Apelo feminista perde espaço no programa de governo de Dilma

22 de julho, 2014

(Folha de S. Paulo, 22/07/2014) Estratégico na campanha de 2010, o apelo feminista da candidatura Dilma Rousseff não resistiu aos últimos três anos e meio de mandato e chega às eleições de 2014 com pouco fôlego.

Enquanto em 2010 houve mobilização do PT para dar uma identidade feminina à futura gestão de Dilma, neste ano o tema tem recebido tratamento secundário na construção de sua candidatura à reeleição.

Nas 25 páginas de seu programa de governo, por exemplo, o tema é tratado de modo vago, resumindo-se a apenas um parágrafo, de acordo com o texto entregue à Justiça Eleitoral. Pesquisa Datafolha realizada entre os dias 15 e 16 de julho revela, entretanto, que há espaço a ser explorado.

Na sondagem de intenção de voto estimulada, 17% das mulheres consultadas disseram ainda não saber em quem vão votar em outubro, contra 10% dos homens. Dilma, que lidera as intenções de voto entre homens e mulheres, tem 39% da preferência deles, mas 34% delas.

Não é possível estabelecer uma ligação direta entre a disposição dessa parcela do eleitorado em votar em Dilma e as ações do governo para essa área, mas a gestão petista também não trabalhou de modo que isso se tornasse uma marca ao longo dos últimos quatros anos.

Na campanha, ao menos, reciclou-se o que Dilma tem tentado implementar desde 2013. O programa Mulher: Viver sem Violência, que inclui a criação de centros integrados contra a violência de gênero, não deverá atingir sua meta de entregar 26 unidades em todo o país ainda neste mandato –apenas duas, em Brasília e Campo Grande, estão iniciando as obras.

“Mais empoderamento, autonomia e violência zero serão as diretrizes de nossas políticas para as mulheres no próximo período da presidenta Dilma. A implementação da Casa da Mulher Brasileira será decisiva para este objetivo, assim como as medidas de promoção da igualdade”, diz o projeto de governo petista entregue ao TSE.

O esvaziamento da pauta feminista nas eleições deste ano é reflexo também da fragilidade da imagem construída por seus marqueteiros há quatro anos. Às vésperas do primeiro turno em 2010, o então presidente Lula alertou a cúpula da campanha petista que Dilma liderava as pesquisas com mais intenções de voto entre os homens do que entre as mulheres.

Para buscar reverter a desvantagem, os chefes do marketing do PT adotaram como bordão a ideia de que ela cuidaria do povo com “amor maternal”. Expressões como “Pátria Livre, Pátria Mãe” e “mãe do PAC” eram recorrentes durante a campanha.

À época, a candidata afirmara que indicaria 30% de mulheres para cargos no primeiro escalão de seu governo. A presidente chega a 2014 com uma equipe formada, conforme ela mesmo diz, por “homens meigos”. São cada vez menos os assentos no governo ocupados por líderes do sexo feminino nem objetivamente preocupados com pautas de gênero.

Um de seus últimos atos sobre o tema foi o polêmico recuo ao anular portaria que modificava a forma de registrar os casos de abortos legais feitos na rede pública. A decisão elevava o valor pago pelo procedimento, mas foi alvo de críticas de religiosos.

Na convenção que oficializou sua candidatura à reeleição, no final de junho, a retórica feminista foi usada de outra forma: Lula afirmou que, na “cabecinha” da oposição, “mulher nasceu para ser objeto de cama e mesa”. “Prove e continue provando que mulher não é carne de segunda categoria”, disparou.

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