Mulheres podem ser alvos mais frequentes do que homens no comando de empresas

18 de fevereiro, 2015

(UOL Notícias, 18/02/2015) Indra K. Nooyi. Marissa Mayer. Ellen J. Kullman. Irene B. Rosenfeld. Meg Whitman. Mary T. Barra.

O que essas mulheres têm em comum? Elas são presidentes-executivas de algumas das maiores empresas do país: PepsiCo, Yahoo, DuPont, Mondelez, Hewlett-Packard e General Motors. Mas elas também compartilham algo mais. Nos últimos anos, as empresas delas foram alvo de investidores ativistas e outros acionistas buscando promover mudanças.

Será uma coincidência?

Apesar de as mulheres terem avançado na quebra do teto de vidro, elas ainda representam uma pequena fração dos presidentes-executivos de empresas de capital aberto. Apenas 23 mulheres lideram empresas do índice Standard & Poor’s 500. Mas pelo menos um quarto delas entrou na mira dos investidores ativistas.

O que poderia explicar esse fenômeno? As empresas lideradas por mulheres realmente apresentam maior probabilidade de terem um desempenho ruim que exige mudança? Ou os investidores ativistas –todos eles homens– veem as mulheres como alvos mais fáceis?

Patricia Sellers, uma editora sênior da revista “Fortune” que dirige a edição “Mulheres Mais Poderosas” da revista, levantou recentemente a questão online: “Nelson Peltz tem um problema com mulheres?” Peltz, um antigo investidor ativista, passou a visar Indra Nooyi, da Pepsi, Ellen Kullman, da DuPont, e Irene Rosenfeld, da Mondelez.

O Starboard Value, outro fundo ativista, voltou sua atenção para o Yahoo e Meyer. J. Kyle Bass, o investidor que previu a bolha das hipotecas de alto risco, tem pressionado publicamente Mary T. Barra, da GM, a aumentar seus dividendos, o que ela fez na semana passada, mas não tanto quanto Bass queria. Meg Whitman, da HP, colocou Ralph V. Whitworth em seu conselho diretor em 2011, em parte para impedi-lo de travar uma disputa por procuração contra a empresa.

Não é preciso dizer que os investidores ativistas travaram principalmente campanhas contra presidentes-executivos do sexo masculino por causa da escassez de mulheres nos altos escalões de grandes empresas. Dos 28 investimentos ativistas de Peltz em empresas desde a criação de seu fundo, apenas três eram dirigidas por mulheres. Isso significa que 89% delas eram lideradas por homens. E nem todos os investidores ativistas podem ser rotulados do mesmo modo. Por exemplo, o investidor Daniel S. Loeb pressionou pela nomeação de Mayer como presidente-executiva do Yahoo após remover o presidente-executivo existente, um homem.

Mesmo assim, a anomalia persiste, levantando a questão sobre se os ativistas estão visando as empresas lideradas por mulheres.

Todo investidor ativista ao qual perguntei sobre isso ficou ultrajado com a pergunta, insistindo que o desempenho da empresa, não o sexo do presidente-executivo, é o único fator que pesa no cálculo deles para buscar um investimento ou campanha ativista.

Dependendo de como se separa os dados, ao longo das últimas várias décadas as empresas lideradas por mulheres às vezes apresentaram desempenho melhor que a de seus pares e às vezes apresentaram desempenho pior, sem uma tendência clara. Mesmo assim, alguns estudos mostram que a diversidade de gênero no topo das empresas em geral leva a um desempenho melhor. (Outros estudos sugerem que presidentes-executivos do sexo feminino têm maior aversão a risco, o que aumenta a probabilidade de terem um desempenho melhor do que seus pares do sexo masculino em um cenário econômico adverso. Mas é difícil generalizar dada a pequena amostragem de mulheres presidentes-executivas.)

Pode haver um preconceito de gênero subconsciente entre os investidores ativistas, segundo indica uma pesquisa recente.

Acadêmicos da Universidade de Utah e da Universidade de Washington, em Saint Louis, realizaram um estudo publicado em 2012 no qual mostraram um prospecto de oferta inicial de ações a um grupo de 222 estudantes de MBA, 45 deles mulheres. A um grupo foi mostrado o prospecto com um homem presidente-executivo listado no comando da empresa. A outro grupo foi mostrado o mesmo prospecto, mas com uma mulher listada como presidente-executiva.

O resultado foi previsível: “Apesar das qualificações pessoais idênticas e dos aspectos financeiros firmes, as fundadoras/presidentes-executivas do sexo feminino foram vistas como sendo menos capazes que seus pares do sexo masculino, e as ofertas iniciais de ações lideradas por mulheres foram consideradas como investimentos menos atraentes”, apontou o estudo.

Pesquisadores também mostraram que se espera de executivas do sexo feminino que sejam mais propensas a fazer concessões e a apresentarem menor probabilidade de lutar, o que, para um ativista buscando um papel no conselho diretor, pode parecer um alvo mais atraente.

Sheryl Sandberg, a diretora de operações do Facebook, apontou recentemente para um estudo da Universidade de Yale sobre o papel de gênero e poder. “A teoria do papel social declara que como homens e mulheres ocupam papéis sociais diferentes, eles se comportam de formas previsivelmente diferentes de acordo com esses papéis. Especificamente, como as mulheres apresentam maior probabilidade que os homens de exercer papéis de alimentação e carinho (isto é, maternos), elas se comportam de modo mais comunal e menos agressivo”, disse o estudo.

Os pesquisadores apontaram que “uma mulher presidente-executiva que falava desproporcionalmente mais tempo que outros em um ambiente organizacional era classificada como sendo menos competente e menos adequada para liderança do que um homem presidente-executivo que falasse a quantidade de tempo equivalente. E é importante destacar, esse era a percepção tanto entre homens quanto entre mulheres”.

Também é verdade que mais mulheres são demitidas de altos cargos do que homens. Um estudo de 2013 realizado por uma unidade da PricewaterhouseCoopers apontou que “entre os presidentes-executivos que deixaram o cargo uma vez nos últimos 10 anos, um percentual maior de mulheres foi forçado a sair do que homens (38% de mulheres contra 27% de homens)”.

Logo, talvez percepções subconscientes e posturas culturais estejam predispondo os investidores. Ou, a atenção dos ativistas em mulheres presidentes-executivas seja agora semelhante a ser tratado como um dos rapazes.

Quando eu abordei várias mulheres presidentes-executivas para obter suas opiniões, nenhuma quis discutir o assunto, nem mesmo em “off”. Elas sugeriram que as mulheres devem ser julgadas por seus méritos e não quiseram ingressar em qualquer narrativa de gênero.

Mesmo assim, uma presidente-executiva, antes de desligar rapidamente, disse: “Você pode estar no caminho certo”.

Andrew Ross Sorkin

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