Ausência feminina na lista de melhores médicos de SP provoca reação

26 de abril, 2018

Maioria entre recém-formados e 45,6% dos médicos em atividade no país, médicas ficaram de fora da seleção de melhores especialistas médicos da cidade de São Paulo do Datafolha e publicada no último sábado (21). A lista foi feita por indicação dos próprios médicos. Mas a ausência delas causou debate nas redes sociais.

(Bol, 26/04/2018 – acesse no site de origem)

O levantamento, realizado a pedido da revista sãopaulo, do Grupo Folha, do qual faz parte o UOL e o Datafolha, foi baseado na indicação das maiores referências para 822 especialistas da capital. Ao final da pesquisa, foram eleitos 27 homens, mas nenhuma mulher.

De acordo com a análise da própria revista, o perfil dos eleitos é de homens, média de 69 anos, branco, com atuação em pesquisas, líder em associações médicas e também professor em escolas de medicina de renome.

Segundo o Datafolha, 66% dos entrevistados foram homens e 34% mulheres. O perfil dos entrevistados variou de acordo com a especialidade, segundo o instituto. Na ortopedia, por exemplo, elas eram 6% dos respondentes; 22% na cardiologia; 43% na ginecologia/obstetrícia; e 52% entre os pediatras.

Apesar da lista de excelência sem elas, o censo Demografia Médica no Brasil 2018, publicado em março deste ano pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), mostra que distância no número de médicos homens e mulheres diminui a cada ano. A conclusão dada pelo estudo é de que a área se torna cada vez mais feminina, seguindo uma tendência mundial.

Hoje, eles ainda são maioria, mas não líderes isolados: 54,4% dos 414.831 profissionais em atividade em 2017 no país são homens; elas, 45,6%. Médicas representam 57,4% dos profissionais da área com até 29 anos e 53,7% na faixa de 30 a 34 anos em todo o país, conforme revela o censo. Entre médicos com 65 a 69 anos, faixa que foi revelada como a favorita na capital, elas representam apenas 28,3%.

Segundo o Cremesp (Conselho Regional de Medicina de São Paulo), atualmente existem 34.830 médicas registradas somente na cidade de São Paulo, onde o levantamento foi feito. No estado, foram 62.318 registros.

Com a palavra, elas

A ausência de mulheres no ranking gerou críticas nas redes. “O que vejo é que entre os colegas é que há, sim, discriminação. Felizmente, não entre os pacientes”, diz uma médica que intitula cardiologista. “Isso desanima até a mim, que sou apaixonada pela profissão”, escreveu uma médica e pesquisadora.

Para Mariana Perroni, médica intensivista dos principais hospitais da capital paulista e também ativista médica influente na rede, o resultado é um “paradoxo” e demonstra ainda falta de reconhecimento.

“É uma classe historicamente de homens, mas nós já sequenciamos genomas, nos tornamos especialistas, somos a maioria dos novos médicos e ainda temos que discutir assuntos como falta de reconhecimento e de mulheres em cargo de liderança médica”, afirma. Ela diz presenciar um tratamento diferenciado desde a formação. “Na faculdade, já ouvi de professor: dobra essa gaze direito. Ele me disse ‘Como você quer se casar se não sabe dobrar uma gaze?'”, relembra.

A médica cardiologista Juliana Giorgi, que trabalha no hospital Sírio Libanês e é uma das únicas cardiologistas do país que domina a técnica da implantação do coração artificial, não se surpreende. Para ela, ainda há poucas mulheres em cargos de liderança em associações médicas.

“Acho que outro médico sempre acaba pensando em outro médico em primeiro lugar em vez de uma mulher. É uma bagagem cultural. Lembro que desde a época da faculdade eu tinha professoras que recebiam pouco destaque”, explica a doutora que, entre outros feitos, é membro de uma equipe que ajudou a modernizar o transplante artificial de coração no País.

A pesquisa

Em nota, o Datafolha diz: “Para a pesquisa, trabalhamos com listas de médicos da cidade de SP que o Datafolha possui. Os nomes dos entrevistados são sorteados, ou seja, a escolha é aleatória dentro do banco de nomes. O conteúdo da pesquisa pertence à Folha [do Grupo Folha, do qual faz parte o UOL] que ainda está trabalhando com esse material, por isso não disponibilizamos o conteúdo em nosso site”.

Marcos Candido

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