A longa luta em favor da pessoa trans, por Julio Abramczyk

03 de março, 2018

Em 1971, Roberto Farina operou em São Paulo o primeiro transexual e construiu uma  neovagina

(Folha de S.Paulo, 03/03/2018 – acesse no site de origem)

STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu nesta quinta (1º) que pessoas transexuais podem mudar de nome e gênero em seus documentos, sem necessidade de cirurgia de mudança de sexo, avaliação médica ou psicológica.

Há 23 anos, no dia 2 de julho de 1995, o médico Roberto Farina, professor de Cirurgia Plástica na EPM/Unifesp, em artigo nesta Folha defendia projeto da Câmara Federal legalizando a cirurgia de redesignação sexual.

Explicava: a mulher transexual é um indivíduo de alma feminina em corpo masculino. Tem genitália masculina e cérebro feminino. Nem meio ambiente nem educação alteram essa realidade. Ele não se torna transexual, ela já nasce transexual.

Há 47 anos, em 1971, Farina operou em São Paulo o primeiro transexual, com ablação dos órgãos genitais e construção de neovagina. Quatro anos depois, a paciente solicitou retificação em seus documentos que, além de negada, resultou, para a época, em um escândalo.

O procedimento cirúrgico não era previsto em lei e o CFM (Conselho Federal de Medicina) acusou Farina de lesões corporais graves. Foi condenado, em 1978, a dois anos de reclusão em primeira instância, sendo absolvido um ano depois pelo Tribunal de Alçada Criminal.

Roberto Farina morreu em 2001 aos 85 anos. Em sua homenagem foi criado o TransUnifesp –Núcleo de Ensino, Pesquisas, Extensão e Assistência à Pessoa Trans Professor Roberto Farina.

Hoje, a Resolução 1955/2010 do CFM autoriza cirurgias de neovulvoplastia e neofaloplastia.

Julio Abramczyk é médico, faz parte do corpo clínico do Hospital Santa Catarina. Está na Folha desde 1960

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