Especialistas comentam o significado de um governo com mais mulheres (APG)

15 de dezembro, 2010

(Agência Patrícia Galvão) “Das 5 ministras do governo Lula, duas foram candidatas à Presidência. (…) Bastou a presidente exigir que a cota de 30% fosse cumprida para que os partidos se mobilizassem e indicassem mulheres. Portanto, o discurso de que não é possível cumprir a cota de 30% por falta de mulheres qualificadas para a política vai por água abaixo.” “Temos mulheres extremamente qualificadas, mas os partidos não indicam porque as mulheres não têm poder partidário.”

A Agência Patrícia Galvão repercute com especialistas em política a busca que a presidente eleita Dilma Rousseff tem empreendido para compor seu governo com um mínimo de 30% de mulheres no primeiro escalão. Saiba as opiniões e análises da senadora eleita Marta Suplicy (PT-SP), da deputada eleita Luiza Erundina (PSB-SP), do pesquisador José Eustáquio Diniz Alves (IBGE) e da cientista política Maria Hermínia Tavares de Almeida (USP).


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“Temos mulheres extremamente qualificadas, mas os partidos não indicam porque as mulheres não têm poder partidário”
Senadora Marta Suplicy (PT-SP)

“No seu primeiro discurso quando ganhou a eleição, a presidente Dilma Rousseff disse que um dia iremos preencher, de forma natural, os cargos dos ministérios com 50% de mulheres. E não como agora, na marra, com cota, brigando com os partidos. Dilma irá fazer o que se propôs, mas está tendo que ‘pescar’ as mulheres para preencher os 30% dos cargos. Temos mulheres extremamente qualificadas, mas os partidos não indicam porque as mulheres não têm poder partidário. E se não ocuparem cargos como esses, no primeiro escalão do governo, terão menos possibilidade de cargos eletivos. Entre as mulheres convocadas e convidadas por Dilma, algumas já são bastante conhecidas e outras não, mas irão se tornar e é disso que as mulheres precisam. Fico muito contente que seja assim.”

Marta Suplicy – senadora eleita (PT-SP)
(11) 8315-6239 (assessoria de imprensa)


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“O rigor da presidente em definir as mulheres – todas com perfil de competência e compromisso político – sinaliza que temos mulheres na política muito bem preparadas.”
Deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP)

“Conseguimos eleger uma mulher para a Presidência do país por causa da luta das mulheres. O partido e Dilma Rousseff têm méritos, mas há 80 anos, desde que a primeira mulher foi eleita prefeita no Rio Grande do Norte, lutamos para colocar mais mulheres no Poder Legislativo.

O importante, também, é que elegemos esta mulher, pois não basta ser mulher. O fato de Dilma Rousseff se comprometer a nomear pelo menos 30% de mulheres no primeiro escalão é um indicador de que ela vai fazer a diferença no Executivo, pois se trata de uma cota que não se conseguiu até hoje ser concretizada no Poder Legislativo.

O empenho de Dilma Rousseff nos anima e provoca a sociedade. O rigor da presidente em definir as mulheres – todas com perfil de competência e compromisso político – sinaliza que temos mulheres na política muito bem preparadas. São companheiras que já estão na luta, em funções de muita responsabilidade, testadas e comprovadas em relação a sua competência. A presidente eleita sabe que terá uma responsabilidade enorme sobre os acertos no seu governo.

Só não temos mais mulheres no espaço de poder porque o quadro partidário ainda é dominado por uma cultura machista, centralizadora e que não estimula a posição das mulheres nos cargos de direção. Os partidos não investem na força política das mulheres. Elas se mantêm invisíveis, inclusive sem espaço na mídia. A luta das mulheres ainda é grande e precisamos de uma reforma política o mais rápido possível.”

Luiza Erundina, deputada federal (PSB-SP)
(61) 3215-5620 (gabinete)


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“Bastou a presidente exigir que a cota de 30% fosse cumprida para que os partidos se mobilizassem e indicassem mulheres”
José Eustáquio Diniz Alves, demógrafo do IBGE

“Somente 30 países no mundo tem acima de 30% de mulheres no comando de seus ministérios. Se Dilma Rosseff cumprir a meta de 30% e nomear 11 mulheres para o primeiro escalão, o Brasil dará um salto no ranking internacional e entrará para um clube seleto de mulheres em espaço de poder e decisão.

Isso deve servir de exemplo para os governadores e prefeitos. Bastou a presidente exigir que a cota de 30% fosse cumprida para que os partidos se mobilizassem e indicassem mulheres. Portanto, o discurso de que não é possível cumprir a cota de 30% por falta de mulheres qualificadas para a política vai por água abaixo.

Ficou provado também que há muitas mulheres preparadas – basta ver o currículo das ministras convocadas e convidadas por Dilma Rousseff. O problema é que as mulheres ainda não têm força política dentro dos partidos, que são comandados por homens que sempre indicam homens para os cargos de primeiro escalão.

Até hoje, tivemos no máximo cinco ministras – no governo Lula –, e duas delas, Dilma Rousseff e Marina Silva, foram candidatas à presidência. Ao se abrir espaço para mais mulheres nos ministérios, se permite a formação de um capital político extremamente importante e necessário. Basta observar que o número de mulheres na Câmara Federal brasileira é tão baixo que 140 países estão a nossa frente em número de mulheres nesse cargo.

Importante também lembrar que a cota de 30% que Dilma Rousseff se comprometeu a cumprir é importante, mas nenhuma novidade. A meta estabelecida internacionalmente é a paridade – 50/50. Isso é possível e países como o Chile, Espanha, Bolívia e Suíça alcançaram paridade de gênero em pastas ministeriais. O Brasil assinou o ‘Consenso de Quito’, em 2007, e o ‘Consenso de Brasília’, em 2010, se comprometendo com a paridade de gênero para o desenvolvimento e a democracia.”

José Eustáquio Diniz Alves – demógrafo
Professor Titular do Mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais
da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE
Rio de Janeiro/RJ
(21) 214246 89 ou 2142-46 96 / 9966 6432 – [email protected] 

 


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“Colocar mulheres nos ministérios é um feito simbólico importante, assinala para outras que é possível chegar lá”

Maria Hermínia Tavares de Almeida, cientista política e professora da USP

“Era de se esperar que Dilma Rousseff tivesse sensibilidade para esse tipo de questão, colocar mais mulheres em postos de primeiro escalão. No sistema político prevalece a lógica de que quem tem mandato eletivo é mais qualificado e tem mais chance de assumir cargos de primeiro escalão, portanto, menos mulheres são indicadas. Colocar mulheres nos ministérios é um feito simbólico importante. Mulheres de projeção em posições de visibilidade assinalam para outras que é possível chegar lá. É um estimulo para que outras mulheres entrem no jogo eleitoral, pois precisamos de mais mulheres disputando e se elegendo. O número ainda é muito pequeno.

As mulheres convocadas por Dilma Rousseff irão assumir cargos significativos. Parece que estão qualificadas; os currículos são consistentes. Vamos torcer para que façam boas gestões.”

Maria Hermínia Tavares de Almeida – cientista política e professora da USP
(11) 3091-6029

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