Condenação de brasileiro na Irlanda gera debate sobre cultura do estupro

02 de novembro, 2016

Rafael Tiso, de 31 anos, foi sentenciado a 13 anos de prisão em regime fechado pelo estupro e a agressão de uma jovem em Dublin; entrevista postada na internet levanta questão sobre perfil de agressor

(O Estado de S. Paulo, 02/11/2016 – acesse no site de origem)

A notícia da condenação de um brasileiro a 13 anos de prisão na Irlanda está gerando discussão na internet. Segundo a imprensa local, Rafael Tiso, de 31 anos, foi preso após abusar sexualmente de uma jovem de 23 anos, que foi encontrada inconsciente com ferimentos graves. Na condenação, a juíza Isobel Kennedy afirmou que ele não apresentava remorso pelo crime, mas apenas pelas decorrências legais do que fez, o que inclui a proibição de permanência no país por dez anos após o cumprimento da sentença.

Leia mais: Brasileiro acusado de estupro é condenado a 14 anos de prisão na Irlanda (Correio Braziliense, 03/11/2016)

O debate on-line começou no Facebook, quando Ana Paula Freitas publicou um texto que resgata uma entrevista do brasileiro a um site de intercâmbio. No texto, ele dá dicas de viagem e relata interesse em fazer um curso para ajudar o pai na empresa da família. O caráter ordinário das respostas inspirou a usuária da rede social a discutir o estereótipo dos agressores. O caso mostra que um criminoso não precisa ter um comportamento agressivo no dia a dia para cometer o crime. Pode ter, como Tiso, um perfil “normal”.

Em 2015, Rafael Tiso relatou experiências na Irlanda para um site sobre intercâmbio

Em 2015, Rafael Tiso relatou experiências na Irlanda para um site sobre intercâmbio (Foto: Reprodução)

Publicado por volta do meio dia desta quarta-feira, 2, o texto teve mais de mil curtidas em um intervalo de quatro horas. Na postagem, a autora diz que a entrevista de Tiso “prova de que a cultura do estupro é uma coisa tão real que dói.”. “Quando um cara desse faz algo assim, logo todo mundo busca uma explicação. Porque ‘não pode ser que ele seja essa pessoa’. ‘Devia estar bêbado’. Pois bem, a explicação é: ele é essa pessoa. Ele de alguma forma pôs em prática tudo o que sempre lhe ensinaram na vida como homem de maneira velada: quando ela diz não, quer dizer sim; ela está bêbada, tá facinho, não se dá ao respeito… essas ladainhas todas”, explicou.

Segundo o portal de notícias The Independent, Rafael agrediu e abusou sexualmente de uma jovem de 23 anos nas imediações de uma boate em Dublin, capital da Irlanda, em 18 de janeiro deste ano. Imagens de uma câmera de monitoramento registraram o momento em que ele e um segurança ajudam a garota, que estava embriagada, a sair do local. O brasileiro então seguiu com a vítima por uma rua, próxima do local onde cometeu o crime. Após cerca de 40 minutos, ele regressou ao bar, onde permaneceu por mais uma hora e meia.

Nascido em Três Pontas, no sul de Minas Gerais, Rafael Tiso é administrador de empresas e tem um MBA em Mercado Financeiro. Há mais de um ano na Irlanda, não tinha antecedentes criminais e trabalhava como condutor de riquixá, espécie de veículo de três rodas movido a tração humana.

Crime. A vítima foi encontrada desacordada por um pedestre, que chamou a polícia. Ela estava deitada no chão, entre um caminhão e um carro, sobre uma poça de sangue e com ferimentos graves, e não lembrava do que tinha acontecido. No hospital, a garota foi submetida a uma cirurgia e foi informada de que não poderá ter filhos de forma natural e sofrerá outras consequências biológicas quando atingir a menopausa.

Na condenação, a juíza salientou que o abandono da vítima em grave estado de saúde foi um agravante para a pena. A magistrada decidiu, contudo, mudar a sentença de 14 para 13 anos sob a condição de que o brasileiro seja proibido de retornar à Irlanda dez anos após a soltura. Sobre os acontecimentos, a garota descreveu a noite do crime como “um episódio de uma série de horror” e que vai tentar apagá-lo da memória.

Em defesa, Rafael disse que se arrepende do que fez e que a relação teria sido consensual. Além disso, argumentou que teria se alimentado mal naquele dia e que não costumava ingerir bebidas alcoólicas em grande quantidade. Um relatório psicológico e cartas de ex-namoradas também foram apresentados para tentar comprovar que ele não costumava ter “atitudes sexualmente inapropriadas”. Ele alegou ainda que tomava medicamentos ansiolíticos por trabalhar muitas horas diariamente e viver longe da família.

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