Estudo da USP mostra que gravidez na adolescência reduz salário de mulheres em até 30%

28 de janeiro, 2020

Baixa escolaridade também é relacionada com maior incidência de gravidez antes dos 20 anos. Além disso, gravidez na adolescência reduz escolaridade de mulheres em cerca de 1,5 ano.

(G1, 28/01/2020 – acesse no site de origem)

Uma economista da Universidade de São Paulo (USP) de Piracicaba (SP) estudou sobre a influência da gravidez na adolescência no mercado de trabalho das mulheres. Segundo a pesquisa, as mães que engravidaram até os 20 anos ganham em média 30% a menos que as outras mulheres. Além disso, escolaridade delas tende a ser, em média, 1,5 ano menor do que a das mulheres que não tiveram filhos nessa faixa etária.

A doutora em economia e docente sênior do Departamento de Economia, Administração e Sociologia (LES) da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), Ana Lúcia Kassouf, explica que o estudo faz parte de um projeto que analisa o impacto da gravidez precoce na educação, alfabetização e no mercado de trabalho.

O Brasil é o único país da América Latina a receber esse estudo, que foi financiado pela instituição sem fins lucrativos PEP (Partnership for Economic Policy), com sede no Quênia, e financiamento de países como o Canadá e do Reino Unido.

“A gente propôs esse tema para tentar entender o quanto a gravidez na adolescência afeta o mercado de trabalho das mulheres. No Brasil quase não há pesquisa sobre isso e um dos limitantes é o dado”, afirma Ana Lúcia.

Segundo ela, a maioria dos dados que utilizou são de 2013 e fazem parte da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que disponibilizou as variáveis que ela precisava para a análise. Ela considerou dados das mulheres de 29 a 40 anos que relataram ter tido filhos antes dos 20 anos.

Escolaridade e renda têm maior impacto, aponta pesquisa

Os principais resultados giram em torno da escolaridade e da renda da mulher que engravidou na adolescência. Os dados analisados por Ana Lúcia apontam que a gravidez precoce reduz os anos de estudo em cerca de um ano e meio, em média. “Muitas param de estudar para cuidar do filho e não voltam depois”, explicou.

E essa redução é justamente a causa dessas mulheres futuramente conseguirem empregos informais e terem a renda reduzida em cerca de 30%. “Se a gente olhar especificamente para mulheres pretas e pardas essa queda é ainda maior”, afirmou.

“A gente observou que aumentava a probabilidade [da mãe adolescente] de trabalhar, porque precisava de renda para cuidar do filho. Mas ao mesmo tempo essas mulheres entravam no mercado de trabalho informal, que exige menos qualificação e é mais flexível, mas que também paga menos salário”.

A pesquisa mostra, ainda, que a escolaridade baixa também foi um fatores que contribuiu para que as mulheres engravidassem antes dos 20 anos. O índice mais alto está entre as que tinham o ensino fundamental incompleto, com 58,7%, seguido das que não tinham escolaridade nenhuma, com 56,6%. Veja os dados no gráfico.

O gráfico mostra ainda que 13,1% das mulheres com ensino superior completo tiveram filhos antes dos 20 anos, ou seja, a gravidez na adolescência influenciou a escolaridade das mulheres. Algumas abandonaram os estudos para cuidar dos filhos ou não chegaram a cursar o ensino superior.

Problema social

Além de mostrar a análise dos dados, o estudo tem o intuito de influenciar as políticas públicas sobre o assunto e, de fato, trazer algum benefício e mudança. Para Ana Lúcia, um dos principais fatores que gira em torno da gravidez na adolescência é o social.

“Para muitas meninas, ir ao médico e tomar um anticoncepcional significa que você está tendo uma vida sexual. Muitas não querem mostrar isso para a família porque pode ser um problema. É um tabu, mas precisa ser quebrado. As famílias precisam de orientação.”

“São pessoas com baixa renda, baixa escolaridade e que moram em áreas pobres, em sua maioria”, concluiu. As diferenças também se mostram regionais, já que as ocorrências de gravidez na adolescência tendem a ser mais comuns no Norte e Nordeste do país.

A pesquisa mostra ainda que a maior parte das adolescentes que engravidaram estavam na faixa mais baixa de renda, que na época da apuração dos dados, em 2013, representava uma renda familiar abaixo de R$ 1 mil. Nesta faixa, estavam 48% das mulheres que tiveram filhos antes dos 20 anos.

Já na porcentagem da população com maior renda familiar, que à época representava pouco mais de R$ 3 mil, 22% das mulheres engravidaram até essa idade.

A pesquisadora afirmou que esse é um problema que perpetua o ciclo de pobreza. “Será que as meninas têm conhecimento de tudo isso? Teria que entrar com um programa dentro das escolas, mostrar os problemas e as consequências de uma gravidez precoce. Tanto na área médica quanto na área econômica. Tem que ter uma política pública aí”, finalizou.

Por Caroline Giantomaso, G1 Piracicaba e Região

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