OMS: 1ª grande onda de zika pode acabar antes de a vacina ficar pronta

22 de março, 2016

(O Globo, 22/03/2016) Margaret diz que testes devem começar este ano, mas sem previsão para produto final.

A diretora-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Margaret Chan, afirmou que a primeira grande onda de infecções pelo vírus zika no mundo pode acabar antes mesmo que a vacina fique pronta. Durante entrevista coletiva nesta terça-feira em Genebra, na Suíça, ela disse que 23 projetos estão em desenvolvimento por 14 instituições no Brasil, nos Estados Unidos, na França, na Índia e na Áustria.

— Especialistas concordam que o desenvolvimento de uma vacina contra o vírus zika é imperativo. Projetos em andamento podem iniciar testes clínicos antes do fim de 2016, mas podem ser necessários anos até que uma vacina completamente testada e licenciada esteja disponível — disse.

A diretora-geral da OMS informou que mais de 30 empresas trabalham atualmente no desenvolvimento de novos testes para diagnóstico da infecção pelo vírus:

— No que diz respeito a novos produtos médicos, especialistas concordam que um teste para diagnóstico confiável e disponível no ato do atendimento é a mais urgente prioridade.

Para ela, quanto mais se sabe sobre o vírus zika e suas possíveis relações com a microcefalia e a síndrome de Guillain-Barré, mais as coisas parecem feias.

De acordo com Chan, após as reuniões entre cientistas do mundo todo feitas pela entidade, há um consenso sobre a ligação entre o vírus e a microcefalia. Ela, no entanto, afirmou que ainda não há comprovação científica desta relação. Mesmo assim, disse que não se deve esperar esta confirmação para investir em meios de enfrentar o vírus.

— A associação entre o vírus zika e a microcefalia não é cientificamente comprovada, mas os especialistas avaliaram as evidências e, mesmo sem comprovação, existe hoje consenso científico de que há esta ligação. O tipo de desafio de saúde que estamos enfrentando não deve esperar por provas definitivas. Em termos de novos produtos médicos, há consenso de que novas formas de diagnóstico são prioridade — disse Chan.

Segundo a diretora da OMS, ninguém pode prever para onde o vírus vai se espalhar, e se nesses novos territórios vai se repetir o padrão de aumento dos casos de microcefalia, da síndrome Guillain-Barré e de outras doenças neurológicas como tem sido observado na América Latina. Mas se isso acontecer, o mundo inteiro vai enfrentar uma crise de saúde.

A OMS também confirmou, nesta terça-feira, a primeira morte por microcefalia registrada no Panamá, que pode estar relacionada ao zika. Chan disse ainda que 12 países já reportaram aumento nos casos de Guillain-Barré e que o vírus zika está em circulação em 38 países.

A diretora afirmou que recebeu dos países membros apenas US$ 3 milhões, dos US$ 56 milhões que seriam necessários para enfrentar o zika. A OMS pediu US$ 25 milhões para seus próprios esforços até o fim do primeiro semestre. Os outros US$ 31 milhões seriam para outros grupos de pesquisa, incluindo organizações sem fins lucrativos.

— Suporte financeiro é de fato um desafio para nós, mas não podemos deixar que o dinheiro seja uma barreira para fazermos a coisa certa — disse ela, completando: — Se o dinheiro continuar não chegando, não sei até quando poderemos continuar assim — declarou a diretora.

Márcio Menasce

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