Uma em cada 5 horas na TV aberta é destinada a programação religiosa

17 de junho, 2016

(Folha de S. Paulo, 17/06/2016) Programas de natureza religiosa ocuparam 21,1% do tempo de programação de TV aberta em 2015 –ou uma em cada cinco horas–, segundo relatório da Ancine (Agência Nacional do Cinema) divulgado nesta quinta (16).

O gênero, segundo o documento, é líder histórico na grade televisiva. Foram classificados como programas religiosos as transmissões de missas, cultos ou rituais. Como o “Show da Fé”, de R.R. Soares, produzido pela Igreja Internacional da Graça de Deus e veiculado pela RedeTV! e pela Band. Ou a “Santa Missa” com Padre Marcelo Rossi, exibida pela Globo nas manhãs de domingo.

Entre as cinco principais emissoras de TV aberta no país, a campeã de locação de horários para igrejas é a Rede TV!, com 43,4% de sua grade destinada ao gênero. Na sequência vem a Record, com 21,7% 0 –o canal paulista é controlado pela Igreja Universal do Reino de Deus e vende seus horários da madrugada a produções da entidade neopentecostal.

Em terceiro lugar, vem a Band, com 16,4% de seu horário comprometido e em quarto a Gazeta, com 15,8%. Na liderança absoluta está a rede CNT, que destina 89% de sua grade a programas religiosos. O único canal que não vende espaço na programação é o SBT. Os dados da Ancine foram antecipados pelo jornal “O Globo” nesta quinta.

Junto com o jornalismo, o gênero religioso responde por um terço da programação da TV aberta. Os programas têm experimentado uma ascensão nos últimos quatro anos — de 13,6% em 2012 saltaram para os 21,1% atuais

Fé eletrônica 

Embora careça de regulamentação específica, a venda de horários em emissoras de TV, que são concessões públicas, sejam eles religiosos ou não, é uma prática considerada irregular pelo Ministério Público Federal. Seria o equivalente a terceirizar um serviço permitido por uma licitação pública —em alguns casos, as emissoras chegam a veicular legendas explicitando que a produção não é de responsabilidade dos canais, mas de seus criadores.

Em sua defesa, as emissoras costumam alegar que trata-se de venda de espaço publicitário, segundo Pedro Ekman, diretor do Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social. No entanto, a legislação limita o espaço publicitário a 25% da programação —limite ultrapassado nos casos da RedeTV! e da rede CNT.

Procurada pela Folha por meio de sua assessoria de imprensa, a RedeTV! não se manifestou até a publicação desta nota. A reportagem não conseguiu contato com a CNT.

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