Candidatas a doméstica triplicam nas agências

04 de outubro, 2015

(Folha de S. Paulo, 04/10/2015) Tempo de espera por uma vaga tem aumentado, dizem empresas do setor

Nova lei, que encarece custo do trabalho doméstico, também é apontada como causa de demissões na crise

Com o fechamento de vagas em serviços, comércio e indústria, a procura por um emprego de doméstico chegou a triplicar em agências especializadas na área.

Na Casa e Café, uma das maiores agências on-line do setor, o número de pessoas cadastradas saltou 180%, de 173 mil em setembro de 2014 para 484 mil no mês passado.

“Houve época em que dois patrões negociavam com a mesma empregada. Isso não acontece mais. O cliente agora ficou com maior poder de negociação”, diz Daniele Kuipers, sócia da agência.

Maria das Graças Brocchine, 55, é uma das candidatas. Ela trabalhou por um ano por conta própria, vendendo roupas em Valença (BA).

O negócio não deu certo e, há um mês, ela voltou ao Rio, onde morou por 40 anos, em busca de emprego. “Tem mais gente procurando vaga, então está mais difícil.”

Na agência de emprego Ipiranga, em São Paulo, o número de interessadas em vaga de doméstica subiu de 150 para 500 pessoas por mês de um ano para cá.

Mas a dona, Zilene Segura, rejeita a maioria. “São pessoas que trabalhavam em metalúrgica ou em cabeleireiro. Não têm experiência nem referência”, argumenta.

Ana Clara Sampaio, formada em propaganda e marketing pela ESPM, é uma novata na área. Ao 30 anos, está fazendo bico como babá nos fins de semana, após passar um ano em busca de vaga na área de administração.

“Já fui a feirões de emprego, mas são 10 mil pessoas para poucas vagas. Então, estou de babá.”

Dona da agência Domésticas Recife, Márcia Santos disse que geralmente duas candidatas ficavam à espera de emprego, mas recentemente o número cresceu.

“Muita gente perdeu emprego em Suape [o complexo industrial de Recife] e demitiu as empregadas. Agora mesmo tenho dez candidatas na minha frente rezando por uma vaga.”

PEC DAS DOMÉSTICAS

Além da crise que leva às demissões, a PEC das Domésticas, que confere direitos aos trabalhadores da área, foi regulamentada neste ano e encareceu o custo do serviço.

Em Recife, Lúcia Ribeiro, 58, foi demitida sob a justificativa do aumento de custos trazidos pela PEC, como INSS e FGTS. Ela diz passar o dia sentada na agência de emprego esperando ser chamada.

Mário Avelino, presidente do Instituto Doméstica Legal, diz que a lei vai reduzir o número de domésticas –hoje perto de 6 milhões, segundo dados do IBGE em julho – e aumentar a formalização. Segundo Avelino, existem 2,9 milhões na informalidade, descontadas as diaristas.

“A crise pode ter interrompido o ciclo de redução do número de domésticas, mas isso é transitório. Com a ajuda da PEC, vamos ser mais parecidos com países desenvolvidos, em que só os mais ricos têm empregados, e bem remunerados.”

Acesse o PDF: Candidatas a doméstica triplicam nas agências (O Estado de S. Paulo, 04/10/2015)

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