(El País, 13/12/2015) Contra todas as probabilidades, ao menos 17 mulheres foram eleitas neste domingo para vagas nos conselhos municipais na Arábia Saudita. Estas foram as primeiras eleições em que as cidadãs do país puderam participar, como candidatas e eleitoras. Embora a agência oficial de notícias SPA tenha anunciado apenas quatro mulheres eleitas, o jornal digital Sabq, ligado ao Ministério do Interior, garante que 17 mulheres foram eleitas conselheiras municipais. O outro um terço dos membros serão designados pelas autoridades.
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Pelo menos 13 mulheres foram eleitas para conselhos municipais na Arábia Saudita (Agência Brasil, 13/12/2015)
Mulheres sauditas estreiam como eleitoras e candidatas (O Globo, 12/12/2015)
“No final, os sauditas são menos conservadores do que pensávamos”, disse ao EL PAÍS Eman al Nafjan, uma conhecida blogueira e ativista dos direitos das mulheres.
A primeira mulher a ter sua vitória confirmada no país foi Salma Bint Hizab al Oteibi, que conquistou uma vaga no conselho de Madrakah, uma cidade que fica a 110 quilômetros ao norte de Meca, segundo o presidente da Comissão Eleitoral, Osama al Bar, citado pela agência de notícias saudita, SPA. Oteibi competia com outros nove candidatos, sete homens e duas mulheres, segundo explicou Bar ao divulgar os primeiros resultados das eleições municipais do sábado. Nesse mesmo dia, quando o porta-voz da comissão, Yudaie al Qahtani, disse estar seguro de que algumas mulheres fossem escolhidas para cargos políticos, tanto os jornalistas quanto as próprias candidatas se mostraram céticos.
Apenas 130.000 possíveis eleitoras, em todo o país, se registraram (frente a 1,35 milhão de homens) para votar pela primeira vez. Portanto, só com os votos femininos, era matematicamente impossível conseguir um dos aproximadamente 2.100 postos disponíveis, o que representa dois terços dos conselhos a serem formados nas 284 cidades do reino.
Os sauditas votariam em uma mulher? Dadas as restrições à propaganda eleitoral (sem fotos, transmissão televisiva, nem mensagens de telefone) e, sobretudo, a impossibilidade de que as candidatas se dirigissem diretamente ao público masculino durante a campanha, suas possibilidades de conseguir votos eram extremamente limitadas. Mesmo assim, Lama al Sulaiman, uma candidata entrevistada pelo EL PAÍS em Yeddah, se mostrava confiante. “As duas vezes que fui eleita para a Câmara de Comércio, fui votada por homens. Por que não o fariam agora?”, questionou ela.
Em um colégio eleitoral de Riad, esta correspondente também encontrou um saudita, Said, que garantia ter votado em uma mulher, apesar de reconhecer que seu caso era pouco comum. Mas a maior surpresa veio de Meca, a província que abriga o lugar mais sagrado do islã, a Kaaba, esse cubo negro de pedra ao que os muçulmanos de todo o mundo dirigem suas orações cinco vezes ao dia.
A escolha de Oteibi para um dos conselhos de Meca é um resultado altamente simbólico, considerando a controvérsia que a inclusão das mulheres no pequeno experimento eleitoral das autoridades sauditas suscitou entre os setores mais conservadores do país.
As mulheres devem estar, durante toda a sua vida, sob a tutela de um homem, e sem sua permissão não podem estudar, trabalhar, casar ou viajar, e também estão proibidas de dirigir, de acordo com a “a cultura local”. No entanto, apesar dessas restrições, um crescente número aproveitou a educação gratuita facilitada pelo Estado (inclusive com generosas bolsas para estudar no exterior) e há brilhantes exemplos de médicas, professoras universitárias, empresárias, advogadas (que não podem exercer sua função perante os tribunais) e, inclusive, pilotas de aviões.
Os conselhos municipais possuem pouco poder, mas muitos sauditas, homens e mulheres, consideram que é uma oportunidade de participar da tomada de decisões, por mais básica que seja.
Ángeles Espinosa
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