Eleonora Menicucci: ENEM “valeu muito mais que muitas campanhas” pelo fim da violência contra mulheres

27 de outubro, 2015

(Agência Patrícia Galvão, 27/10/2015) Para a secretária especial de Políticas para as Mulheres do governo federal, Eleonora Menicucci, o tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio deste ano (ENEM 2015) “valeu muito mais do que muitas campanhas para a capilaridade do debate”.

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Trecho da prova de redação do Enem 2015 reproduzido do portal G1.

Os inscritos tiveram de redigir em 30 linhas um texto sobre ‘a persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira’. Para subsidiar a redação, a prova forneceu dados do Balanço da Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180, do Portal Compromisso e Atitude pela Lei Maria da Penha, do Conselho Nacional de Justiça e do Departamento Penitenciário Nacional.

Leia mais: 
‘Temos o direto de viver sem violência e temos uma lei para isso’, diz Maria da Penha (Portal Brasil, 28/10/2015)
‘É importante a violência contra a mulher cair no Enem’, afirma Maria da Penha (O Estado de S. Paulo, 27/10/2015)
“Violência contra as mulheres é uma injustiça na sociedade brasileira”, diz ONG feminista (Portal Brasil, 27/10/2015)
6 dados que revelam a gravidade da violência contra a mulher no Brasil (Super Interessante, 27/10/2015)

Em entrevista à Agência Patrícia Galvão, Eleonora Menicucci destacou que “esses quase 8 milhões de jovens que fizeram a prova são futuros profissionais que atenderão mulheres, inclusive mulheres que sofrem violências, quando estiverem exercendo suas profissões. E tenho certeza que as jovens e os jovens entraram de um jeito para fazer a prova e saíram de outro, porque refletiram. E levaram essa reflexão para quase 8 milhões de famílias e para a sociedade inteira, que ontem só falava sobre a abordagem da violência contra as mulheres no Enem”.

Na opinião de Eleonora o efeito multiplicador do debate tem implicações para reduzir a tolerância social às violações aos direitos humanos das mulheres. “Como autoridade responsável no governo Federal por esta pauta, fico muito contente e considero que os elaboradores da prova e todo o grupo de profissionais técnicos do Enem foram muito felizes na escolha. Porque tira o tema da invisibilidade, de uma forma inédita, e faz com que atinja corações e mentes de toda a sociedade para não tolerar a violência. Além de informar, porque o detalhamento dos itens para ajudar na redação foi excelente: são os números, a Lei, a questão do feminicídio”.

Em relação às críticas de setores fundamentalistas de que teria havido ‘doutrinação’ ao pautar a questão, Eleonora foi enfática ao afirmar que discorda “radicalmente” e que a educação tem que incluir “a formação para a cidadania, e nisso não é ideológica, mas pedagógica”. A secretária ressaltou ainda que o primeiro escalão do governo federal não tem nenhuma ingerência na definição dos temas ou na elaboração das provas. “Nem nós nem o MEC temos acesso à formulação do Enem. Reveste-se ainda de mais importância a abordagem ao tema pelo anonimato de quem elabora”, disse.

Em entrevista à TV NBR, a ministra das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, Nilma Lino Gomes, destacou que a reflexão colocada pela prova para os mais de 7 milhões de jovens e adultos que participaram do exame “é uma forma de ajudar na superação, que nós lutamos tanto, dessa banalização da cultura da violência que ainda existe no Brasil”. A ministra Nilma ressaltou que a “questão da violência contra as mulheres e a questão de gênero não é só das mulheres, são questões nacionais, e por isso têm que ser discutidas e debatidas sem preconceito por todos nós que formamos a sociedade brasileira”.

Especialistas em educação e no estudo dos impactos sociais da violência contra as mulheres ouvidos por diversos veículos de comunicação também defenderam a escolha. O jornal O Globo destacou logo após a divulgação do tema da prova um comentário da professora de Redação do Colégio Objetivo. Ao jornal, Cida Custódio afirmava que foi uma das melhores escolhas de todas as edições do exame e que os estudantes foram preparados ao longo do ano para abordar tais questões, em razão da recente promulgação da Lei do Feminicídio, além do fato de muitos conhecerem de perto a violência contra mulheres, no interior de próprias suas famílias. Folha de S.Paulo, O Estado de S.Paulo (no caderno Metrópole e no blog Nossa Educação) e Correio Braziliense também publicaram análises sobre o tema.

Pesquisador do Núcleo de Apoio à Pesquisa em Etimologia e História da Língua Portuguesa da Universidade de São Paulo, o professor e jornalista Rodrigo Maia publicou em seu blog no Portal R7 que “o tema foi muito bom” porque “abriu a oportunidade de os alunos apresentarem medidas práticas relacionadas à lei que tipifica o feminicídio no Brasil”.

 

 

 

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