Coronavírus: como identificar o risco e se proteger da violência doméstica na quarentena

20 de abril, 2020

Com isolamento social imposto pela Covid-19, fatores de risco da violência doméstica se agravam; mulheres que se sentem ameaçadas podem adotar medidas para se proteger

(Celina/O Globo, 20/04/2020 –  acesse no site de origem)

isolamento social impõe a muitas mulheres uma realidade cruel. O convívio prolongado com seus parceiros dentro de casa pode representar um risco, especialmente em um contexto em que as preocupações e inseguranças trazidas pela pandemia de coronavírus podem elevar as tensões e os conflitos. Este cenário pode agravar ou ser o estopim para situações de violência doméstica.

violência contra a mulher acontece em casa, em momentos de convivência familiar. Segundo o Dossiê Mulher, do Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro, 59,4% das ocorrências registradas em 2018 ocorreram na residência das vítimas. Essa violência não se manifesta só nas agressões físicas ou no abuso sexual, mas passa também pelo abuso psicológico, pela violência moral e patrimonial.

À medida que o confinamento imposto pela pandemia de Covid-19 exacerba a violência de gênero nas famílias, especialistas também temem o aumento da subnotificação destes casos, uma vez que a restrição de circulação e a presença constante do agressor em casa pode impedir que muitas mulheres consigam buscar ajuda ou fazer uma denúncia.

 


 

Além de buscar orientações junto aos serviços de atendimento especializados, como a Defensoria Pública e o Disque 180, mulheres que se sentem ameaçadas ou já sofriam violência antes da pandemia podem tomar algumas medidas para se proteger neste período.

Veja algumas dicas elencadas pela juíza Adriana Mello, titular da vara de violência doméstica do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, pela diretora-executiva do Instituto Avon, Daniela Grelin, e pela promotora de Justiça Silvia Chakian, do Grupo de Atuação Especial de Enfrentamento à Violência Doméstica do Ministério Público de São Paulo.

1. Reconheça os sinais da violência

Em geral, violência doméstica não acontece de uma hora para outra. Ela se manifesta aos poucos e pode se agravar com o decorrer do tempo. Alguns sinais ajudam a identificar se há risco. Ela costuma começar pelo viés psicológico. O sinal de alerta deve ser ligado quando o parceiro demonstrar um comportamento controlador, tentando definir o que a companheira pode ou não fazer ou com quem pode ou não falar.

Ciúmes excessivo, piadas ofensivas, xingamentos, chantagens, humilhações públicas ou privadas, intimidações e ameaças são condutas que não devem ser ignoradas. Elas podem ganhar contornos mais sérios, avançando para ameaças de morte, e são sinais de que a mulher está numa situação de risco e precisa pedir ajuda.

As especialistas explicam que a violência doméstica se comporta em um ciclo, que tende a se repetir e se agravar. Ele se inicia com um acúmulo de tensão, parte para um episódio violento que pode ter a forma de uma discussão mais inflamada, um empurrão, uma ameaça e até mesmo uma agressão física. O período seguinte é o da “lua de mel”, em que o agressor pede desculpas e se mostra arrependido. E, então, o ciclo recomeça.

2. Tenha um plano de emergência

Identificada a situação de risco, trace um plano de emergência. Avalie as circunstâncias do seu caso e defina para onde pode ir, como e com quem falar em uma situação extrema. As especialistas aconselham a traçar uma rota de fuga da casa e deixar a mão os contatos a quem pode recorrer no momento de um ataque. Lembre-se que a polícia também pode ser acionada, pelo 190.

3. Deixe documentos em mãos e prepare uma mala

Deixe os seus documentos pessoais e dos filhos a mão, em um lugar fácil para você encontrar. Se possível, deixe preparada uma bolsa com roupas, itens de primeira necessidade e uma quantia em dinheiro, com recursos mínimos para poder sair de casa. Uma possibilidade é tentar manter uma muda de roupas na casa de alguém de confiança, caso não consiga organizar uma bolsa ou até mesmo buscá-la em um momento de fuga.

4. Fale com vizinhos e com pessoas de sua confiança

As especialistas aconselham que a mulher que está se sentindo ameaçada converse com familiares e amigos de confiança sobre a situação e deixe-os de sobreaviso. Também vale conversar com os vizinhos e pedir para que fiquem alertas e chamem a polícia em caso de ataque. Se não pode recorrer a alguém especificamente, busque ajuda nos serviços públicos de atendimento à mulher como a Casa da Mulher Brasileira, os centros especializados e a Defensoria Pública (veja mais abaixo).

5. Crie um sinal ou palavra de emergência

Vale criar com vizinhos, familiares ou amigos de confiança um código de comunicação ou socorro para acionar no momento de um ataque. Pode ser uma palavra-chave enviada por mensagem ou então algum sinal, como um lenço na janela ou um apito, que pode sinalizar que você precisa de ajuda naquele momento.

6. Informe funcionários do prédio sobre medidas protetivas

Se teve uma medida protetiva concedida na Justiça, informe os funcionários da portaria do prédio ou condomínio onde vive para que eles não permitam a entrada do agressor.

7. Busque ajuda nos serviços especializados

Caso esteja se sentindo ameaçada ou tenha dúvidas do que fazer, você pode pedir orientações no Ligue 180 ou nos serviços especializados da sua cidade, inclusive nas Defensorias Públicas dos estados, que costumam ter núcleos de atendimento à mulher.

O site do Mapa do Acolhimento e o aplicativo PenhaS são algumas das ferramentas ajudam a conectar mulheres aos serviços de atendimento mais próximos e tudo pode ser feito na palma da mão, no próprio celular. No Mapa do Acolhimento, as vítimas também podem receber orientação jurídica e psicológica gratuita.

Telefones e contatos úteis:

Polícia Militar: 190

Disque Denúncia: 180

Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro – NUDEM – No município do Rio, de segunda a sexta, das 11h às 18h, por telefone ou WhatsApp no (21) 97226-8267, ou por email: [email protected]. Informações: https://coronavirus.rj.def.br

CIAM Marcia Lyra – das 10h às 14h – Rua Regente Feijó, 15 – Centro – Rio de Janeiro/RJ – (21) 2332-7199 e 2332-7200

Por Leda Antunes

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