Mulher e Mídia 6 – Desafios Feministas Seis Décadas depois de O Segundo Sexo

19 de novembro, 2009

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Desafios Feministas Seis Décadas depois
de O Segundo Sexo

por Juliana Cézar Nunes

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Foto: Claudia Ferreira

Dia 6/11 – sexta feira, 14h
O Feminismo e as ligações França-Brasil 
Os 60 anos de O Segundo Sexo, de Simone de Beauvoir
Nilcéa Freire – ministra, Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres
Maria Betânia Ávila – socióloga, feminista e diretora do SOS Corpo – Instituto Feminista para a Democracia
Maria Luiza Heilborn – antropóloga, feminista e diretora do Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos (CLAM)
Brigitte  Lhomond – socióloga, pesquisadora do Centro Nacional de Pesquisa Científica, Laboratório Triangle (École Normale Supérieure Lettres et Sciences Humaines, Universités de Lyon, CNRS)

Frases
“Precisamos pensar em como alargar as fronteiras do feminismo, estabelecer alianças e projetos em comum”
Brigitte Lhomond

“Simone não se interessava por saber do Brasil do carnaval. Queria saber da condição da mulher no Brasil”
Maria Betânia Ávila

“Precisamos nos opor à Simone sombreada, divulgada apenas como ensaísta e não como a verdadeira filósofa que foi, com um importante papel de transformação social”
Maria Luiza Heilborn

Quais serão as lutas das novas gerações de jovens feministas? O jogo está ganho? A provocação é da socióloga francesa Brigitte Lhomond, pesquisadora do Centro Nacional de Pesquisa Científica, em Lyon, e convidada para o evento especial “O Feminismo e as ligações França-Brasil – Os 60 anos de O Segundo Sexo, de Simone de Beauvoir”, realizado na abertura do 6º Seminário A Mulher e a Mídia.

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Brigitte estuda a trajetória dos movimentos de liberação das mulheres e a influência do pensamento de Simone de Beauvoir na luta feminista. Nesta perspectiva, ela acredita que o feminismo continua sendo um importante instrumento de luta, mas com a missão de repensar e discutir de maneira contínua temas como aborto, participação política, prostituição e religiosidade.

Para enfrentar os novos desafios, Brigitte retoma a trajetória das diversas correntes feministas, que começaram a ter visibilidade a partir do final da década de 60, como uma continuação das mobilizações de maio de 68. Ela considera a abundância de grupos, os encontros e enfrentamentos dessas correntes como fundamentais para a construção do feminismo transformador da sociedade.

“A perspectiva do feminismo radical é muito importante. Resultou em uma série de publicações e movimentos. Entre eles o movimento pró-aborto, que se reunia em vários estados para apoiar as mulheres na realização de abortos, e a mobilização de combate à violência contra a mulher, a partir da década de 70”, lembra a pesquisadora francesa.

Em 2010, a legalização do aborto na França completa 35 anos, mas segue desafiando o movimento de mulheres francesas. Segundo Brigitte, ainda é preciso lutar para que a lei seja aplicada até o prazo limite – 12 semanas de gestação. A resistência dos médicos, que recorrem à cláusula de consciência da profissão, e a falta de estrutura nos hospitais públicos franceses atrasam o atendimento das mulheres e muitas vezes fazem com que o prazo limite seja vencido, impossibilitando a interrupção legal da gestação.

A luta pelo direito ao aborto, no entanto, não causa tantas divergências entre as feministas européias quanto temas como paridade política, prostituição e porte de véu pelas mulheres mulçumanas. Existem grupos, como As panteras rosas, que exigem a indiferenciação dos sexos. Elas avaliam que a lei de paridade política, que tem como objetivo uma melhor representação das mulheres, aprofundaria essa diferenciação, contrária ao naturalismo e universalismo, que caracterizam a França.

“Uma análise que divide as feministas na França hoje é a análise da prostituição. Para alguns grupos, trata-se de uma forma de exploração da mulher. Para outros, é uma atividade profissional livre. Apesar dessa divergência, há consenso de que esse tema exige política pública”, ressalta a socióloga do Centro Nacional de Pesquisa Científica da França.

Segundo ela, outro tema que causa discordância entre as feministas é a lei do véu. Sob a justificativa do Estado laico, a França proibiu que as estudantes mulçumanas utilizem véu nas escolas. Algumas correntes feministas consideram que a as jovens mulçumanas estão sendo discriminadas.

Foi aberta uma CPI sobre o porte do véu integral, cada vez mais presente nas ruas francesas por conta da migração. Nestes debates, o feminismo como vontade de igualdade e de transformação acaba sendo instrumentalizado por correntes que antes não lutavam contra a dominação masculina.

“O movimento de liberação das mulheres provocou verdadeiras mudanças na sociedade, mas com o custo de uma certa pausterização desse movimento, com o custo da perda do radicalismo”, destaca a socióloga, que tem se dedicado a pesquisas sobre sexualidade.

“As jovens feministas precisam dar novas respostas a novos desafios. A realidade não é simples e as lutas das antecessoras não foram tão bem sucedidas. Precisamos pensar em como alargar as fronteiras do feminismo, estabelecer alianças e projetos em comum.”

Atualidade de Beauvoir
Para a socióloga e diretora do SOS Corpo – Instituto Feminista para a Democracia, Maria Betânia Ávila, novas questões surgiram, mas o pensamento de Simone de Beauvoir permanece com referência e inspiração.

“Não é um mito, mas é a referência para a construção de um pensamento e uma análise crítica, materialista e histórica, como uma pessoa que foi posicionada politicamente no mundo”, ressalta Betânia. “Simone não se interessava por saber do Brasil de carnaval. Queria saber da condição da mulher no Brasil.”

A socióloga conta que Simone de Beauvoir entrou na militância feminista com mais de 60 anos, quando passou a participar ativamente de atos e a testemunhar em defesa do direito da mulher ao corpo, declarando publicamente já ter abortado.

“Ela ainda tinha crença no socialismo como possibilidade de superar as desigualdades entre homens e mulheres. Suas formulações ainda são atuais, apesar das críticas à abordagem sobre lesbiandade, subestimação e distanciamento dessas questões.”

Lançado em 1949, o livro O Segundo Sexo só foi publicado em 1963 em português. O título chegou a constar no índex da Igreja Católica como leitura proibida. A antropóloga e diretora do Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos (CLAM), Maria Luiza Heilborn, lembra que ele derrubou o mito do cuidar como virtude e destino feminino.

“O Segundo Sexo reúne duas frases fundamentais para o pensamento feminista: Não se nasce mulher, torna-se mulher e A biologia não é um destino. A leitura é atual e necessária. Precisamos nos opor à Simone sombreada, considerada apenas como ensaísta e não com a verdadeira filósofa que foi, com um importante papel de transformação social.”

Seminário Nacional A Mulher e a Mídia 6
Rio de Janeiro, 6 a 8 de novembro de 2009
Realização:

Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM)
Instituto Patrícia Galvão – Comunicação e Mídia
Fundo das Nações Unidas para o Desenvolvimento da Mulher (Unifem)Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud)

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