Jandira Magdalena dos Santos Cruz: Vítima do aborto ilegal

28 de setembro, 2017

Há três anos, Jandira era sepultada após um aborto ilegal. Seu assassinato virou símbolo do debate no Brasil

(UOL, 28/09/2017 – acesse a íntegra no site de origem)

Em 26 de agosto de 2014, Jandira Magdalena dos Santos Cruz morreu ao realizar um aborto em uma clínica clandestina no Rio de Janeiro. Seu corpo foi encontrado mutilado e carbonizado no dia seguinte. O funeral foi realizado no dia 28 de setembro, coincidentemente o Dia Latino-Americano e Caribenho de Luta pela Descriminalização do Aborto.

Três anos depois, sua mãe, Maria Ângela Magdalena, 54, recebeu o UOL em sua casa, em Campo Grande, na Zona Oeste do Rio, para contar quem foi Jandira. Ela deixou duas filhas, inúmeros sonhos, lembranças, e ficou uma questão: como o Brasil está lidando com o fato de que, legais ou não, abortos são feitos no país?

Jandira era uma mulher comum

A mãe de Jandira lembra do sorriso da filha como a marca de sua personalidade alegre. Sem dúvida, é o traço que mais chama atenção em todas as fotos dela, desde menina. Era uma moça comum, do tipo que vivia cercada de pessoas e adorava pregar peças nos amigos.

Os momentos de menina e de mulher sempre se misturaram na vida de Jandira. Aos 15 anos, deu uma grande festa de debutante, com direito a troca de vestidos. Logo depois, engravidou do primeiro namorado.

Mãe duas vezes

Apesar de adolescente, a gestação não foi uma questão. A menina-mãe aparece sorridente nas fotografias, exibindo a barriga que crescia, entre familiares e amigos. Quando Camile nasceu, Jandira teve a ajuda da mãe para criá-la sem precisar largar a escola. Ela sonhava fazer faculdade, talvez de comunicação.

Um novo amor surgiu e, com ele, uma nova gestação, logo depois de terminar o ensino médio. Então Jandira trocou o sonho dos estudos por outro que sempre teve, também: formar uma família. Casou-se e teve Sara. A relação era conturbada, cheia de idas e vindas, e Jandira voltava a viver na casa da mãe.

Ela queria uma família

Na primeira separação, ela começou a trabalhar. Era secretária em uma concessionária de veículos e, com o que ganhava, podia encher as filhas de presentes e curtir os finais de semana no shopping com elas.

O sonho de ter uma família nunca deixou de existir. Jandira queria reatar com o marido, e viver na casa que a mãe estava construindo para ela, com as duas meninas, e ser feliz.

Durante uma das separações, um relacionamento rápido com outro homem resultou em uma terceira gravidez. Seu sonho estava ameaçado. Dona Ângela viu Jandira deixar de ser moleca. Ficou triste, chorava trancada no banheiro. Ela não queria mais um filho. Tomou remédios, que não funcionaram, e, por indicação de uma amiga, marcou o aborto em uma clínica clandestina.

No dia 26 de agosto de 2014, grávida de dois meses, Jandira saiu de casa para interromper a gestação indesejada, e teve a vida brutalmente interrompida.

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