulheres “Cidades 50/50”.

Também foi recomendado continuar disseminando os argumentos sobre os determinantes sociais que encrudescem ainda mais os impactos do surto do vírus, como é o caso do racismo e da falta de saneamento básico; além de assegurar políticas de educação em sexualidade e proteção dos direitos de adolescentes e jovens, incluindo o direito à saúde sexual e reprodutiva.

A reunião denominada “Sala de Situação” é uma ação estratégica do Sistema ONU no Brasil em parceria com organizações da sociedade civil e deve ser replicada em outros países.

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