Pela Afirmação e Liberdade das Mulheres Negras

16 de novembro, 2015

(CEFEMEA, 16/11/2015) Somos um movimento feminista antirracista e anticapitalista. A nossa identidade política, os pensamentos e as práticas são construídos, sobretudo, pela presença, ativismo político e pensamento crítico das mulheres negras. Isso nos faz um movimento que reconhece as desigualdades entre as mulheres negras e não negras ao tempo em que fortalece nossa sororidade na luta feminista e antirracista.

Contribuímos no processo dinâmico e participativo da Marcha das Mulheres Negras Contra o Racismo e a Violência e pelo Bem Viver em todo país, por reconhecer a importância da luta das mulheres negras e para rearmarmos nosso compromisso com seu fortalecimento político contra as opressões e por direitos.

Leia mais:
“Não consigo emprego por causa do meu cabelo afro”; veja casos de racismo (UOL, 19/11/2015)
A presença colorida do feminismo negro, por Inês Castilho (Geledés, 17/11/2015)
Ativista do Borel faz chamado para a “Marcha das Mulheres Negras” (Brasil 247, 16/11/2015)
#MulheresNegrasInspiram: depoimentos contam a influência das mulheres negras na vida de outras mulheres (Agência Brasil, 16/11/2015)

Entre nós, as mulheres negras, seus espaços e pessoas de convivência são assolados pelas politicas econômicas recessivas dos governos. Tais políticas são estruturadas pelo racismo sexista, na medida em que favorecem os setores privilegiados, brancos, ricos e patriarcalistas. As negras são também as principais atingidas pelo conservadorismo, o familismo e os fundamentalismos nos parlamentos brasileiros. São também as mais vitimadas pela cultura do estupro e todas as formas de violência contra as mulheres, pelo descaso do Estado racista, reetido na violência policial, na criminalização, extermínio e encarceramento da pobreza, nas iniquidades da saúde, educação, segurança pública e saneamento, nas injustiças e racismo ambientais.

É nesse contexto que as mulheres negras se levantam em lutas, ecoando vozes do campo, das orestas, das águas e das cidades: quilombolas, camponesas, pescadoras e aquelas que fazem parte das inúmeras comunidades tradicionais pelo interior e metrópoles do país; as moradoras das grandes e das pequenas favelas, as trabalhadoras domésticas, as donas de casa, as moradoras de rua, as trabalhadoras urbanas, as artistas e intelectuais negras, as mulheres de terreiro com sua força ancestral mobilizadora, as juventudes negras, as prostitutas negras, as camelôs, as catadoras de recicláveis, as trabalhadoras informais precarizadas e todas as mulheres que experimentam no dia a dia, o racismo desde a condição de mulher negra.

Num momento histórico em que estamos sendo atacadas em nossos direitos fundamentais é importante reconhecer as mulheres trans como sujeito político, em especial as trans negras, sobre quem recaem o racismo, a misoginia e a transfobia.

Marchamos contra os projetos de leis misóginos e lesbo-trans-homofóbicos, levados a cabo por parlamentares racistas, moralistas, hipócritas e corruptos no Congresso Nacional. Contra as investidas dos ruralistas e das grandes corporações sobre os territórios ancestrais e contra a expansão capitalista, racista e segregadora nos centros urbanos. E, contra todos os retrocessos e formas de desqualicação e deslegitimação dos direitos humanos em geral e das mulheres negras.

Reconhecemos as mulheres negras como sujeitos que acumulam história de resistência desde que foram sequestradas do continente africano para serem escravizadas no Brasil. As fugas, a recusa às investidas do “senhor”, o financiamento da liberdade de outras pessoas escravizadas, a organização nos quilombos, nas irmandades e nas religiões de matriz africana, até a liderança em grupos, partidos políticos e movimentos sociais, são as marcas dessas resistências e muito nos inspiram.

A Marcha das Mulheres Negras 2015 é forte expressão dessa resistência ancestral, e nós estamos juntas contra o Racismo, a Violência e construindo o Bem viver.

Axé para todas!

Acesse no site de origem: Pela Afirmação e Liberdade das Mulheres Negras (CEFEMEA, 16/11/2015)

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