A igreja mexicana batiza uma criança filha de um casal de lésbicas

27 de maio, 2014

(El País, 27/05/2014) Sem saber, Natalia se converteu, no domingo passado, na primeira criança mexicana que recebe o batismo sendo filha de um casal de lésbicas. Ao menos no que conste à opinião pública, já que o padre encarregado de dar o sacramento, o vanguardista Raúl Vera, está convencido de que não é nem a primeira e nem a segunda vez que isso ocorre. “Onde eu vou, está a imprensa atrás. O que eu faço, estão as televisões, por isso se inteiraram”, diz entre risos durante uma conversa telefônica nesta terça-feira.

A cerimônia ocorreu no dia 25 de maio em uma igreja da cidade de Monclova, um município do norte do México, no Estado de Coahuila, de 216.000 habitantes. As mulheres tinham se casado na Cidade do México, onde a união homoafetiva regulamentada em 2007. O bispo de Saltillo foi unicamente à igreja de San Francisco de Assis para oficializar a cerimônia, porque não eram suas fiéis. “Tinha vários casais. Se encontro uma criança filha natural de uma das duas mulheres, como vou negar o batismo? Se os progenitores buscam a ele é porque há fé cristã”, explica. “Para realizar o batismo há uma preparação e nessas conversas ficam claros alguns valores. Já o disse o Papa: Quem sou eu para julgá-los” , parafraseia Vera.

Em julho de 2013, o papa Francisco surpreendeu o mundo ao expressar a sua opinião sobre a homossexualidade. As declarações, feitas a jornalistas na viagem de volta da sua visita ao Brasil, converteram-se nas mais transgressoras de um Papa na história da Igreja: “Se uma pessoa é gay e busca ao Senhor e tem boa vontade, quem sou eu para o julgar? O catecismo da Igreja católica explica de forma muito bela. Diz que não essas pessoas não devem ser marginalizadas por isso. Há que integrar na sociedade. O problema não é ter esta tendência. Devemos ser irmãos. O problema é fazer um lobby”.

Antes do México, e embora existam casos documentados na Espanha, a Argentina batizou também pela primeira vez em abril deste ano outra criança filha de um casal de mulheres. A imprensa local considerou o ato um “gesto de abertura da instituição que conduzida por Francisco”. Embora ausente da cerimônia, a madrinha foi a presidenta Cristina Kirchner.

Segundo declarações publicadas na imprensa, em setembro de 2012 Bergoglio pedia aos sacerdotes que não “vacinassem as crianças contra a fé” lhes impedindo de receber o batismo, por considerar que a rejeição afugentava os fiéis da Igreja, que sofre há anos de uma dramática queda de seguidores em todo o mundo.

Desde que foi eleito Papa em 2013, Francisco impulsionou um amplo debate sobre a família contemporânea e convocou duas sínodos (assembleias de bispos) em 2014 e 2015, onde poderiam ser abordados alguns dos temas mais polêmicos. Segundo comentou o bispo Vera, na última reunião com o Pontífice no Vaticano foram tratados alguns aspectos relevantes sobre a atenção a grupos vulneráveis, entre eles a comunidade LGBT.

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