Jovens mulheres negras destacam os desafios de enfrentar o racismo no Brasil

12 de agosto, 2014

(ONU Mulheres, 12/08/2014) No Dia Internacional da Juventude, a ONU Brasil coloca em evidência o tema Juventude Negra contra o Racismo e pela Paz no contexto da Década Internacional dos Povos Afrodescendentes, que se iniciará em janeiro de 2015

Duas das 15 integrantes do programa Mulheres Jovens Líderes lançam seus olhares sobre os desafios de ser jovem negra e negro no Brasil. Neste Dia Internacional da Juventude, 12 de agosto, elas revelam suas opiniões sobre as desigualdades de raça e de gênero no país. Fazem parte de 51,3 milhões de jovens, que representam 26% da população brasileira.

Com o tema Juventude Negra contra o Racismo e pela Paz, o Dia Internacional da Juventude na ONU Brasil está dedicado à expressão da juventude negra por meio de grafite e debate. A ação coloca em evidência a Década Internacional dos Povos Afrodescendentes, que se estenderá de janeiro de 2015 a dezembro de 2024.

Para a jornalista Mia Lopes, de 25 anos, entre as principais preocupações das jovens negras estão o feminicídio e suas sequelas, a baixa ocupação nos espaços de poder e a “ridicularização da imagem das mulheres negras”. Diante da violência racial, Mia faz o alerta para “a morte simbólica das jovens negras, especialmente as abusadas sexualmente. E a morte simbólica das mulheres negras cujos filhos foram assassinados e ainda têm de conviver com a imagem escrachada dos filhos. São mortas em vida. Como conseguem estudar? Como conseguem trabalhar? ”, questiona. Ela é uma das participantes do programa Mulheres Jovens Líderes, realizado pela Secretaria Nacional da Juventude, ONU Mulheres e Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

Sintonizada com as principais preocupações da juventude brasileira (ver Agenda Jovem 2013) – segurança/violência, emprego/profissão e saúde estão entre as três questões com 24%, 19% e 7%, respectivamente -, Mia questiona as oportunidades de trabalho para as jovens negras. “Não conseguimos ainda um plano que nos possibilite outras carreiras e sair do subemprego. Muitas jovens ainda são baianas de acarajé, manicures, cabelereiras e vendedoras de lanche”, afirma sobre as realidades percebidas na Bahia e no Rio de Janeiro.

E coloca em destaque outra demanda juvenil, percebida como oportunidade para 27% da juventude: as possibilidades de estudo. “Temos vários programas de educação para jovens irem ao exterior, mas a juventude negra esbarra no idioma. Eu mesma me encaixo em vários perfis de seleção, mas a língua ainda é uma barreira”, aponta.

Outro tema positivo – liberdade de expressão alcança 21% entre os temas positivos para a juventude brasileira – também é questionado pela jovem jornalista sob o prisma do racismo e do sexismo. “Se a gente não se sente contemplada sobre a maneira como as mulheres negras são representadas, nós fazemos outros conteúdos. Antes a gente não se via na TV, ficávamos incomodadas e fazíamos fanzine. Agora, posso fazer vídeo sobre bordadeiras, sobre contadoras de histórias e minha mãe, por exemplo”. E completa: “as novas mídias são novos braços de conteúdo. Basta ver as blogueiras negras que escrevem e apoiam umas às outras”.

Mia Lopes é jornalista e tem 25 anos (crédito: ONU Mulheres)

Mia Lopes é jornalista e tem 25 anos (crédito: ONU Mulheres)

Antenada nas novas tecnologias, Mia ressalta a criação do aplicativo Clique 180, desenvolvido pela Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República (SPM-PR), ONU Mulheres e Embaixada do Reino Unido. “As novas mídias são braço de apoio e de defesa. Na Bahia, muitas mães querem que as filhas as ensinassem a gravar vídeos para documentar os maus-tratos de maridos e as brigas. O Clique 180 é um alerta”, finaliza Mia Lopes.

Territorialidade e ancestralidade – Quilombola do Jatimane (BA), a jovem Pedrina Belém do Rosário, 23 anos, segue na luta pela defesa das comunidades tradicionais. De acordo com a ativista, o racismo precisa ser enfrentado como ideologia, porque afeta identidade, saberes e capacidade de resistência.

“Sem isso o jovem não analisa e deixa que prevaleça o que o outro fale. O racismo está presente e forma conhecimento. A juventude precisa de oportunidades, ter novos olhares e conhecimento sobre si e o seu povo. Se não for assim, recebe tudo como algo normal”, afirma.

Pedrina Belém do Rosário, 23 anos, é quilombola e estudante de Letras (crédito: ONU Mulheres)

Pedrina Belém do Rosário, 23 anos, é quilombola e estudante de Letras (crédito: ONU Mulheres)

Vivendo numa comunidade quilombola litorânea e incrustada no sul da Bahia, Pedrina chama a atenção para a consciência negra. “A juventude quilombola tem de ter informação e formação política. Vejo que muitos não conhecem nem entendem o processo”, o que, segundo ela, fragiliza a preservação e a luta pelas terras ancestrais.

Década Afrodescendentes – A Década Internacional dos Povos Afrodescendentes foi criada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 2013, sob o lema “Pessoas afrodescendentes: reconhecimento, justiça e desenvolvimento”. Abrange o período de 1º de janeiro de 2015 a 31 de dezembro de 2024. Dá seguimento aos esforços dos Estados-Membros das Nações Unidas de enfrentar o racismo, a discriminação e o preconceito racial e tem como objetivo dar efetividade a compromissos internacionais contra o racismo, entre eles a Declaração e o Plano de Ação de Durban.

De acordo com a resolução de criação da Década Internacional dos Povos Afrodescendentes, “os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos e têm o potencial de contribuir construtivamente para o desenvolvimento e o bem-estar de suas sociedades, e que qualquer doutrina de superioridade racial é cientificamente falsa, moralmente condenável, socialmente injusta e perigosa e deve ser rejeitada, juntamente com teorias que tentam determinar a existência de raças humanas distintas”.

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