Em marcha, mulheres pedem fim do racismo e de ‘reformas genocidas’ de Temer

26 de julho, 2017

Negras, indígenas e brancas protestaram em São Paulo contra as ações do governo federal e as políticas higienistas do prefeito João Doria, que vão agravar a discriminação e reduzir o acesso a serviços

(Rede Brasil Atual, 26/07/2017 – acesse no site de origem)

As reformas trabalhista e da Previdência, o desmonte do Estado e o fim de políticas sociais do governo de Michel Temer (PMDB) – além  das ações higienistas e de privatização da cidade promovidas pela gestão João Doria (PSDB) – tendem a agravar o racismo, a violência, a desigualdade de oportunidades e de acesso a serviços para os mais pobres, especialmente negros e indígenas, historicamente marginalizados. A lógica perversa dessas “reformas genocidas” voltou a ser denunciada na noite desta terça-feira (26) durante a Marcha das Mulheres Negras de São Paulo, que reuniu mais de 5 mil participantes, em ampla maioria negras e indígenas, segundo a organização.

“A eleição da presidenta Dilma Rousseff  é um marco importante para as mulheres, mas o golpe contra ela, que é também machista e misógino, tirou o tempo que era necessário para a sequência de políticas afirmativas para mais oportunidades de acesso a melhores empregos, a vagas nas universidades e serviços públicos como um todo”, disse a dirigente do Sindicato dos Metroviários de São Paulo e integrante da União de Negros pela Igualdade (Unegro) Rosa Anacleto.

“Além disso, o fim de uma secretaria especial em prol da igualdade racial (Seppir) enfraqueceu a interlocução, praticamente acabou com a nossa participação na formulação de políticas e as medidas de um governo conservador podem levar ao aumento do racismo, sobretudo o institucional. Hoje muitas negras não vão ao posto de saúde porque são discriminadas e mal tratadas”, lembrou.

Rosa, que integra a organização da Marcha, apontou ainda a lentidão no avanço de políticas para as mulheres negras é muito lento no Brasil. e as empresas em geral são racistas. “Há 20 anos trabalhamos essa questão no Metrô, que é uma empresa racista. Praticamente não há negros entre os servidores. E todo ano falo a mesma coisa: as empresas sérias têm de ter ações de cumprimento a políticas afirmativas.”

Demarcação

O avanço de projetos no governo federal que modificam as regras de demarcação de terras indígenas ou facilitam a compra de grandes territórios inclusive por empresas estrangeiras, que deixam esses povos ainda mais à mercê de conflitos agrários, esteve entre as principais reivindicações de diversas etnias guaranis representadas no ato.

Evellyn Iva Amba Rokaju, moradora de aldeia Guarani, em Parelheiros, no extremo sul da capital, foi à marcha com seus familiares para chamar atenção para a importância da demarcação.

“Precisamos de nossas terras para morar, plantar, criar nossos filhos, para viver. Nossos alimentos e remédios estão na floresta. Por isso estamos aqui, para defender as demarcações, que correm risco com o atual governo”, disse.

Perseguição religiosa

O preconceito e perseguição às práticas religiosas também foram lembrados. Andreia Oliveira Iyawo de Yemoja, do terreiro CCRIA Ango Ilê Axé, destacou ameaças de propostas que pretendem criminalizar o já discriminado e incompreendido Candomblé. Espaço de agregação de negros separados de suas famílias na diáspora, os terreiros tornaram-se sinônimos de resistência da população negra e, mais recentemente, da comunidade LGBT, historicamente marginalizada assim como a negra.

“Mães e pais de santo têm esse nome devido ao seu papel de agregar populações que estão à margem, em defesa da ‘família preta’. A imolação de animais, que deve sempre ser reconhecida como parte integrante de rituais e festas, como no Natal dos cristãos, em que é tradicional comer aves e outras carnes, é alvo de projetos que querem proibir”, disse.

A manifestação, que uniu lideranças do movimento negro e estudantil, homenageou a líder quilombola Tereza de Benguela, que viveu no século 18, na região do atual estado de Mato Grosso. O Quilombo Quariterê chegou a abrigar mais de 100 pessoas, inclusive indígenas. E lembrou ainda mulheres vítimas de violência, como Luana Barbosa, espancada e assassinada por policiais militares em abril do ano passado, em Ribeirão Preto. O caso caiu no esquecimento sem a punição dos assassinos.

Pelo meio do caminho, homens, crianças, vendedores ambulantes e ciclistas se juntaram à passeata animada pelo batuque a dar ritmo às danças africanas e indígenas. Muita gente saiu às janelas e porta de bares para ver a passagem do cortejo, que desceu a Rua da Consolação em direção ao Largo do Paissandu, na região central, onde está o monumento em homenagem à Mãe Preta.

Cida de Oliveira

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