Italianos elegem primeira mulher para prefeitura de Roma

19 de junho, 2016

(Folha de S.Paulo, 19/06/2016) A advogada Virgínia Raggi, de 37, foi eleita prefeita de Roma, neste domingo (19), vitória que representa um duro golpe para o governo de Matteo Renzi.

Com 80% das urnas apuradas, a candidata do partido anti-establishment Movimento 5 Estrelas (M5S) aparece com 67,2% dos votos, bem à frente de Roberto Giachetti, apoiado pelo Partido Democrático (PD, centro-esquerda) de Renzi. No primeiro turno, Virgínia obteve 35% dos votos.

À imprensa, Raggi disse que este é “um momento histórico que marca uma virada: pela primeira vez, uma mulher chega à prefeitura de Roma, em uma época na qual a igualdade de oportunidades continua sendo uma quimera”.

Anti-establishment 5-Star Movement (M5S) candidate as Rome's mayor Virginia Raggi poses for photographers as she casts her ballot in polling station in Rome, Sunday, June 19, 2016. Mayoral runoffs are held in Rome, Milan and other big Italian cities Sunday. If Raggi wins, she'll be the first woman to serve as Rome mayor. (AP Photo/Fabio Frustaci) ORG XMIT: XFF129

A candidata do M5S à prefeitura de Roma, Virginia Raggi, durante votação neste domingo (19) (Foto: Fabio Frustaci/Associated Press)

Ela se comprometeu a “devolver legalidade e transparência às instituições, depois de 20 anos de abandono e de Roma Capital”, referindo-se a uma rede de corrupção revelada em 2014 na capital italiana.

“Agora é trabalhar, há tantos problemas, [mas] estou pronta para governar”, acrescentou.

O M5S foi fundado pelo humorista Beppe Grillo em 2009.

FORA DA CAPITAL

Em Turim (noroeste da Itália), outra novata do MS5, Chiara Appendino, 31, destronou com cerca de 54% o prefeito em final de mandato Piero Fassino, do PD.

“Fizemos história”, comemorou Chiara, em sua conta no Twitter.

Já em Milão (norte), a capital econômica do país, o candidato do PD Giuseppe Sala venceu a disputa com mais de 51% dos votos, segundo resultados quase definitivos.

O partido de Renzi manteve Bolonha (centro do país), um histórico reduto eleitoral da esquerda, mas, em Nápoles, a sigla sequer chegou ao segundo turno. Lá, o prefeito em final de mandato, Luigi De Magistris, um atípico político de esquerda e inimigo de Renzi, voltou a ser o mais votado.

Na última sexta-feira (17), De Magistris anunciou a fundação de um novo movimento de esquerdas, após as eleições.

“Hoje é algo muito especial. Temos a sorte de ter alguém novo que poderá mudar as coisas. Todos os outros fracassaram. Espero que eles consigam”, disse à AFP o aposentado Aldo, de 72 anos, que votou no M5S em Roma.

Há semanas, Matteo Renzi tenta minimizar o impacto do já esperado mau desempenho de seu partido nas eleições municipais, garantindo que seu único objetivo é o referendo de outubro sobre a reforma constitucional. O primeiro-ministro já anunciou que, em caso de derrota nessa consulta, renunciará ao cargo.

Os resultados deste domingo (19) devem confirmar o avanço do M5S, movimento que se tornou, em 2013, o segundo maior partido da Itália, com 25% dos votos nas eleições legislativas. Seu discurso de denúncia sistemática da corrupção política continua a angariar adesões.

RUPTURA

A denúncia da corrupção foi a palavra de ordem da campanha de Virgínia Raggi. Ela não divulgou, porém, muitos detalhes de seu programa para reduzir a enorme dívida da cidade (12 bilhões de euros). Tampouco antecipou nomes de sua futura equipe.

Essa última questão é essencial, já que o M5S não conta com políticos veteranos, o que já se notou em sua gestão das cidades onde governa, como Parma, ou Livorno.

Nos últimos dias, a imprensa italiana criticou Virgínia por não ter declarado receitas provenientes de consultorias, o que a candidata nega.

“Não sabem mais como me atacar. Já esclareci. Está tudo declarado”, afirmou ela.

Essas eleições “deixarão uma marca na política italiana, uma marca de descontinuidade e uma possível ruptura do sistema”, afirmou no sábado (18), em um editorial, o diretor do jornal “La Repubblica”, Mario Calabresi.

Com o M5S, “elegeram-se as caras novas e a simpatia, considerou-se a inexperiência como o maior valor. E se associou à esperança”, completou, comparando seus militantes com passageiros que assumem o controle de um avião em protesto pelos atrasos nos voos e pelos benefícios dos pilotos.

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