A violência contra a mulher continua, por Regina Navarro Lins

07 de fevereiro, 2017

A maioria das pessoas que respondeu à enquete da semana não acredita que a violência contra as mulheres esteja diminuindo. E elas estão certas.

(UOL, 07/02/2017 – acesse no site de origem)

Conversei com Maria Gabriela Manssur, promotora de justiça, membro do Grupo de Atuação Especial de Enfrentamento à Violência Doméstica (GEVID) do Ministério Público do Estado de São Paulo e Diretora da Mulher da Associação Paulista do Ministério Público, que me disse:

“Não está diminuindo, pelo contrário. Mas há dois fatores: as mulheres estão se empoderando mais e os homens apresentam uma resistência por conta disso, o que gera violência. E também as mulheres estão denunciando mais. Então se olharmos pelos dados do sistema de justiça, o aumento é chocante. Em dois anos passamos de 700 para cinco mil casos registrados, só na Zona Leste de São Paulo. Quanto mais autonomia a mulher conquista, mais resistência ela tem dos homens e essa resistência, muitas vezes, se revela de forma violenta, física e psicológica. A violência aumentou também por conta das redes sociais, pela sensação de impunidade: crimes de ódio e de intolerância contra as mulheres. Somos o 5º país do mundo com mais violência contra a mulher. A cada hora e meia uma mulher morre no Brasil por conta da violência doméstica.”

A história da mulher é uma constante luta contra a opressão. Há cinco mil anos, as mulheres sofrem todo tipo de constrangimento. São humilhadas, menosprezadas, violentadas, escravizadas.

Numa relação, seja ela amorosa ou profissional, é comum haver discussões, afinal, quando não se está de acordo com alguém é possível argumentar, mesmo de forma veemente.

Na violência, acontece o contrário; o outro é impedido de se expressar, não existe diálogo. A violência busca sempre a dominação.

A psicanalista francesa Marie-France Hirigoyen estudou profundamente o tema. Ela diz que antes da primeira agressão física as mulheres devem cortar o mal pela raiz, reagindo à violência verbal e psicológica.

Para isso é essencial que elas aprendam a perceber os primeiros sinais de violência pra encontrar em si mesmas a força para sair de uma situação abusiva. Compreender por que se tolera um comportamento intolerável é também compreender como se pode sair dele.

Marie-France faz uma severa crítica aos psicanalistas que consideram que as mulheres que permanecem numa relação abusiva experimentam uma satisfação masoquista em ser objeto de sevícias.

“É preciso que esse discurso alienante cesse. Sem uma preparação psicológica destinada a submetê-la, mulher alguma aceitaria os abusos psicológicos e muito menos a violência física.”, diz ela.

O que as mulheres têm mais dificuldade de falar é sobre a violência sexual… e ela está muitas vezes presente.

A violência sexual é um meio de sujeitar o outro. Não tem nada a ver com o desejo; é simplesmente um modo de dizer: “Você me pertence”.

Não há necessidade do uso da força para subjugar uma pessoa – meios sutis, repetitivos, velados, podem ser empregados com igual eficácia.
Atos ou palavras desse tipo são muitas vezes mais perniciosos que uma agressão direta. Essa seria reconhecida como tal e levaria a uma reação de defesa.

Quanto mais graves e frequentes são as agressões, menos a mulher tem meios psicológicos de se defender.

A boa notícia é que as mulheres estão muito mais conscientes de seus direitos, mais mulheres jovens procuram a Justiça, independente da classe social. Elas não estão mais aceitando viver em uma situação de violência.

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