Um ano de Zika: de doença negligenciada a emergência global

09 de maio, 2016

(Saúde!Brasileiros, 09/05/2016) Relatório da Organização Mundial de Saúde faz balanço sobre epidemia de Zika, mostra os desafios do controle e diz que vírus “veio para ficar”.

No final de março de 2015, o Brasil informou à Organização Mundial de Saúde que 7.000 casos de uma doença caracterizada por erupções cutâneas foram registrados Nordeste. Quatrocentas amostras de sangue foram testadas e apenas 13% delas deram positivas para a dengue. Não se sabia a causa da erupção no restante.

Foi dessa maneira que uma longa jornada de perguntas sem respostas se pôs em curso até chegarmos no retrato da epidemia do Zika -que nem de longe está definido. Agora, a Organização Mundial da Saúde, um ano depois, publica um balanço da epidemia com o que está consolidado. A entidade lista os desafios e também faz uma mea culpa mundial sobre o silêncio que, de certa forma, permitiu o avanço da doença.

“Na África, os pesquisadores acreditavam que a transmissão estava confinada a matas e florestas. Se o vírus tinha potencial para deflagrar uma epidemia, ninguém notou”, diz o relatório.

A história do zika progride e, mesmo após uma epidemia maior (o surto da Micronésia em 2007 com 5.000 infectados), muitos fatos passaram desapercebidos. A própria OMS relata que os 42 casos de síndrome de Guillain-Barré (doença neurológica grave que provoca paralisia muscular) registrados na época não foram ligados diretamente ao zika. A microcefalia sequer foi notada.

O Brasil mudaria esse cenário, Em julho de 2015, o País informou a OMS sobre um aumento na detecção da síndrome de Guillain-Barré. Em outubro, pesquisadores brasileiros também informam o órgão sobre a suspeita do Zika estar ligado a um aumento de registro de mal formações em recém-nascidos.

A detecção de microcefalia no Brasil levou a uma investigação retrospectiva do surto na Polinésia Francesa. Os resultados, comunicados à OMS em novembro de 2015, identificaram pelo menos 17 recém-nascidos com diferentes malformações cerebrais graves, incluindo a microcefalia.

No final de janeiro de 2016, um segundo relatório de Polinésia Francesa informou à OMS que mais pesquisas tinham agora de forma convincente ligado o Zika ao aumento dos casos de síndrome de Guillain-Barré.

Com mais estudos, a própria OMS reconhece agora que há uma “síndrome congênita Zika”, que vai além da microcefalia. Além da má-formação, há calcificações cerebrais e anomalias diversas, por vezes acompanhada de perda visual e auditiva.

A OMS também registra no relatório que o vírus pode ter outros efeitos em crianças em adultos, mas mais estudos ainda precisam investigar as razões. Estudos preliminares indicam inflamação da medula espinhal e do cérebro que se assemelham à esclerose múltipla. A entidade também diz que o vírus também podem causar problemas neurológicos adicionais em crianças em desenvolvimento, mas mais pesquisas são necessárias.

É possível que o Zika desapareça?

No relatório, a Organização Mundial de Saúde diz que é muito difícil que isso aconteça. E dá alguns argumentos para sustentar essa posição. A entidade explica o vírus provavelmente deve estar circulando também na África e na Ásia, mas a ausência de sintomas na maioria das infecções e o pobre sistema de vigilância nesses países estão impedindo a correta detecção.

Segundo a OMS, os surtos de dengue recorrentes também indicam que a epidemia de zika, transmitida pelo mesmo mosquito, demore a cessar. “Além disso, os flavivírus estão bem equipados para se adaptar a diversos ambientes”, diz o relatório.

Novos fatos também preocupam a entidade. Em abril de 2016, pesquisadores do Equador e do nordeste do Brasil detectaram o Zika em macacos, sugerindo um novo ciclo de transmissão que poderia permitir que o vírus continue a se espalhar. No Brasil, o vírus detectado em macacos foi idêntico ao que circula em seres humanos.

Também a OMS diz que o Zika pode ser transmitido por um outro mosquito, o Aedes albopictus, conhecido como mosquito do tigre asiático. O mosquito está adaptado a climas temperados e, com isso, tem capacidade para transmitir o Zika para além dos climas tropicais e das áreas de risco mapeadas hoje.

“Muito provavelmente, a Zika -agora redefinida como uma doença grave- está em movimento e veio para ficar”, conclui a OMS.

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