Modelo é atacada por internautas depois de aparecer com pelos nas axilas

01 de maio, 2019

A modelo Annahstasia foi vítima de ataques depois que uma foto sua foi publicada pela marca Nike em sua conta no Instagram. A questão que gerou revolta foi o fato de ela aparecer com pelos nas axilas. Ao observarem a foto, alguns internautas se sentiram ofendidos e passaram a xingar a artista e dizer que ela não tinha higiene.

(Yahoo, 01/05/2019 – acesse no site de origem)

Depois disso, outras pessoas foram na imagem defender a moça e questionar a violência que ela vinha sofrendo. Mas por qual motivo a nossa sociedade relaciona uma mulher que não se depila à sujeira e falta de cuidado? E por qual motivo nos revoltamos com aquelas que decidem que não irão mais retirar os pelos de seus corpos?

Segundo a pesquisadora Marisa Sanematsu, do Instituto Patrícia Galvão, essa raiva está relacionada à imposição de regras e ao controle sobre o corpo da mulher. De acordo com ela, existe uma cultura de que mulheres precisam sempre agradar e servir. Então, atender aos padrões de depilação seria uma forma de ser interessante aos olhos alheios.

“Isso acontece por preconceito mesmo. Falam que é anti higiênico, mas é só para as mulheres, para os homens não. Eu acho que isso é uma bobagem”, disse a pesquisadora ao blog explicando que os pelos sempre foram considerados símbolo de virilidade. Sendo assim, por oposição, a ausência dos fios esteve historicamente ligada à feminilidade.

Marisa também disse achar interessante o fato de que não foram só homens que xingaram e fizeram comentários raivosos na foto da modelo. Assim como eles, algumas mulheres se sentiram incomodadas com a imagem. Para ela, é preciso que todos se questionem por qual motivo o fato de o outro não se adequar a um padrão culturalmente posto incomoda e faz com que tenhamos uma reação violenta.

Ainda de acordo com a pesquisadora os pelos já tiveram outros padrões na História. Para os egípcios, por exemplo, raspar os pelos era algo associado à nobreza e à religiosos. “A família real e os sacerdotes raspavam os cabelos e os pelos do corpo. Sempre associado a uma questão hierárquica. Nessa época, as mulheres não se depilavam”, afirmou.

Segundo Marisa, essa preocupação em eliminar os pelos das mulheres começa entre o fim do século XIX e o começo do XX, quando as vestimentas das mulheres vão diminuindo, fazendo com que pernas e braços ficassem expostos. “Isso está relacionado à entrada da mulher no mercado de trabalho a partir do período das grandes guerras”, explicou.

Sendo assim, como os pelos sempre foram símbolo do masculino, era preciso eliminá-los da visibilidade para reforçar a feminilidade da mulher. “Vale lembrar que surgem, nessa época, as indústrias de aparelhos de barbear e a indústria da moda. O que passa a ditar de forma mais ampla os padrões do que é bonito e do que é feio quando se trata da forma de a pessoa se mostrar para o mundo”, finalizou a pesquisadora.

Giorgia Cavicchioli

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