E se a zika fosse transmitida como o ebola?, por Gabriel Alves

05 de outubro, 2016

A possibilidade de contágio por contato físico, além de sexual e por picada de mosquito acende alerta da comunidade científica

(Folha de S. Paulo, 30/09/2016 – Acesse no site de origem)

Um novo relato de caso que saiu na última quarta (28) no prestigioso “New England Journal of Medicine” levantou uma lebre importante. E se a zika, de repente, fosse transmitida como o ebola?

Para quem não se lembra, o ebola também é uma doença viral, só que a via de transmissão não se dá por picada de mosquitos infectados, mas pelo contato com secreções do paciente e pela proximidade física.

No caso relatado no “NEJM”, um paciente idoso, de 73 anos, viajou para o México. Ele recordou ter sido picado por mosquitos no local, mas não teve nenhum sintoma antes de retornar aos EUA.

No começo, ele sentia muita dor abdominal, faringite e febre. Depois apareceu a conjuntivite, diarreia e dores musculares. A alternativa foi ir para o hospital. Ele não melhorou e começou a ter pressão baixa e sentir dificuldade para respirar.

Os tratamentos com antibióticos não funcionavam e o teste do torniquete (para dengue) deu negativo. Ele teve uma piora respiratória, insuficiência renal, acidose metabólica e hepatite e acabou morrendo.

Depois de fazer vários testes, finalmente descobriram que o paciente tinha tido zika –e que provavelmente essa terrível condição clínica teria decorrido da infecção, auxiliada por uma falha do sistema imunológico.

Azar

Registra-se que apenas 1 a cada 5 casos de zika é sintomático, e raríssimos são aqueles casos que resultam em morte. Claro que uma única morte como essa associada ao vírus não é razão para que se reescreva tudo o que se sabe da doença, mas o terrível vem a seguir.

Um outro paciente, mais jovem, de 38 anos, também teve zika. Como não há mosquitos transmissores no local e ele não passou por transfusão de sangue (nem fez sexo com o senhor de 73 anos), os médicos concluíram que o motivo provável da infecção foi a proximidade entre os dois homens.

Em uma visita hospitalar, o mais jovem ajudou o mais velho a mudar de posição (com luvas) e também enxugou as lágrimas do idoso.

Os sintomas –conjuntivite, febre, dores musculares, e rash (exantemas) no rosto– só apareceram mais de uma semana após o contato (o paciente idoso já havia morrido). Ninguém mais que teve contato com o idoso relatou sintomas.

As conclusões são desanimadoras. A primeira é que a capacidade de espalhamento do vírus da zika pode estar (e muito) subestimada. Outra é que a infecção por zika tem potencial para ser fulminante. Não é a primeira vez que alguém morre de zika e, conforme a doença se globaliza, talvez esses relatos sejam cada vez mais comuns.

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