Grupo dá assistência a argentinas que querem abortar

22 de março, 2014

(Folha de S.Paulo, 22/03/2014) Todos os dias, um grupo de 20 mulheres que vivem em Buenos Aires se divide para atender ligações de todo o país. Do outro lado da linha, a pergunta principal é quase sempre a mesma: “Como faço um aborto tomando misoprostol?”.

No ano passado, o grupo Aborto com Pastillas (Aborto com Comprimidos) respondeu 5.500 vezes a essa e a outras questões sobre interromper uma gravidez.

Desde 2009, pela linha telefônica batizada de “Aborto “” Mais informações, Menos Riscos”, a organização Lésbicas e Feministas e militantes do partido político Nuevo Encuentro, ligado ao governo de Cristina Kirchner, fornecem informações para mulheres que desejam abortar com o medicamento misoprostol, que é usado no tratamento de úlceras.

Na Argentina, o remédio é vendido em farmácias de maneira controlada, sendo necessária a apresentação de receita médica.

No Brasil, o misoprostol, conhecido pelo nome Cytotec, teve sua comercialização proibida em 1998.

“Nós acreditamos que é um direito da mulher ficar ou não grávida, não uma obrigação”, afirma Paloma Sanchez, 26, uma das integrantes do Lésbicas e Feministas.

“Reivindicamos esse método porque é seguro, respaldado pela OMS [Organização Mundial de Saúde] e permite à mulher ter o controle de seu próprio corpo, já que não precisa de atendimento médico”, diz ela, que já abortou com misoprostol.

INFORMAÇÃO

A principal pergunta de quem recorre ao Aborto com Comprimidos é saber como conseguir o remédio e quais são os sintomas que ele provoca no corpo.

“Sempre recomendamos que as mulheres busquem um médico, para quem possam explicar a situação e pedir uma receita. Depois, perguntamos em qual semana de gestação estão. O método é seguro para gestações de até 12 semanas. E explicamos que não dói e que elas terão um sangramento em casa, como se fosse uma menstruação”, diz Paloma.

Em sua página na internet, o grupo, que também está presente em Chile, Equador, Peru e Venezuela, avisa: “Não somos médicas, nem substituímos uma consulta médica. A informação que damos é pública, atualizada e corroborada por fontes médicas e científicas”.

A advogada Lulie Sanchez, 40, fundadora do Lésbicas e Feministas, diz que o grupo nunca sofreu perseguição ou represália do governo pelo fato de o aborto ser ilegal no país. “Nós não estamos incentivando o aborto, apenas batalhamos pela democratização do acesso à informação”, afirma.

Ao longo dos cinco anos de atendimento, as integrantes da organização dizem que puderam constatar que o uso de métodos contraceptivos não evita o aborto, como pregam algumas entidades contrárias à interrupção da gravidez.

“Essa ideia é racista. É assumir que uma mulher engravida porque não tem educação sobre como usar os anticoncepcionais. E isso é falso, porque aí vão dizer que a mulher pobre, ignorante, é a que fica grávida”, diz a advogada Soledad Pujó, 37, outra participante do grupo.

“Existem muitas questões que envolvem a decisão de fazer um aborto, e uma delas é a definição da sexualidade. Então não dá pra colocar as coisas em termos tão simplistas”, declara.

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