‘Não sou um fenômeno’, diz deputada mais votada pela terceira vez no RS

06 de outubro, 2014

(G1, 06/10/2014) Aos 33 anos, Manuela d’Ávila (PC do B) já tem um currículo invejável na política do Rio Grande do Sul e do país: foi a vereadora mais jovem da história de Porto Alegre e a deputada mais votada do estado por três vezes, a última delas na eleição de domingo (5). Com 222.436 votos, mais do que o dobro do segundo colocado, ela conquistou uma cadeira na Assembleia Legislativa gaúcha após dois mandatos na Câmara Federal.

Manuela é considerada um fenômeno eleitoral por aliados e adversários. Mas para ela, os números só aumentam a responsabilidade para exercer a nova função.

“Diferente do que as pessoas dizem, eu não me julgo um fenômeno. Fenômeno é quem se elege pela primeira vez. Eu disputei seis eleições, esse é meu quarto mandato parlamentar. Dizer que isso é um fenômeno é uma explicação rasa, é desconhecer que existe todo um processo de aproximação com a sociedade, de me esforçar para representar uma geração”, disse em entrevista ao G1 nesta segunda-feira (6).

A votação expressiva não é novidade para Manuela. Em 2006, ela foi eleita a deputada federal mais votada do Rio Grande do Sul, feito que repetiu em 2010, sendo a parlamentar mais votada do Brasil, com quase 500 mil votos. Na Câmara Federal, presidiu a Comissão de Direitos Humanos da Câmara, foi líder do PC do B e da bancada gaúcha. Defendeu bandeiras de interesse da juventude como leis de estágio e meia-entrada.

O ciclo de trabalho na capital federal que se encerra ao final de 2014 deixou a deputada satisfeita, com a sensação de dever cumprido, diz ela. Voltar à terra natal, segundo a própria, faz parte do que chama de “renovação”. “Em 2012, quando perdi a eleição [para a prefeitura de Porto Alegre], refleti muito e tomei a decisão de não concorrer a deputada federal. Tinha receio que as pessoas achassem que eu tinha alguma decepção com Brasília, mas eu não tenho. Só se desilude, quem se ilude. Fui para Brasília superjovem, com 25 anos. Ocupei todos os espaços possíveis. Não sou imprescindível. Faz parte um exercício de desapego com os espaços de poder, de crença real na renovação”, justifica.

Em 1º de fevereiro, a deputada toma posse na Assembleia Legislativa. A partir de 2015, o PC do B terá duas cadeiras na Casa. Além de Manuela, Juliano Roso também se elegeu. Ela nega, entretanto, o título de “puxadora de voto”. “As pessoas desconhecem nosso sistema político. Dizem que eu elejo os outros, mas não é verdade. Na verdade todos os deputados são eleitos pelos outros. O cálculo para ser eleito é de 111 mil votos. Exceto eu, ninguém fez 111 mil votos. Portanto, todos elegem a todos, porque são as chapas dos partidos políticos”, explicou.

Manuela diz que nos últimos anos aprendeu com a pluralidade de Brasília e prevê muito trabalho nos próximos quatro anos, no parlamento gaúcho. “Brasília é muito plural. A convivência com a diferença para mim é algo importante, que acho que o Rio Grande do Sul, na sua política, precisa avançar. Ouvir mais, dialogar mais, construir mais. Eu aprendi a ouvir os outros, muito. E a perseverar. Talvez a maior lição individual de Brasília para mim seja perseverar. Não tenho medo de nenhum desafio”, resumiu.

A comunista dispensa, porém, o título de “musa” da Assembleia Legislativa, elogio que recebeu na Câmara e que não a agrada. Para ela, o Legislativo não é um ambiente propício para ser referenciada dessa maneira. “Todas as pessoas gostam de ser elogiadas quando elas estão em ambientes para serem elogiadas. Eu gosto muito que o meu marido me ache bonita. Mas eu não estava concorrendo à miss Brasil. Eu disputei uma eleição e quero ser avaliada pelo meu trabalho. E eternamente os homens não são caracterizados pela estética e as mulheres, sim. Não me incomoda individualmente [o termo], mas me incomoda como mulher que luta para que as mulheres sejam respeitadas”, analisou.

Após uma eleição com folgas, Manuela não terá tempo para descansar. Na agenda das próximas três semanas, ela deve dedicar grande parte do seu tempo para ajudar a tentar reeleger o candidato a reeleição no governo do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT). O petista disputará o segundo turno com José Ivo Sartori (PMDB). “Agora eu passo a ajudar na coordenação da campanha de maneira mais intensa, além das minhas próprias agendas de campanha em favor do Tarso e da Dilma. Para nós não altera nada, ao contrário, apenas tenho a possibilidade de reforçar a candidatura do Tarso”, concluiu.

Rafaella Fraga

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