Em Porto Alegre, ato de mulheres em defesa de Lula faz história

23 de janeiro, 2018

Manifestação no centro da cidade reuniu milhares de mulheres de todas as regiões do país. “Resgatar a justiça é bom para todo o povo brasileiro”, disse a ex-presidenta Dilma Rousseff

(Rede Brasil Atual, 23/01/2018 – acesse no site de origem)

A Praça da Matriz, no centro de Porto Alegre, cenário da Campanha da Legalidade, foi palco novamente de um ato nesta terça-feira (23) que, como a campanha da legalidade comandada por Leonel Brizola em 1961, entrará para a história do Brasil. Tal como a luta pela posse de João Goulart, liderada pelo então governador, a manifestação de hoje, pelo direito do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ser candidato à Presidência da República, comandada por milhares de mulheres, defende o respeito às leis e um julgamento isento de pretensões políticas.

O ato, inicialmente previsto para ocorrer em um auditório da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, reuniu, na praça pública da capital gaúcha, políticos de diferentes partidos e cidadãos de todas as regiões do Brasil, e até do exterior.

“Minhas raízes são da terra, minha família é da agricultura familiar. Hoje estou aqui porque essa luta é de todos nós, para defender a democracia. O Lula merece essa luta, ele nos representa. Desde que houve o golpe, sentimos muitas diferenças, os trabalhadores da terra não têm mais apoio nenhum, acabou o financiamento, que foi para o agronegócio. Esse governo Temer acabou com a agricultura familiar”, afirmou Irdes Guadagnin, de 59 anos, trabalhadora rural aposentada e educadora popular.

“Estou no Brasil em defesa da democracia e rodei mais de mil quilômetros para estar aqui. Entendemos que o que acontece no Brasil e na Argentina pode refletir no Uruguai, onde querem tirar os avanços que tivemos”, disse o dirigente sindical uruguaio Raúl Ferrando.

O caminhão de som parado em frente à Assembleia recebeu parlamentares como as deputadas federais Maria do Rosário (PT-RS), Alice Portugal (PCdoB-BA) e Benedita da Silva (PT-RJ), a deputada estadual Manuela D’Ávila (PCdoB-RS) e as senadoras Lídice da Mata (PSB-BA), Fátima Bezerra (PT-RN), Gleisi Hoffmann (PT-PR, presidenta nacional do partido), entre outros parlamentares. Movimento estudantil e coletivos da juventude tiveram forte presença.

“O povo se encontra nas ruas em apoio à Lula a ter o direito de ser candidato. Condená-lo significará condenar também o país e os trabalhadores. Tivemos no governo Lula uma mudança no país, com mais inclusão. Agora, com os investimentos congelados e as reformas infames, o povo está junto em defesa da democracia”, afirmou Benedita da Silva.

“Sem crime, cassaram a primeira mulher a vestir a faixa presidencial. Agora querem cassar o retirante nordestino que não fala inglês e nem francês, mas fala a língua do povo”, exclamou Alice Portugal.

Pré-candidata à Presidência da República, Manuela enfatizou que não cabe ao Judiciário fazer juízo político. “O que estamos vendo é o desdobramento do golpe. O único juízo político é o das urnas e é esse que queremos ver Lula sendo submetido.” Olhando a multidão que ocupava a Praça da Matriz, ela lembrou versos do poeta Thiago de Mello:

Faz escuro mas eu canto,
porque a manhã vai chegar.
Vem ver comigo, companheiro,
a cor do mundo mudar.
Vale a pena não dormir para esperar
a cor do mundo mudar.
Já é madrugada,
vem o sol, quero alegria,
que é para esquecer o que eu sofria.
Quem sofre fica acordado
defendendo o coração.
Vamos juntos, multidão,
trabalhar pela alegria,
amanhã é um novo dia.

Interesses escusos
A manifestação, realizada na véspera do julgamento do recurso de Lula pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), foi encerrada com discurso da ex-presidenta Dilma Rousseff, que classificou o golpe em curso como um ato que humilhou o país.

“Colocaram o Brasil de joelhos, submetido não aos seus próprios interesses, mas aos interesses dos países do norte”, disse. Para ela, o golpe teve como objetivo destruir o PT e o Lula, mas “deu errado”. E citou pesquisas eleitorais que colocam o ex-presidente como favorito nas eleições de outubro.

“O golpe fracassou politicamente, nenhuma liderança ‘deles’ resiste ao escrutínio popular. O único que restou, o Alckmin, não tem apoio. E a ‘invenção’, como o Doria, foi transformada na sua real proporção, ou seja, do ponto de vista político, a nada.”

Dilma lembrou o papel histórico que a Praça da Matriz já teve no destino do Brasil durante a Campanha da Legalidade, situação que volta a acontecer 57 anos depois. “Estamos numa resistência democrática. Antes era a ditadura militar nesta praça, agora é a resistência ao golpe parlamentar.”

Como tem feito em outros eventos públicos, a ex-presidenta voltou a enfatizar que seu impeachment foi o primeiro ato do golpe; seguido pelo segundo ato, expresso nas reformas e leis aprovadas no governo Temer, e que “jamais” teriam apoio popular; até chegar ao terceiro ato, a proibição de Lula ser candidato à Presidência.

Dilma afirmou que o julgamento de Lula tem “absurdos” reconhecidos por juízes nacionais e internacionais e que, na verdade, é um processo de perseguição política. “Com o apoio de vocês, Lula terá condições de lavar e enxugar a alma deste país.”

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