Problemas que dificultam o empoderamento feminino

06 de outubro, 2015

(Opinião e Notícia, 06/10/2015) Como ser uma profissional bem-sucedida em um mundo onde os afazeres domésticos são vistos como tarefas exclusivamente femininas?

“Ela é mãe, esposa e profissional bem-sucedida, uma verdadeira Mulher Maravilha”. Frases como esta costumam ser ditas em tom de elogio, mas ocultam um problema que afeta milhares de mulheres. Como ter uma carreira de sucesso em um mundo onde tarefas domésticas ainda são vistas como uma função exclusivamente feminina.

Um relatório divulgado pelo Banco Mundial no último mês de setembro revelou que de 173 economias analisadas, 155 tem pelo menos uma lei que dificulta a inserção das mulheres no mercado de trabalho.

No caso do Brasil, a falta de creches públicas, a diferença salarial, a baixa representatividade no Congresso e a cultura machista são os maiores problemas.

O país tem uma população feminina de 102.721.419. Nos últimos anos, a participação das mulheres no mercado de trabalho saltou 26,6%, em 1980, para 48,9%, em 2010, segundo o IBGE.

Porém, esse aumento não foi acompanhado de mudanças sociais, estruturais e culturais. É o que conta ao Opinião e Notícia, Verônica Ferreira, pesquisadora do SOS Corpo, instituto de pesquisa e formação política que trabalha para fortalecer o movimento feminista.

Segundo Verônica, um dos maiores desafios da mulher brasileira hoje é conciliar carreira e maternidade. “Nossa entrada no mercado de trabalho não foi acompanhada de uma socialização do trabalho reprodutivo, nem no interior da família nem com o próprio Estado. Ou seja, o trabalho de cuidado e os afazeres domésticos permanecem uma carga das mulheres. A permanência do trabalho reprodutivo como uma atribuição e um encargo solitário e completamente sem apoio das mulheres faz com que essa nossa situação no trabalho remunerado se agrave”.

A situação é mais complicada entre mulheres que não têm como pagar uma babá ou uma creche. Por isso, uma das causas defendidas pelo SOS Corpo é a criação de creches públicas, asseguradas pelo Estado, que funcionem em horários alternativos, diferentes do horário escolar. “Defendemos também que elas sejam perto do local de moradia. Porque, sobretudo no contexto brasileiro, a questão da mobilidade é terrível. Não dá para a mulher sair de casa levando uma criança para o local de trabalho.”

Segundo Verônica, investir na igualdade de gênero no trabalho complementará os avanços obtidos na escolarização de meninas. Dados do relatório Educação Para Todos No Brasil 2000-2015, publicado pelo MEC em junho do ano passado, mostram que as mulheres representam 40% a mais do que os homens entre as pessoas acima de 24 anos “que frequentam o ensino superior ou mestrado/doutorado ou apresentam 15 anos ou mais de estudo”.

“Houve um avanço na escolarização das mulheres. Hoje, elas estão mais escolarizadas do que os homens. Mas a maior escolarização das mulheres não têm se revertido em melhor situação no mercado de trabalho. Justamente porque outros fatores estruturantes, atuam como limites e dificuldades para que elas possam ter uma inserção justa.”

Mulheres trabalhando beneficiam a economia

Outro relatório recente, feito pelo instituto de pesquisa americano McKinsey Global Institute, alertou para a desigualdade de gênero no mercado de trabalho mundial. Segundo o documento, investir na igualdade de gênero no ambiente de trabalho pode injetar US$ 12 trilhões na economia global.

O instituto analisou 90 países e concluiu que 40 deles têm um nível alto ou extremamente alto em pelo menos um dos indicadores de desigualdade de gênero analisados (igualdade no ambiente de trabalho, serviços essenciais e facilitadores para a inclusão no mercado de trabalho, proteção jurídica, voz política, segurança física e autonomia).

No caso do Brasil, a participação das mulheres na política ainda é muito baixa. Entre os 11 ministros do Superior Tribunal Federal (STF), há apenas duas mulheres: as ministras Carmen Lúcia (vice-presidente do órgão) e Rosa Weber. Em toda sua história, o STF teve apenas três mulheres como membro. Além de Rosa Weber e Maria do Rosário, Ellen Gracie ocupou, de 2000 a 2011, um assento no mais alto órgão do Poder Judiciário brasileiro (confira aqui a lista completa de ministros que passaram pelo STF).

Dos 513 assentos da Câmara dos Deputados, apenas 51 são ocupados por mulheres. A situação não é diferente no Senado Federal: dos 81 parlamentares da Casa, apenas 13 são mulheres.

Segundo Verônica, essa baixa representatividade é um resultado da falta de tempo das mulheres, que acabam presas entre os afazeres domésticos e seu direito de trabalhar para garantir sua autonomia. “Por isso há necessidade de investimento em políticas públicas que permitam liberar o tempo das mulheres para participar da política, criando políticas que visem a paridade de condições no mercado de trabalho”.

Lei Maria da Penha

Ambos os relatórios, no entanto, elogiam a Lei Maria da Penha como um exemplo de iniciativa para assegurar a proteção da mulher. Sancionada pelo ex-presidente Lula em agosto de 2006, a lei completou nove anos com importantes avanços no combate à violência contra a mulher.

“A Lei Maria da Penha é uma conquista histórica, um instrumento fundamental de proteção às mulheres. Ela coloca a violência contra as mulheres como um crime, incluindo a violência doméstica, que era muito naturalizada antes dessa lei. Graças à essa lei a gente avançou muito no debate público sobre a violência contra as mulheres” explica Verônica.

Melissa Rocha

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