(O Estado de S. Paulo) As medidas a serem adotadas nesse sentido abrangerão maiores subsídios para os pais que deixarem o trabalho para cuidar dos filhos e um tratamento preferencial para empresas “voltadas para a família” que tentam conseguir contratos de prestação de serviços para o governo. Esse é o teor do comunicado conjunto emitido por seis ministérios no início da semana.
Com uma população idosa que ameaça corroer o crescimento econômico da Coreia do Sul, a presidente Park, primeira mulher a ocupar a presidência do país, prometeu aumentar o nível de emprego das mulheres de 53,5% para 61,9%, antes do término do seu mandato em 2018. Cho Yoon Sun, ministra para a igualdade de gênero, vem trabalhando com grupos industriais familiares, os chamados ‘chaebol’, para tentar pôr fim a práticas de emprego dominadas pelos homens.
“A cultura em que o domínio é dos homens não vem mudando o suficiente e este é um grande obstáculo para as empresas implementarem tais medidas”, disse Lee Su Youn, que chefia o Korea Workingmom Institute, organização de pesquisa com sede em Seul. Em entrevistas no mês passado, a presidente afirmou que ajudar a mulher a equilibrar a vida familiar e de trabalho é um dos pontos “mais críticos” do seu programa de governo.
Horas flexíveis. Empresas com pelo menos 500 funcionários e com menos de 70% da mão de obra do sexo feminino numa média de três anos consecutivos serão identificadas publicamente, de acordo com o comunicado dos ministérios. Mais detalhes do programa serão divulgados em dezembro.
“Oferecendo um apoio político bem formulado a cada etapa dos ciclos de vida das mulheres, criaremos um país onde elas não precisarão deixar seu emprego por causa dos seus filhos ainda bebês”, afirmam no comunicado conjunto os ministros das Finanças, Igualdade de gênero, Educação, Previdência, Trabalho e Administração.
O governo incentivará horários flexíveis de trabalho, aumentará o número de creches e aprimorará os programas de requalificação mães que querem voltar a trabalhar. E planeja criar um banco de dados de 100 mil talentos femininos em 2017 para aumentar a igualdade de gênero nos escalões mais altos dos setores privado e público.
Crescimento. Embora o Banco da Coreia preveja uma expansão econômica de 3,8% este ano e 4% em 2015, os responsáveis pelas decisões políticas procuram se antecipar aos problemas demográficos que emperram o crescimento.
A população ativa da Coreia do Sul começará a declinar em 2018, de acordo com a OCDE – Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico. De acordo com relatório da organização apresentado à presidente Park no ano passado, a Coreia acrescentará um ponto porcentual ao seu crescimento se houver igualdade de emprego.
“A taxa de desemprego aumenta drasticamente entre mulheres com ensino superior e em cargos bem remunerados quando elas superam os 30 anos de idade”, disse Cho em entrevista concedida em Seul no dia 10 de janeiro. “A máxima prioridade é ajudar essas mulheres a não deixar seu emprego enquanto criam seus filhos.”
As mulheres representavam 37% da mão de obra nas companhias sul-coreanas, com pelo menos mil funcionárias no fim de 2012, mas apenas 17% ocupavam cargos de gerência em empresas privadas e públicas, segundo dados do ministério do Trabalho. Entre diretores, o desequilíbrio é ainda maior. As mulheres ocupavam 1% dos postos de diretoria em 2011, de acordo com estudo da McKinsey & Co. Em setembro do ano passado, a maior montadora do país tinha apenas uma mulher entre os 246 executivos da companhia.
Empresas com mais de 500 funcionários ou 300 mulheres trabalhando têm de manter uma creche perto do local de trabalho. Somente 40% das empresas respeitam esta norma e Cho deseja elevar o porcentual para 70% em 2017.
A própria ministra Cho teve dificuldades de encontrar alguém para cuidar dos filhos. “Em um mês tive até sete babás”, conta. Embora seu marido tentasse ajudar, ela ficou desesperada. “Como budista, pensei: não importa se na próxima reencarnação eu for um inseto, contanto que seja do sexo masculino.”
Acesse o PDF: Coreia vai denunciar empresa que não promove mulheres (O Estado de S. Paulo – 08/02/2014)